Em casa, atletas do CTE lutam para vencer o isolamento
Longe das competições, jovens recebem suporte técnico e psicológico da UFMG; atividades estão paralisadas há quase quatro meses
A pandemia de covid-19 tem trazido inúmeros prejuízos humanos, não só pelas vidas perdidas como também pelos projetos pessoais interrompidos e sonhos adiados. Desde 17 de março, o Centro de Treinamento Esportivo (CTE) da UFMG não recebe seus jovens atletas para atividades de preparação para competições oficiais. Ainda não há uma data definida para a retomada dos treinamentos.
A maior dificuldade encontrada pelos atletas para realizar os treinamentos em suas casas é a falta de equipamentos e espaço. No caso de Julia Victoria, 15, integrante da equipe de barreiras do CTE, a solução foi usar canos. “A falta de presença (física) do treinador também é algo que atrapalha muito. Nem sempre posso gravar os vídeos. Por isso, essa comunicação fica prejudicada”, conta a atleta.
Para Tiago Lemes, 24, membro da equipe de velocidade, a estrutura do CTE faz muita falta. Ele também se queixa da dificuldade de manter o foco. “O que me motiva são os vídeos de atletismo que vejo e estudo, isso me faz pensar muito. Fico triste por não competir e com certa insegurança em voltar praticamente muito perto das competições, porque todo atleta sabe como é quebrar o gelo da primeira disputa oficial da temporada”, explica Tiago.
A TV UFMG produziu um vídeo com imagens dos treinamentos realizados pelos atletas. A produção também reúne depoimentos dos jovens e de integrantes da equipe técnica do CTE.
Muitos atletas sonham com as competições que disputarão após a pandemia, e isso traz motivação. Luana Lopes, de 16 anos, da equipe de velocidade, não descuida de seu condicionamento físico. “Espero voltar firme e forte, com muitos objetivos. Pratico muitos treinamentos para chegar nas competições e dar o meu melhor. Precisamos mostrar que esse período sem atividades não é motivo para desistir dos nossos sonhos", defende.
Condicionamento e motivação
A volta aos treinamentos é um horizonte distante, como explica Leszek Szmuchrowski, coordenador geral do Centro. “Dependemos muito da política nacional e municipal. Essa abertura será dividida em várias etapas, não há data concreta. É importante viabilizar o mais rápido possível o treinamento nas pistas. O prejuízo é muito grande, perdemos todo o trabalho que vinha sendo feito”, lamenta.
As competições em âmbitos local, nacional e internacional estão suspensas por tempo indeterminado, o que influencia não só na parte física, mas também na psicológica. “Essa falta de calendário faz nosso foco recair sobre a manutenção do condicionamento físico e da motivação no esporte”, conta Roberto de Santis, treinador da equipe de velocidade e barreiras.
Acompanhamento digital
Roberto de Santis tem produzido vídeos para manter a concentração dos 22 atletas (com idades que variam de 14 a 25 anos) que comanda. O material é postado pelo treinador em seu perfil no Instagram. A supervisora de psicologia da equipe de atletismo do CTE, Flaviane Maia, vê com bons olhos a atitude do técnico. “Esse método mostra aos atletas que o treinador ainda se faz presente, apesar das dificuldades. Isso pode contornar problemas que aparecem no meio do caminho e contribuir expressivamente para a manutenção da qualidade da equipe”, explica.
O treinador tem usado os recursos para repassar, semanalmente, listas de exercícios para os jovens e acompanhar o rendimento das atividades. Os treinos destinam-se apenas ao condicionamento básico. No entanto, 20% de seus atletas não têm internet em casa, o que dificulta esse contato e, consequentemente, a rotina de treinamento.
O acompanhamento psicológico também tem sido realizado a distância. “Fazemos reuniões on-line com grupos de pais e com grupos de atletas, além de encontros individuais com os jovens quando eles próprios demandam", conta a psicóloga Flaviane Maia.
Segundo ela, as reações dos atletas podem variar bastante. "Alguns podem estar melhorando suas capacidades nas atuais condições. Outros podem estar na mesma forma de antes. Outros ainda podem estar se sentindo pior e experimentando retrocessos. É algo que varia de pessoa para pessoa”, explica. A especialista aconselha os atletas a ser sinceros e assumir quando não estão conseguindo acompanhar o ritmo dos treinos em casa, para que o técnico possa fazer as alterações necessárias.
Alimentação equilibrada
Outro fator que também exige cuidados especiais em tempos de isolamento social é alimentação. No CTE, são quatro nutricionistas e 12 estagiários (estudantes do curso de nutrição da UFMG) à disposição das equipes. Os atendimentos independem da idade e podem ser individuais ou em grupos.
A ansiedade e a mudança de hábitos influenciam a alimentação dos atletas em tempos de treinamentos suspensos. “Por não terem certeza de quando retornarão, muitos atletas relatam desmotivação. Isso é um sentimento comum entre eles. Para os nutricionistas, o maior desafio é conscientizar o jovem sobre a importância de manter a alimentação equilibrada para diminuir possíveis efeitos do destreino”, explica Marcos Zeng, coordenador da equipe de nutrição do CTE.
De acordo com Zeng, também é preciso estar atento às necessidades de planejamento nutricional, já que os atletas gastam menos energia em períodos em que a carga de treinos é menor. O nutricionista explica que o maior desafio é ajustar a oferta de alimentos às demandas atuais dos atletas, respeitando as necessidades afetivas e de bem-estar relacionadas à alimentação.
Os atletas têm recebido orientações nutricionais, por meio de reuniões e palestras por videoconferência, além de lives realizadas na rede social do CTE. Eles também mantêm um canal de comunicação direta com a equipe de nutrição, por meio de aplicativo, no qual consta o plano alimentar prescrito. Dúvidas podem ser tiradas por meio de um canal de troca de mensagens. Cada atleta atendido conta com um estagiário em nutrição diretamente responsável pelo seu acompanhamento.
O Centro de Treinamento Esportivo abriga 420 atletas de cinco modalidades: taekwondo, judô, natação, atletismo e triatlon. A preparação começou no ano passado, já que grande parte das competições estava programada para os meses de abril e maio.