Em congresso na UFABC, Sandra Goulart defende mobilidade inclusiva
Saídas para os desafios impostos pela pandemia foram abordadas em evento com participação de professores alemão e da UFPE
Caracterizada pela virtualização das relações e pelo recolhimento social, a atual pandemia lança novos e inéditos desafios para a mobilidade internacional universitária. Contudo, permanece como o desafio central, também nestes novos tempos, a necessidade de se possibilitar que esse benefício formativo alcance os estudantes mais pobres, vindos da escola pública.
Esse foi o ponto central da exposição que a reitora Sandra Regina Goulart Almeida fez na tarde de terça-feira, 15, na mesa Desafios da mobilidade internacional no contexto de pandemia e de pós-pandemia, no âmbito do 2º Congresso UFABC, que segue até sexta-feira, 18, com programação exclusivamente virtual.
Sandra Goulart dividiu a mesa com Maria Leonor Alves Maia, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e presidente da Associação Brasileira de Educação Internacional (Faubai), que lembrou o baixo índice de mobilidade acadêmica no Brasil (“não chegam a 2% os estudantes brasileiros que têm a oportunidade de sair do país durante o seu curso”), e Stephan Hollensteiner, da University Alliance Metropolis Ruhr (UAMR), da Alemanha, que ressaltou que a atual crise é a primeira da vida da maior parte dos atuais graduandos de quase todos os países. “Se pensarmos que esses alunos têm 20 anos em média, veremos que essa é a primeira grande crise nas relações humanas, profissionais e de formação de sua geração. E sabemos que essa geração tem mais dificuldade de lidar com momentos de crise como o atual”, refletiu.
Com base nesse cenário, os palestrantes discutiram os caminhos que a mobilidade internacional universitária poderá trilhar no âmbito da atual pandemia, na medida em que a sua superação em curto prazo, como se supunha no início da crise, vai dando sinais de ser improvável. Sandra Almeida destacou de saída que, “quando falamos em mobilidade, é importante que pensemos em mobilidade em todos os níveis: graduação, pós-graduação, docentes, servidores”. E, pensando nesses diversos públicos, lembrou a importância de as universidades se atentarem para os princípios de reciprocidade, de multilateralidade e de solidariedade também nos novos formatos de cooperação internacional que se venham a instaurar.
Mobilidade não pode ser excludente
“Viemos de um contexto muito importante de inclusão nas universidades públicas brasileiras. Hoje, 56% dos estudantes que chegam à UFMG são da educação pública. Contudo, esses estudantes ingressam na universidade sem experiência internacional”, disse a reitora, lembrando ainda a defasagem formativa básica desses jovens, que, em geral, também não contam com proficiência em língua estrangeira, o que dificulta a conquista de vagas para mobilidade. “Não podemos perder esses estudantes de vista, sob o risco de as experiências de mobilidade internacional das nossas instituições serem mais um fator de exclusão para essa população”, demarcou.
A reitora avançou na reflexão. “Quando tratamos de mobilidade virtual, essa questão [a exclusão socioeconômica e do acesso, da inclusão e da permanência estudantil] permanece e é agravada pela questão de acesso digital, que é seríssima no Brasil”, disse. “É importante que haja um projeto institucional de apoio às políticas de acesso, inclusão e permanência também no campo internacional. Caso contrário, apenas perpetuaremos uma situação de exclusão social já colocada”, afirmou.
Novas lentes
Os gestores também abordaram conceitos como os de “mobilidade virtual”, “internacionalização em casa” e “intercâmbio virtual”. “É hora de começar a pensar para além do contexto emergencial”, disse Maria Leonor, tendo em vista que o contexto pandêmico deve perdurar por mais tempo. “Podemos olhar essa situação com novas lentes e novas perspectivas e reimaginar a internacionalização da educação adaptada a esse novo contexto”, disse.
“A pandemia gerou um efeito disruptivo, não linear [nos processos educacionais e modos existenciais em curso]”, completou Stephan Hollensteiner. “Em momentos de crise, é preciso ressuscitar a criatividade e a inovação", pregou.
As conversas da mesa Desafios da mobilidade internacional no contexto de pandemia e de pós-pandemia foram mediadas pelo professor Dalmo Mandelli, da Universidade Federal do ABC (UFABC). O 2º Congresso UFABC (edição virtual), que começou no dia 17 de agosto, segue até o fim desta semana com programação integralmente dedicada à discussão dos múltiplos impactos e dilemas da pandemia nas esferas local e regional. A programação está disponível na internet e para acesso assíncrono.