Institucional

‘Eméritos são professores especiais’, diz reitor para docentes da Escola de Veterinária

Rômulo Cerqueira Leite e Vera Alvarenga Nunes entre a vice-diretora Sandra Gesteira Coelho e o diretor Renato Lima Santos
Rômulo Cerqueira Leite e Vera Alvarenga Nunes entre a vice-diretora Sandra Gesteira Coelho e o diretor Renato Lima Santos Foto: Foca Lisboa / UFMG

Os professores Rômulo Cerqueira Leite e Vera Alvarenga Nunes, da Escola de Veterinária, se incorporaram na noite desta quinta-feira, dia 9, a um restrito grupo de docentes da Unidade – formado por 11 pessoas – agraciados com o título de professor emérito da UFMG. A cerimônia, realizada no auditório da Reitoria, marcou a abertura das comemorações dos 85 anos da Escola de Veterinária, que serão celebrados ao longo de 2017 com programação que inclui congressos, lançamento de livro e um ciclo de palestras.

Jaime Ramírez parabeniza os professores eméritos
Jaime Ramírez parabeniza os professores eméritos Foto: Foca Lisboa / UFMG
Renato Lima Santos
Renato Lima Santos Foto: Foca Lisboa / UFMG

Durante a cerimônia, o reitor Jaime Ramírez discorreu sobre o sentido da homenagem e sua relação com o ofício de professor. “Entre as muitas homenagens conferidas a um docente, o título do qual ele mais se orgulha é o de professor. É assim que ele quer ser reconhecido, tratado e respeitado. Rômulo e Vera, vocês são professores especiais, porque são eméritos, respeitados pela comunidade da Escola de Veterinária e agora por toda a UFMG, que tem como um dos seus valores fundacionais o reconhecimento ao mérito acadêmico”, saudou ele, lembrando, ainda, que a trajetória dos dois “extravasou – e muito – os limites da UFMG”.

“A expressão ‘morrer de alegria’ é falsa. Caso contrário, a essa altura eu estaria morto”, brincou o diretor Renato de Lima Santos, ao expressar sua felicidade durante a cerimônia. Ele se referiu à Escola de Veterinária como uma “jovem senhora”, pois é uma das três mais antigas do Brasil. “No entanto, na comparação com as congêneres francesas, que têm mais de 250 anos, ela é apenas uma adolescente, uma jovem que olha para o futuro, com infinita motivação para se renovar e avançar.”

Lima Santos classificou de “justíssimo merecimento” a escolha dos novos eméritos da Escola de Veternária. Sobre o professor Rômulo, disse se tratar de “importante referência” na área de saúde animal. E dedicou uma menção afetuosa à professora Vera Alvarenga. “Ela foi ‘a’ minha professora [enfatizando o artigo definido] e me concedeu uma bolsa de iniciação científica quando estudava na graduação. É dela boa parte da responsabilidade por eu estar aqui hoje”, reconheceu.

Saudações
As professoras Rogéria Serakides e Zélia Inês Portela Lobato foram encarregadas pela Congregação da Unidade de saudar os dois homenageados. Dirigindo-se a Vera Alvarenga, a professora Rogéria relatou que teria dificuldades para descrever os feitos da nova emérita e pediu desculpas antecipadas por “não retratar satisfatoriamente a sua trajetória”. Ela qualificou a homenageada como “um ser humano especial” e dotada de “talento administrativo, generosidade e capacidade de reflexão”, além de apreciadora de desafios.

Vera Alvarenga: pioneirismo
Vera Alvarenga: pioneirismo Foto: Foca Lisboa / UFMG

A trajetória pioneira de Vera, a primeira professora titular e primeira emérita da Unidade, também foi destacada por Rogéria. Segundo ela, Vera Alvarenga é uma referência nacional em doenças ósseas, o que fez da Escola de Veterinária um dos poucos centros no país a desenvolver pesquisas nessa área, e autora do projeto de criação da Residência Médica Veterinária, em 1998. “Ela foi líder, apontou caminhos e identificou talentos. Sua gênese continua lá [na Escola de Veterinária]. A senhora marcou época e nunca será esquecida”, afirmou.

Embora encarregada de fazer a saudação ao outro homenageado da noite, Rômulo Cerqueira Leite, a professora Zélia Inês Portela Lobato também enalteceu Vera Alvarenga. “Ela foi uma marcante liderança feminina em uma época em que poucas mulheres tinham destaque na instituição”, destacou.

Em relação a Cerqueira Leite, a professora Zélia Lobato relembrou a aula de despedida do agora emérito, na sala B101 do prédio da Escola de Veterinária, em 2013, pouco antes de ser aposentado compulsoriamente. “Fui tomada por um incontrolável espírito de nostalgia e retornei à primeira aula a que assisti dele, quando cursava o sexto período na graduação ”, disse Zélia, relatando que, sempre de jaleco branco e mangas compridas, Cerqueira Leite ministrava “aulas coloridas por sua experiência prática”.

“Graças ao professor Rômulo”, revelou Zélia, “não consegui escapar da magia da virologia”, que se tornou um de seus campos de pesquisa. Ainda de acordo com ela, o novo emérito é dono de “personalidade singular e de uma persistência quase obsessiva”. E definiu a relação do colega com a Universidade em uma única palavra – "institucional, ele sempre vestiu a camisa da Escola”. A amiga também reverenciou Sueli, esposa do professor, que “adotou todos os alunos do professor como filhos”.

Clima familiar
Boa parte do discurso da professora Vera Alvarenga Nunes foi marcada por agradecimentos. Lembrou-se do marido Hilton, “companheiro e crítico”, dos filhos Hugo e Hélio, dos colegas professores, dos alunos e dos servidores técnico-administrativos, incluindo as secretárias com quem trabalhou. Ela também destacou o clima familiar que encontrou na Escola quando lá pisou pela primeira vez, nos anos 1960: “Era só uma menina e de imediato percebi que naquele ambiente havia uma convivência fraterna e respeitosa".

Graduada em 1967, Vera mudou-se logo depois para Brasília para, junto com pesquisadores de várias partes do país, ajudar a estruturar o departamento de pesquisa em saúde animal. Retornou em 1973 para o mestrado e nunca mais se desvinculou da Escola. “A família fez questão de me receber novamente”, disse.

Em seu discurso, Rômulo Cerqueira Leite relembrou sua infância em Santo Antônio de Pádua, no Norte fluminense, quase divisa com Minas Gerais. De família pobre, foi criado com 13 irmãos. “Desde cedo, aprendi a repartir”, disse ele. O professor, que estudou medicina veterinária na Universidade Rural do Brasil (hoje Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), mas só conseguiu concluir a graduação na Federal Fluminense (UFF), citou mestres e referências, agradeceu à família – “base e esteio do meu sucesso" –, rememorou suas passagens por órgãos e laboratórios fora da UFMG e apresentou breve explanação sobre o que pensa do papel do professor.

“Professor é o líder que estimula os alunos a pensar. Professor não transfere conhecimento”, disse ele. E concluiu dizendo que, dentre todas as homenagens que recebeu em sua vida, a da noite de ontem foi a mais significativa: “Percebo que o propósito de guiar os meus alunos e contribuir para a sua formação foi coroado com esse título”.

Rômulo Cerqueira Leite: aulas coloridas por sua experiência prática
Rômulo Cerqueira Leite: aulas coloridas por sua experiência prática Foto: Foca Lisboa / UFMG

Contribuição e história
A cerimônia reuniu autoridades acadêmicas e governamentais, incluindo o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Pedro Cláudio Coutinho Leitão, que destacou a contribuição da Escola de Veterinária para a erradicação da febre aftosa e da peste suína no estado.

Um panorama histórico da Unidade foi traçado no evento pelo professor Francisco de Faria Lobato, que analisou os seus principais marcos, como o período inicial, com o funcionamento, em Viçosa, do antigo curso superior de veterinária na Escola Superior de Agricultura do Estado de Minas Gerais (1932-1942), a transferência para Belo Horizonte ainda nos anos 1940 e sua instalação definitiva no campus Pampulha, em 1974.

Cerimônia foi prestigiada pela comunidade da UFMG e por autoridades da área de medicina veterinária
Cerimônia foi prestigiada pela comunidade da UFMG e por autoridades da área de medicina veterinária Foto: Foca Lisboa / UFMG