Arte e Cultura

Escritor apresenta livro sobre desaparecidos na ditadura argentina

Obra focaliza a trajetória de 11 torcedores do Racing, popular clube de futebol do país

Obra mostra relação entre futebol e política em um regime ditatorial
Obra mostra relação entre futebol e política em um regime ditatorial Reprodução Facebook do livro

Durante a ditadura que vigorou na Argentina nos anos 1970 e 1980, estima-se que 30 mil pessoas tenham desaparecido. Em escala menor, essa história de terror é contada no livro Los desaparecidos de Racing, do escritor argentino Julián Scher, que tem como fio condutor a biografia de 11 torcedores do Racing, clube de futebol sediado em Avellaneda, em Buenos Aires. Eles foram sequestrados e mortos pelo regime. Nesta segunda-feira, 21, o autor vai discorrer sobre sua obra na UFMG, em evento agendado para 17h30, no auditório Carangola da Fafich, no campus Pampulha.

De acordo com Scher, a investigação que resultou em Los desaparecidos de Racing durou cerca de dois anos. “Não há precedentes sobre um material jornalístico-sociológico que relaciona um clube de futebol ao genocídio que a Argentina sofreu entre 1976 e 1983. O livro recupera as biografias de 11 torcedores desaparecidos a partir de dois eixos principais: a paixão pelo Racing e a paixão pela política”, descreve Júlian Scher.

Com base em testemunhos de amigos, familiares e colegas de cada um desses indivíduos, a obra busca trazer à tona "momentos felizes vivenciados por eles, e não apenas o horror genocida". “O futebol, que tanto na Argentina quanto no Brasil representa uma identidade emocional tremendamente poderosa para milhões de pessoas, pode ser uma boa ferramenta para que mais pessoas saibam o que aconteceu e suas implicações no presente”, argumenta o autor.

Plataformas de terror
Julián Scher recorre à teoria do sociólogo Daniel Feierstein para definir o genocídio como “uma tecnologia de poder que visa, por meio de múltiplas plataformas de terror, transformar uma sociedade”. Para o escritor, isso se dá pela destruição das relações sociais baseadas na cooperação, na solidariedade e na capacidade de resistir a uma ordem social injusta.

“As histórias das vítimas desse plano sistemático de extermínio tendem a ser varridas do planeta. O livro tenta recuperar aquilo que seria apagado e mostra que futebol e política são atividades vitais da condição humana”, comenta Scher.

Julián Scher é licenciado em Sociologia pela Universidade de Buenos Aires e mestrando em Ciências Políticas e Sociologia na Facultade Latinoamericana de Ciências Sociais (Flacso).

A atividade reunirá representantes de dois núcleos de estudos  da UFMG dedicados ao futebol – FuLia e GeFut – e  do núcleo de língua espanhola do Centro Acadêmico de Ciências Sociais (Cacs) da UFMG.