Arte e Cultura

Estudantes indígenas da UFMG realizam marcha pela educação no campus Pampulha

Ato destacou também a importância do reconhecimento da Universidade como, segundo os participantes, "território indígena"

Marcha foi encerrada com uma celebração na Praça de Serviços, no início da tarde
Marcha foi encerrada com celebração na Praça de Serviços, no início da tarde Foto: Raphaella Dias | UFMG

Os estudantes indígenas da UFMG realizaram nesta terça-feira, 19 de abril, uma marcha pela educação no campus Pampulha, em Belo Horizonte. A marcha teve por mote Levante pela educação, território indígena UFMG, que une duas ideias caras à comunidade indígena da Universidade: de um lado, o direito à educação, de outro, a importância do reconhecimento da Universidade como um “território indígena”. Dezenove de abril é o dia em que se celebram os povos indígenas no Brasil.

A concentração ocorreu no Bosque da Música, com a pintura de um totem com grafismos das diferentes etnias presentes no encontro, que também marcou o primeiro contato de muitos calouros com os veteranos. Em seguida, os estudantes partiram para a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), de onde seguiram até a Praça de Serviços. Lá, entre celebrações, lideranças indígenas falaram à comunidade universitária.

Antes, no início do evento, era possível ver, entre os alunos, uma muda de jenipapeiro, árvore importante para os indígenas em diferentes frentes (em guarani, jenipapo significaria “fruta que serve para pintar”; a fruta é usada para produzir a tinta usada nas suas pinturas corporais). Em outubro, passado o período da seca, essa muda será plantada no Bosque da Música como um marco da presença dos indígenas no corpo discente da Universidade. Até lá, o totem pintado com grafismos marcará o local do futuro plantio.

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Deolindo (Ybymembyra) e Fabrício (Ka’yra), calouros potiguara dos cursos de antropologia e ciências sociaisFoto: Raphaella Dias | UFMG

Por um território (cada vez mais) indígena
“A experiência em Belo Horizonte está sendo muito boa, mas, ao mesmo tempo, é uma responsabilidade muito grande”, disse Fabrício Silva do Nascimento, 18, potiguara cujo nome indígena, Ka’yra, significa “filho da mata”. “É uma responsabilidade porque sinto que estou dando voz ao meu povo, voz e autonomia. A gente está aqui representando o nosso povo, a nossa aldeia”, disse.

Daniely Fleury, diretora de Políticas de Ações Afirmativas
Daniely Fleury, diretora de Políticas de Ações Afirmativas Foto: Raphaella Dias | UFMG

Fabrício é calouro do curso de Antropologia. Ele relatou que teve um choque cultural. “Em minha aldeia, na Paraíba, a gente vive uma cultura [específica]. Já aqui, na cidade, é outra coisa, é muito diferente. Então há esse choque cultural – mas que é interessante, para a gente levar para a nossa aldeia os aprendizados não só na vida acadêmica, mas também em nosso dia a dia”, disse.

“Eu sou da São Miguel, ele é da São Francisco”, explicou o também potiguara Deolindo Faustino da Silva, 26, ao ser perguntado se ele e Fabrício eram da mesma aldeia na Paraíba. Deolindo – cujo nome em tupi antigo, Ybymembyra, significa “filho da terra” – é calouro do curso de Ciências Sociais e também acaba de chegar na cidade. “Chegamos há menos de um mês, no finalzinho de março.”

“Xakriabá, Pataxó, Atikum, Pankararu, Tikuna, Kaxixó, Macuxi: essas são algumas das etnias que já estão contempladas aqui”, ainda disse Deolindo, enumerando os que iam chegando para a marcha. O calouro contou que no último domingo essas e outras etnias se reuniram na moradia da UFMG para um “Encontro dos cantos”. “Nesse encontro todos mostramos aspectos das nossas culturas”, lembrou.

“Esse é um momento de representação e reconhecimento da presença indígena na UFMG”, disse Daniely Fleury, diretora de Políticas de Ações Afirmativas da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (Prae), vendo a marcha se preparar para sair. “E essa é uma presença particularmente importante, porque ela plurifica a nossa comunidade e nos traz diferentes saberes – inclusive para que a UFMG possa se repensar como Universidade”, demarcou.

Acima, é possível conferir a reportagem que a TV UFMG fez da Marcha pela Educação do Abril Indígena na UFMG, em que são entrevistados vários estudantes indígenas da Universidade. E, abaixo, na galeria a seguir, estão reunidas algumas fotos do evento. Para visualizá-las, clique na imagem e arraste.

Abril indígena UFMG

Ewerton Martins Ribeiro