Pesquisa e Inovação

Expedições de pesquisa brasileiras à Antártica são suspensas por conta da pandemia

Luiz Henrique Rosa, professor do ICB e um dos pesquisadores da UFMG que desenvolve trabalhos no âmbito do Proantar, comentou os impactos dessa suspensão, em entrevista ao programa Conexões

Estação Antártica Comandante Ferraz recebe pesquisadores brasileiros
Estação Antártica Comandante Ferraz recebe pesquisadores brasileiros Divulgação MycoAntar / UFMG

O Brasil não vai mandar pesquisadores para a Antártica no próximo verão, de outubro de 2020 a março de 2021. A notícia foi divulgada nessa segunda-feira, 13, pelos cientistas do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), mantido pelo governo federal. O motivo da decisão é a pandemia provocada pelo novo coronavírus. A ideia é contribuir para manter a covid-19 longe do continente, o único sem registro da doença. 

Segundo os cientistas, as pesquisas de campo não apenas colocariam em risco a saúde dos pesquisadores e do pessoal de apoio, como também tornariam possível a transmissão do vírus para espécies da fauna antártica. A estação brasileira Comandante Ferraz costuma receber cientistas todos os anos, entres os meses de outubro e março. Esta é a primeira vez que o Brasil não vai realizar pesquisas de campo desde a criação do Proantar, em 1982. 

O professor Luiz Henrique Rosa, do Departamento de Microbiologia da UFMG e coordenador de projetos em andamento na Antártica, explicou, em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, que os deslocamentos até o continente, em ambientes que geram confinamento, ajudaram na tomada da decisão.

“Além do frio que a gente encontra por lá, mesmo trabalhando no verão, que faz com que a gente tenha que trabalhar confinado. Com isso, as condições para propagação do coronavírus na estação são altas, sendo necessário esse cuidado”, afirmou.

O cancelamento é apenas da atividade presencial, de campo, uma vez que as pesquisas seguem com todo o material já coletado em outras viagens, de acordo com o professor Luiz Rosa. Por isso mesmo, segundo ele, o prejuízo para as pesquisas não será tão alto. 

“É interessante voltar ao continente para acessar áreas que ainda não acessamos, mas a maior parte dos pesquisadores tem material para trabalhar neste ano”, explicou.

Ouça a conversa com Luíza Glória

A expectativa dos cientistas brasileiros é de que as pesquisa de campo na Antártica sejam retomadas no verão de 2021 a 2022. 

Além do Brasil, outros países também anunciaram o cancelamento da maior parte ou da totalidade das expedições científicas programadas para o próximo verão na Antártica. Outros cientistas vinculados ao Proantar já mencionaram que o continente não tem Unidades de Terapia Intensiva e que a estadia na região costuma provocar alterações na resposta imunológica humana. 

Apesar do cancelamento da ida de cientistas brasileiros para a Antártica, a Estação Comandante Ferraz não ficará vazia. Um grupo de militares da Marinha Brasileira está na base desde março. Segundo a médica Rosa Maria Esteves Arantes, professora do ICB que coordena um projeto de pesquisa vinculado ao Proantar, a equipe vai ser substituída por outra no final de 2020. Para que a troca ocorra com segurança, serão necessários testes e medidas rigorosas de isolamento dos militares que partirão do Brasil. 

Produção de Tiago de Holanda