Arte e Cultura

Festival de música universitária valoriza produção autoral de artistas da UFMG

Segunda edição do AMU ocorre nesta quinta-feira, a partir das 16h, na Praça de Serviços

Com o tema Contragolpe, que reafirma a importância da área artística e musical em um cenário de falta de incentivo e de corte de gastos, a edição de 2022 do Festival Autoral de Música Universitária (AMU) da UFMG ocorre nesta quinta-feira, dia 15, na Praça de Serviços. O pop, a MPB, o rock’n roll, a música instrumental e os mais diversos estilos musicais se reúnem em uma sequência de apresentações com início às 16h. 

O festival é resultado dos trabalhos do Laboratório de Produção Musical, projeto de extensão do Departamento de Instrumentos e Canto da Escola de Música, e envolve a participação dos estudantes das disciplinas de Produção musical II e Gravação II. O objetivo do projeto é dar visibilidade às músicas autorais e à produção cultural universitária. Como explica Max Akerman, produtor da edição de 2022 e graduando em Música Popular, “temos uma produção muito grande, mas ela não é escoada na mesma medida em que é produzida”.

Festival AMU reúne artistas universitários iniciantes a músicos mais conhecidos entre o público belo-horizontino
Festival AMU reúne de artistas universitários iniciantes a músicos mais conhecidos do público belo-horizontino Acervo do evento

A edição deste ano conta com cinco atrações: quatro projetos selecionados por edital e um projeto convidado. Entre eles, bandas, duos e músicos em carreira solo, que se apresentam com acompanhamento de banda. Os ritmos dançantes se combinam a sons mais introspectivos em uma atmosfera que promove artistas que estão despontando na cena de Belo Horizonte, iniciando seus trabalhos ou, ainda, que já são mais conhecidos do público da cidade. 

Foram três as categorias avaliadas na seleção – performance, arranjo e originalidade –, com atribuição de notas de zero a dez. Os curadores analisaram, ainda, o vínculo universitário dos inscritos e os chamados riders técnicos, ou seja, as demandas definidas pelos artistas como necessárias às suas apresentações. "Sabemos que este ano não foi muito fácil para as instituições públicas, principalmente para as universidades. Tivemos uma estrutura um pouco menor à nossa disposição. Assim, foram priorizados os riders técnicos mais simples, para que o festival pudesse ser viabilizado", justifica Max.

Processos desafiadores
Segundo Laura Souza, também produtora do festival e graduanda em Música, o corte de gastos é um dos fatores que desafiam a organização de um evento desse porte. "Se a universidade não tem recurso, a gente também fica limitado”, explica. Os estudantes das disciplinas, obrigatórias na grade do curso de Música Popular, são os responsáveis pelos processos de construção do festival – o trabalho voluntário abrange elaboração do edital, curadoria, pré-produção, divulgação, cenografia, montagem e pós-produção.  

Laura Souza: produção dinâmica
Laura Souza: produção dinâmica Foto: Kika Antunes

“Na produção, primeiro verificamos as demandas, depois procuramos local, entendemos qual material vamos precisar, fazemos a curadoria das bandas, cuidamos da alimentação e do camarim, dos parceiros que estarão lá, da estrutura e até mesmo do transporte. É uma produção dinâmica”, afirma Laura. As apresentações também têm caráter voluntário, e os artistas recebem, ao final, materiais de gravação de áudio e vídeo, feitos pelos estudantes, com participação do professor Pedro Aspahan, do curso de Cinema de Animação da Escola de Belas Artes.

Para Max Akerman, a produção é, por si só, um desafio, uma vez que muitos estudantes estão em contato com os processos pela primeira vez. “Conciliar esse grupo de pessoas com experiências tão diversas e montar uma estrutura que funcione em prol do Festival é difícil, mas é uma fonte de grande aprendizado”, ressalta.

Produção dinâmica 
A preparação do evento teve início no segundo semestre deste ano e inclui tanto os alunos que integram a turma de Produção musical, mais envolvidos na logística, quanto os mais avançados na formação, que estão na disciplina final, Gravação, feita em sequência, cujo trabalho está centrado no produto fonográfico. O conjunto de estudantes dessas duas turmas compõe a força-tarefa envolvida na preparação do evento. 

Max Akerman: maiores desafios são maior aprendizado
Max Akerman: maiores desafios são maior aprendizado Acervo pessoal

A sonorização dos shows será feita com uso dos equipamentos da Escola de Música e com apoio da Coordenadoria de Assuntos Comunitários. A iluminação, por sua vez, foi viabilizada com recursos de fornecedores externos. A estrutura, montada na Praça, em frente ao espaço do Diretório Central dos Estudantes, tem apoio da Pró-reitoria de Cultura (Procult). 

Inspiração
A ideia do evento surgiu em 2019, por meio do Laboratório de Produção Musical, cuja coordenação cabe ao professor Fernando Braga, do Departamento de Instrumentos e Cantos. A formação dura dois anos, e, ao longo desse período, os estudantes atuam em diversos projetos, a maioria dos quais derivada das proposições dos discentes. 

O Festival é uma resposta à falta de um evento musical que priorizasse canções. Silas Prado, produtor do AMU 2019, conta que a Universidade havia retomado um festival de música instrumental, composição e arranjos, mas ainda não havia uma iniciativa com foco em canções, sobretudo populares e autorais. O evento tem uma inspiração explícita: o Movimento Artístico Universitário (MAU) ocorrido na década de 70, no Rio de Janeiro.

Para Fernando Braga, “a Universidade não é, nem pode se tornar, uma torre de marfim, de onde a gente observa o mundo lá fora. Ela tem que ser permeável a todas as atividades que existem na sociedade”. De acordo com ele, o principal benefício é o conhecimento dos meandros da produção musical que os estudantes acumulam, processo fundamental na formação de um artista.

A primeira edição do evento, em 2019, ocorreu no antigo Espaço Freiriano, na Faculdade de Educação (FaE), e teve seis atrações, com participação de universitários da UFMG, de outras instituições e artistas convidados. O Festival não foi realizado nos dois anos seguintes em razão da pandemia. A segunda edição retoma a forma presencial e o plano de periodicidade anual. As expectativas para quinta-feira são as melhores. “Vamos ter comidas e bebidas gostosas, uma oportunidade única de conhecer artistas e músicas novas e de celebrar o fim de ano”, conclui Laura Souza. 

Bella Corrêa