Extensão

'Lipedema science' reunirá estudiosos na UFMG para discutir múltiplas abordagens sobre a doença

Caracterizada por depósito de gordura e inchaço nas pernas e braços, enfermidade crônica é predominante em mulheres

Doença afeta principalmente mulheres, com inchaço localizado nas pernas e nos quadris
Doença afeta principalmente mulheres, com inchaço localizado nas pernas e nos quadris Foto: Gesina | Pixabay

A UFMG sediará, nos dias 19 e 20 de setembro, o maior evento científico do país sobre o lipedema, doença vascular crônica caracterizada pelo depósito de gordura e inchaço localizado nas pernas e braços, principalmente em mulheres. O Lipedema science é a primeira iniciativa no Brasil a tratar a doença de forma intedisciplinar no âmbito de uma universidade pública, reunindo palestrantes renomados de diversas áreas da saúde para compartilhar conhecimento científico e prático.

O evento é destinado a estudantes e profissionais da área da saúde, como nutricionistas, médicos, biomédicos, enfermeiros, fisioterapeutas, educadores físicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e pesquisadores que desejam se aprofundar nos estudos sobre abordagem multidisciplinar do lipedema com base em evidências científicas. 

O evento será realizado no Auditório B101 do CAD 3, com oferta de 300 vagas. As inscrições podem ser feitas até o dia 17 de setembro, por meio da plataforma Cursos e Eventos, administrada pela Fundep. Estudantes de graduação devem enviar o comprovante de matrícula para o e-mail lipedemascience@gmail.com. 

Lacuna histórica
O lipedema foi descrito pela primeira vez em 1940 pelos médicos Edgar van Nuys Allen e Edgar Alphonso Hines Jr, e foi chamado inicialmente de “síndrome de Allen-Hines”. No entanto, somente em 2022, o lipedema foi incorporado à Classificação Internacional de Doenças (CID-11), considerada condição clínica distinta, com critérios diagnósticos próprios, o que possibilitou diagnósticos padronizados, registro de casos e o desenvolvimento de políticas de saúde específicas. 

No Brasil, o lipedema foi reconhecido como doença em 2019 e incluído na CID-11 (com o código EF02.2) em 2022, mas a implementação acabou adiada para 2027 em razão da necessidade de treinar profissionais de saúde e atualizar os sistemas.

“Essa longa defasagem gera uma lacuna importante na produção científica, no ensino e na formação de profissionais da saúde sobre o tema”, explica a nutricionista e professora Giselle Foureaux, que idealizou o evento. “O Lipedema science surge como resposta concreta à crescente demanda de estudantes, pesquisadores e profissionais da saúde por formação científica e prática sobre o tema. Trata-se de uma oportunidade de preencher essa lacuna histórica, oferecendo conhecimento atualizado, interdisciplinar e embasado em evidências dentro do ambiente acadêmico da UFMG.”

Giselle Foureaux, idealizadora da iniciativa interdisciplinar sobre lipedema
Giselle Foureaux: estudo da dietoterapia no manejo de doenças crônicasFoto: Departamento de Morfologia do ICB/UFMG

Giselle Foureaux é mestre em Ciências, doutora em Biologia Celular com residência de pós-doutorado em Fisiologia e Farmacologia e hoje atua como docente no Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). Ela tem dedicado sua carreira científica ao estudo da dietoterapia no manejo de doenças crônicas, com ênfase no lipedema.

Subdiagnóstico e desinformação
Comumente confundido com obesidade, excesso de gordura comum ou varizes, o lipedema pode causar desconforto, dor, sensação de peso e até dificultar alguns movimentos. A Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) estima que 11% das mulheres são acometidas pela doença. Apesar da alta incidência, o lipedema é ainda subdiagnosticado, o que afeta de maneira significativa a saúde física e emocional de mulheres brasileiras.

“Nos últimos anos, a visibilidade do lipedema aumentou consideravelmente, inclusive com a declaração pública de figuras conhecidas, como a atriz Yasmin Brunet, que revelou ter a doença. Isso contribuiu para aumentar o interesse da mídia e da população em geral, ao mesmo tempo que evidenciou a escassez de informações qualificadas e de profissionais preparados para lidar com esse diagnóstico”, explica Giselle Foureaux.

Apesar de crônico, o lipedema pode ser tratado a fim de amenizar os seus sintomas e o sofrimento do paciente. O diagnóstico precoce, portanto, é essencial para controlar a evolução e melhorar sua qualidade de vida. 

Dividida em cinco módulos, a programação do evento vai abordar os fundamentos clínicos e científicos da doença e abordagens multidisciplinares para diagnóstico e tratamento eficaz. Profissionais da saúde serão orientados a aplicar, sob perspectiva clínica e científica, estratégias integradas de nutrição, suplementação, controle hormonal, apoio psicológico, exercício físico e tratamentos complementares não invasivos no cuidado multidisciplinar do lipedema.

Feira 'BH saudável'
Por se tratar de uma condição com origem no sistema endócrino, fases como puberdade, gravidez e menopausa são mais propícias ao desenvolvimento do lipedema. Além disso, aspectos do estilo de vida do paciente, como a alimentação, podem influenciar a evolução do quadro.

Paralelamente ao Lipedema science será realizada, no saguão do CAD 3, a feira BH saudável, que vai reunir diversos expositores de alimentos. O público vai encontrar opções sem açúcar, sem glúten e sem farinha, que poderão ser degustadas. A feira é aberta à comunidade.

Hellen Cordeiro