Novas microturbinas de cogeração de energia são instaladas no Centro de Treinamento Esportivo
Iniciativa integra o Projeto Oásis e vai otimizar sistema de aquecimento da piscina do CTE, gerando energia elétrica no processo; turbinas integram minirrede de energia elétrica da UFMG

As microturbinas que vão aquecer a piscina do Centro de Treinamento Esportivo (CTE) da UFMG foram instaladas e devem começar a operar já no mês que vem. Trata-se de parte da infraestrutura que está sendo incorporada à minirrede de energia gerenciada pelo Projeto Oásis UFMG, uma das ações do Programa UFMG Sustentável.
Com as novas microturbinas, o calor produzido pela caldeira de gás responsável pelo aquecimento da piscina do CTE passa a ser obtido por meio da energia térmica advinda de microturbinas de cogeração de energia. A nova estrutura será utilizada para geração de energia elétrica, e o calor resultante do processo será direcionado para o aquecimento da piscina. Na prática, a mudança torna o CTE autossuficiente em relação à energia que consome, pois estima-se que as microturbinas sejam capazes de produzir mais energia do que o complexo esportivo demanda diariamente para o seu pleno funcionamento.
O contrato para a realização do projeto de instalação das microturbinas de energia, em substituição ao atual sistema baseado em caldeira de gás, foi assinado no ano passado pela UFMG e pela Fluxo Soluções Integradas, empresa que faz a distribuição da Capstone Green Energy no Brasil, fabricante das microturbinas que foram instaladas no CTE. Em visita realizada ao CTE na época da assinatura da parceria, o gerente de produtos da Fluxo, Rafael Picasso Amarante, explicou o conceito de ‘cogeração energética’ no qual se baseia o funcionamento das novas microturbinas.
“A ideia é continuar queimando gás, mas agora não mais na caldeira, e sim nas microturbinas. Com isso, continua-se gerando o calor necessário para aquecer a piscina, mas, ao mesmo tempo, gera-se energia elétrica. A ideia é fazer o que chamamos de cogeração: em vez de só gerar calor com o gás, gera-se energia elétrica, e, com o calor que sobra da turbina, faz-se o aquecimento da piscina.”
O professor Braz Cardoso, do Departamento de Engenharia Elétrica da Escola de Engenharia da UFMG, afirma que o novo sistema possui outras vantagens, além da produção própria e da diminuição dos custos de geração de energia. “Vamos reduzir o valor da nossa conta de luz, mas não é só isso. Com o novo sistema, faremos um melhor uso da energia que vem do gás natural, que já é usado nas caldeiras para produzir calor. Com as turbinas, aumentamos a eficiência do sistema, ou seja, usamos mais energia do gás. Assim, podemos atingir uma eficiência de mais ou menos 90%.”
O professor do Departamento de Educação Física da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMG, Gustavo Pereira Côrtes, acrescenta que este sistema de produção de energia é inédito no estado. Para ele, há outra vantagem da substituição das caldeiras para o aquecimento da água da piscina do CTE pelas novas microturbinas, em se tratando da preparação dos atletas que treinam no espaço. “A caldeira já funciona desde 2015, mas a substituição pelas turbinas é benéfica porque a manutenção da caldeira é muito difícil. Se a temperatura da piscina cai mais do que o normal – entre 26º e 27º, por exemplo, a depender da modalidade dos treinos, se olímpica ou paralímpica –, alguns atletas paralímpicos não podem usá-la. Daí a importância de que tenhamos um sistema mais eficiente para manter a temperatura da piscina.”
O professor conta que a piscina do CTE é a maior estrutura de treinamento aquático da América Latina, e relembra que a equipe de atletas do Reino Unido utilizou o espaço para se preparar para as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. “Hoje, 200 atletas da UFMG e de diversos clubes, além da equipe paralímpica brasileira, treinam na piscina do CTE. Então é muito bom sabermos que agora temos um sistema de aquecimento que, além de sustentável, é mais eficiente.”
A mudança também vai possibilitar a automatização de processos relacionados à manutenção da piscina (como a filtragem), na medida em que o sistema, em tese, nunca é desligado. Uma vez que a geração de energia elétrica pelas microturbinas é destinada sobretudo ao CTE, ele passa a ser, na prática, autônomo energeticamente. A expectativa é que, no futuro, a produção energética exceda a própria necessidade do CTE. Se isso ocorrer, o excedente ficará à disposição da minirrede de energia própria da Universidade que vem sendo implantada pelo Projeto Oásis UFMG.

Projeto Oásis e UFMG Sustentável
A instalação das microturbinas no CTE integra o Projeto Oásis UFMG. Estruturado em 2018, ele consiste na instalação de distintas tecnologias para captação, produção e armazenagem de energia na Universidade, tornando-a mais autônoma – no limite, autossuficiente – em relação aos fornecimentos externos.
Proposto e idealizado pela Comissão Permanente de Gestão Energética Hídrica e Ambiental (CPGEHA) da Universidade, o Oásis UFMG é desenvolvido no âmbito do Laboratório Tesla Engenharia de Potência, do Departamento de Engenharia Elétrica da Escola de Engenharia, em parceria com o Departamento de Gestão Ambiental (DGA) da Pró-reitoria de Administração.
O vice-reitor da UFMG, Alessandro Fernandes Moreira, explica que o consumo energético da Universidade se compara ao de algumas cidades do estado. Devido a este alto consumo, o Projeto Oásis visa trazer soluções do ponto de vista energético, sendo baseado em programas de eficiência energética, como a substituição de lâmpadas comuns por lâmpadas de LED, campanhas de conscientização e geração própria de energia. Hoje, somando as usinas fotovoltaicas e as novas microturbinas, a UFMG produz cerca de 5% da energia total que consome.
“Num futuro não muito distante, teremos um sistema de armazenagem de energia em bateria, o que propiciará um aumento do ganho com despesas de energia elétrica. O Projeto Oásis é um projeto institucional da Universidade dentro do UFMG Sustentável. Queremos realizar práticas sustentáveis e ser referência para outras instituições públicas”, diz o vice-reitor.
Alessandro destaca, ainda, a importância do Projeto Oásis para a formação de pesquisadores da UFMG. “Somos uma instituição de ensino e de formação de pessoas. Então, durante a nossa prática sustentável, é importante que atuemos na formação de pesquisadores que fazem mestrado e doutorado aqui. Isso reflete a institucionalização do Projeto e de suas iniciativas.”
Mais eficiência energética
Rumo à melhor eficiência energética da UFMG, em 2022, um grande passo foi dado com a instalação de usinas fotovoltaicas (placas de energia solar) nos telhados dos três Centros de Atividades Didáticas (CADs) do campus Pampulha, o que, de saída, já tornou os três prédios autossuficientes. A instalação das usinas resolveu duas demandas da Universidade de uma só vez: reduziu os gastos com as tarifas de energia elétrica e estruturou fontes de geração limpas e sustentáveis, meta indicada em seu Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI). Na época, o professor Braz Cardoso lembrou que o plano da UFMG é fazer a operação energética do campus Pampulha em perspectiva “ilhada”, de modo que, se faltar energia fornecida pela Cemig, a geração própria da Universidade seja capaz de sanar as necessidades emergenciais.

Agora, com a instalação das microturbinas no CTE, o projeto Oásis UFMG dá um novo passo – desta vez, na direção da diversidade das fontes de geração, afirma Braz Cardoso. “A maior parte das minirredes existentes são baseadas em um único tipo de fonte – normalmente, a energia fotovoltaica, com armazenagem em baterias. A esse recurso nós estamos agregando uma fonte de energia totalmente diferente e independente, o que é uma característica muito interessante da nossa minirrede: ela passa a contar com duas fontes de energia, o que é importante do ponto de vista da autonomia. Caso, em algum momento, haja algum imprevisto [por exemplo, o mau tempo prolongado] que afete a geração da usina fotovoltaica, teremos, em compensação, a produção de energia via gás”, conclui.