Notícias Externas

'Outra estação', da Rádio UFMG Educativa, discute ética médica em tempos de covid-19

Parte dos profissionais da área tem receitado medicamentos não recomendados pela OMS

x
A pandemia de covid-19 pôs em pauta o debate sobre os limites da autonomia médica Gustavo Fring I Pexels

Desde o começo da pandemia da covid-19, um tema tem gerado controvérsia entre pesquisadores e profissionais da medicina: trata-se do chamado “kit covid”, também conhecido como “tratamento precoce”, conjunto de medicamentos que costuma incluir hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina. O uso desses remédios na prevenção ou no tratamento da doença já foi desaconselhado por especialistas e entidades médicas, a exemplo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Associação Médica Brasileira (AMB). Porém, tais medicamentos continuam sendo receitados por médicos no Brasil.

Diante disso, o episódio 68 do Outra estação, programa da Rádio UFMG Educativa, aborda as seguintes questões: ao receitar o “kit covid”, parte da classe médica brasileira vem desrespeitando normas éticas dessa profissão? No tratamento de pacientes diagnosticados com covid-19, os médicos têm exercido sua autonomia com o devido cuidado? Posicionamentos político-ideológicos estão atrapalhando a prática profissional? O órgão responsável por disciplinar a atividade no Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM), tem cumprido essa missão durante a pandemia?

Para responder a essas e outras perguntas, foram entrevistados quatro especialistas: Dirceu Greco, presidente da Sociedade Brasileira de Bioética e professor aposentado do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Carlos Starling, consultor científico da Sociedade Brasileira de Infectologia e diretor da Sociedade Mineira de Infectologia, Gerson Pianetti, professor da Faculdade de Farmácia da UFMG, e Ricardo Hernane Gonçalves, corregedor do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG).


Por que a comunidade científica internacional já descartou medicamentos do “kit covid”? E por que alguns médicos insistem em receitá-lo?

De um lado, o CFM e outras entidades, como o CRM-MG, defendem não haver evidências científicas que descartem a suposta eficácia do “kit covid”. De outro lado, esse tipo de tratamento é rejeitado por pesquisadores e entidades da área de saúde, incluindo a OMS. O primeiro bloco do programa explica por que existe tanta divergência e por que se avalia que medicamentos como hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina não devem ser prescritos a pessoas infectadas pelo novo coronavírus.

Essa parte do episódio também apresenta o relato de uma mulher que, após diagnosticada com covid-19, foi atendida por um médico em uma unidade de saúde do município de Itabira, região central de Minas Gerais. Sem ter sua identidade revelada, a mulher conta que lhe foram receitados medicamentos do chamado “kit covid”. Segundo ela, o profissional que a atendeu disse que a prescrição era um procedimento padrão naquela unidade de saúde.

Dirceu Greco destaca que o Código de Ética Médica determina que profissionais observem práticas cientificamente reconhecidas
Dirceu Greco destaca que o Código de Ética Médica determina que profissionais observem práticas cientificamente reconhecidas Carol Morena I Faculdade de Medicina da UFMG

O que diz o Código de Ética Médica? Quais os limites da autonomia médica e da prescrição chamada off-label?

Os médicos que atuam no Brasil têm seus princípios, direitos e deveres definidos no Código de Ética Médica. Algumas dessas normas são apresentadas no segundo bloco do programa, sobretudo as relativas a um tema que tem sido mencionado em discussões públicas sobre o combate à pandemia: o da autonomia de cada médico em sua atividade profissional.

O CFM e o CRM-MG defendem que o médico seja autônomo para decidir, juntamente com os pacientes diagnosticados com a covid-19, se prescreve ou não o “kit covid”. Por sua vez, especialistas entrevistados argumentam que a autonomia não justifica o uso de medicamentos ineficazes. Na opinião desses pesquisadores, a prescrição off-label, praticada quando certo medicamento é receitado para uma finalidade distinta do que consta na bula do produto, não vem sendo usada em conformidade com a ética médica.

Apesar das discordâncias, parece haver um consenso entre os especialistas ouvidos neste episódio: o debate sobre como tratar pacientes com covid-19 tem sido prejudicado por uma inadequada politização.

Para saber mais
Relato da ONU sobre testes que descartaram o uso de hidroxicloroquina na prevenção e no tratamento contra a covid-19
Site da UFMG com informações e orientações relacionadas à covid-19

Produção
O episódio 68 do programa Outra estação é apresentado por Alessandra Ribeiro, com produção de Arthur Bugre, Filipe Guedes, Igor Costa e Tiago de Holanda, responsável pela edição. Os trabalhos técnicos são de Breno Rodrigues. A coordenação de jornalismo da Rádio UFMG Educativa é de Paula Alkmim. 

Na segunda temporada, o Outra estação vai ao ar às quintas, quinzenalmente, às 18h, com reprise às sextas, às 7h, pela frequência 104,5 FM. Em cada episódio, o programa aborda um tema de interesse social. Todos os episódios estão disponíveis nos aplicativos de podcast, como o Spotify.