Coberturas especiais

Endividamento das famílias brasileiras atinge patamar mais alto da história em 2020

Em entrevista ao programa Conexões, professor Antônio Dias Pereira Filho, da Face, deu dicas de como evitar o superendividamento durante a pandemia

Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, a proporção de famílias endividadas chegou a 67,1% em junho de 2020, o índice mais alto da história.
Proporção de famílias endividadas chegou a 67,1% em junho de 2020, índice mais alto da históriaPhoto by Michael Longmire on Unsplash

O número de brasileiros endividados atingiu o percentual mais alto da história em junho de 2020, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Essas dívidas incluem cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguros, entre outras. A proporção de famílias endividadas, medida pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, chegou a 67,1%, renovando o maior patamar da série iniciada em janeiro de 2010, registrado, até então, em abril deste ano, quando o índice registrado foi de 66,6%. 

Em entrevista ao programa Conexões desta quarta-feira, 21, o professor de Administração Financeira Antônio Dias Pereira Filho, da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG (Face), falou sobre a diferença entre endividamento e superendividamento. 

"O endividamento é um nível comum e o superendividamento é quando os devedores não conseguem pagar o que devem sem comprometer a sobrevivência pessoal e familiar. Nessa situação, o indivíduo se torna inadimplente, não tem capacidade de pagamento e pode, muitas vezes, chegar a vender bens ou ter mais dívidas que patrimônio. Além disso, pode ter problemas familiares, pessoais e de saúde".

Fazer um plano de pagamento condizente com a realidade dos superendividados é importante para "cortar o ciclo vicioso da dívida" e para "reintegrar os consumidores", segundo Antônio Filho. 

"Vários fatores podem potencializar esse ciclo, como problemas pessoais e familiares, uma tendência consumista, perfil psicológico e a ausência de educação financeira. Por isso, a importância da educação financeira, para prover o esclarecimento na hora de realizar certas operações financeiras, como, por exemplo, saber o custo efetivo e o real valor dos juros", explicou.

Ouça a conversa com Luíza Glória

Está em discussão, no Congresso Nacional, o Projeto de Lei nº 3.515/15, do Senado Federal, que prevê medidas para reduzir o endividamento, por meio da inserção de vários dispositivos no Código de Defesa do Consumidor, que completou 30 anos neste ano. No momento, o projeto aguarda a inclusão na pauta do Plenário da Câmara dos Deputados. A proposta prevê, entre outras medidas, a educação financeira, o tratamento e a prevenção do superendividamento, a instituição de núcleos de conciliação e mediação de conflitos, o dever de informação (ou seja, regras mais rígidas para a oferta, a publicidade e a propaganda do crédito), além da repactuação de dívidas, de acordo com as possibilidades do devedor. 

Outro ponto relevante do projeto é a proteção de idosos, aposentados, analfabetos e pessoas de baixa instrução. A proposta também define com mais clareza a regra de limite de 35% do salário para empréstimos consignados.

Produção: Arthur Bugre
Publicação: Isadora Oliveira, sob orientação de Hugo Rafael