Institucional

Para pesquisadores, cortes podem ferir de morte a ciência brasileira

Reunidos em debate promovido pela SBPC Minas, cientistas que atuam no estado defenderam ampla mobilização para reverter o cenário de restrições

Participantes do debate sobre o impacto dos cortes do FNCT
Participantes do debate sobre o impacto dos cortes do FNCT Reprodução de tela: Raphaella Dias | UFMG

Os impactos do corte de R$ 600 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNCT), determinado pelo Ministério da Economia, foi tema da pauta dos vários debates realizados em todo o Brasil, nesta sexta-feira, dia 15, data em que se celebra o Dia do Professor.

A redução abrupta de 92% do orçamento previsto para o FNCT, segundo avaliação da SBPC Minas, garante apenas R$ 55 milhões para projetos e bolsas para todo o país e inviabiliza, entre muitas iniciativas, o edital universal do CNPq, suspenso desde 2018 e que deveria ser relançado neste ano, assim como o edital de bolsas de produtividade dos pesquisadores.

“O corte fere mortalmente o sistema federal de ciência, tecnologia e inovação, com repercussão gravíssima para os estados e consequências até mesmo irreversíveis”, afirmou o presidente da Fapemig, Paulo Sérgio Lacerda Beirão, que participou na manhã de hoje da roda de conversa sobre o impacto do corte de recursos do FNDCT organizada pela SBPC Minas e transmitida pelo canal da entidade no YouTube.

Segundo o professor aposentado da UFMG, investimento em ciência e tecnologia difere do aplicado na recuperação de uma estrada, que pode ser interrompido e retomado posteriormente, sem maiores consequências. “A ciência depende de anos para construção de uma estrutura capaz de dar respostas rápidas às urgências da sociedade, como ocorreu agora na pandemia de covid-19. Se esse investimento é interrompido, ficamos defasados em relação ao mundo, que continua investindo na área. Essa situação é gravíssima para o país”, advertiu.

Para o secretário adjunto da SBPC Minas, Pedro Camargo, que também participou do debate, esse ato governamental merece toda indignação e união da sociedade civil e científica para pressionar os representantes no Congresso. “Vamos resistir, seguir lutando para que nosso povo e os cientistas não desistam. É preciso esperançar. No dia dos professores temos que acreditar que é possível fazer diferente”, convidou.

O desestímulo para os jovens cientistas é outra consequência inevitável, alerta a vice-presidente da Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG), Stella Gontijo. “As agências de fomento vêm se enfraquecendo, e os repasses aos jovens cientistas, que trabalham no desenvolvimento de pesquisas, vêm caindo desde 2013. O que observamos é uma política de desmonte, censura e controle da ciência, que traz como consequência o desestímulo à carreira cientifica e a fuga de cérebros.”

Unir forças
 A professora Sandra Regina Goulart Almeida, da Faculdade de Letras da UFMG, acrescentou que a sociedade civil reconhece a importância do investimento em educação, ciência, tecnologia e inovação, conforme estudo mais recente realizado pela Controladoria Geral do Estado (CGE). “O grande desafio é unir forças para pressionar os dirigentes e governos a transformar esses investimentos em políticas públicas robustas e sustentáveis. Todos nós, que acreditamos no papel da ciência como solução para construir o país desejado, devemos nos unir para trabalhar de forma integrada. Unir forças e continuar insistindo na interlocução com o parlamento, porque essa missão nos foi dada pela sociedade a quem servimos”, afirmou.

Sandra Goulart Almeida lembrou ainda que Minas Gerais é o estado com o maior número de universidades e institutos federais, o que torna a “vigilância contra atos dessa natureza” ainda mais necessária. “Temos que enfrentar e discutir, batalhar sempre juntos na defesa das instituições e da democracia. Faz parte do nosso papel como gestores, pesquisadores e professores convencer quem faz política de que investir em ciência, tecnologia e inovação não é gasto, mas prioridade".

O diretor da Fiocruz Minas, Roberto Sena Rocha, reiterou a preocupação da fundação com o corte orçamentário do FNCT e com “a importância da luta conjunta contra essa situação, que deixa a ciência, a tecnologia e a inovação próximas do fundo do poço”. 

Segundo a conselheira da SBPC Minas Andrea Macedo, professora do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, a manifestação virtual e presencial contra o “golpe contra a ciência” deve se fortalecer por todo o país e resultar em duas mobilizações já programadas para os dias 26 de outubro e 15 de novembro. “Devemos, sim, ficar alertas e disponíveis para essas mobilizações, porque não podemos nos conformar com essa catástrofe que atinge a ciência, a democracia, a educação, a saúde e o meio ambiente”, concluiu.

 

Teresa Sanches