Pesquisa e Inovação

Polinização aumenta produção agrícola, mas depende da proximidade da vegetação natural

Estudo com participação da UFMG gerou um ranking de prioridades para restauração e conservação dessas áreas

Inseto polinizador em uma flor de maracujá
Inseto polinizador em uma flor de maracujá Paulo Oliveira | Acervo da pesquisa

A polinização feita por animais resulta em aumento de produção e retorno monetário para a agricultura brasileira, revela estudo publicado na revista Environmental Science & Technology neste mês. A pesquisa, que contou com a participação de 21 colaboradores do Programa SinBiose/CNPq (Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos), mostra também que a restauração da vegetação natural cumpre um papel importante na conservação dos polinizadores, além de gerar mais produtividade agrícola nas áreas do entorno.

Segundo o professor Pietro Maruyama, do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do Instituto de Ciência Biológicas (ICB) da UFMG – e um dos autores do artigo Areas requiring efforts are a complementary opportunity to support the demand for pollination services in Brazil –, o estudo comprova a importância da conservação da biodiversidade das espécies polinizadoras no país. “Essa conservação importa muito para a qualidade de vida das pessoas. A biodiversidade dos polinizadores é fundamental para a produção agrícola do país e afeta também o meio ambiente e a economia. Se perdermos essa biodiversidade, nosso modo de vida deixa de ser sustentável", diz.

No Brasil, estima-se que a polinização realizada por animais como abelhas, moscas e morcegos gere valor econômico de 43 bilhões de reais por ano na agricultura. Para entender melhor esse cenário, os pesquisadores mapearam o papel dos polinizadores em cada um dos municípios brasileiros. O estudo considerou a área, a diversidade de culturas agrícolas e o quanto cada cultura depende desses animais. Eles também identificaram a demanda de restauração de áreas naturais para garantir a presença de polinizadores nos cultivos agrícolas.

O grupo concluiu que a presença de vegetação nativa próxima às áreas cultivadas maximiza a polinização, aumenta a produtividade e viabiliza a manutenção da cultura agrícola. Por isso, os pesquisadores acreditam que seja importante desenhar políticas ambientais que integrem a conservação da biodiversidade e a polinização das culturas, considerando as especificidades de cada localidade.

“Desenvolvemos indicadores que integram polinização, usos da terra e o cumprimento da legislação ambiental. Os municípios são unidades administrativas importantes e devem ser considerados de acordo com suas especificidades”, destaca Pedro Bergamo, pesquisador do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e também autor do estudo.

Cultivo do café
Cultivo do café está entre os que se mais se beneficiam da polinização por animais Helena Alves | embrapa.br

Culturas brasileiras e suas necessidades
Inicialmente, o grupo identificou, entre as principais culturas agrícolas brasileiras, aquelas em que a polinização realizada por animais resulta em aumento da produção e retorno monetário. Esse conjunto envolve 90 cultivos diferentes, como a abóbora e o cacau, cujas produções aumentam até 100% com a presença desses animais. No caso da uva, o incremento é de até 10% na produção. A soja, a laranja e o café são afetados positivamente em 10% a 40%.

Dados de produção agrícola e área de cultivo possibilitaram estimar o aumento de produção e o retorno monetário para cada município, e eles foram classificados em quatro faixas de demanda por polinização. Os pesquisadores verificaram, também, a importância dos cultivos para cada município, incluindo a diversidade agrícola – dos locais caracterizados pela monocultura e por grandes propriedades àqueles com maior diversidade de cultivos característicos de pequenas propriedades rurais.

Outra informação produzida diz respeito ao déficit de vegetação natural de cada município, isto é, a diferença entre a quantidade de vegetação natural existente e à extensão das áreas exigida por lei. Os municípios foram classificados de acordo com esse déficit e separados em dois grupos. De um lado, aqueles que têm poucas áreas de vegetação natural e demandam maior esforço de restauração; do outro, os que já contam com as áreas de vegetação natural e, portanto, precisam conservar tais áreas para garantir o excedente da produção agrícola resultante da presença de polinizadores.

Determinada a correlação entre essas métricas, foi possível elaborar um ranking de prioridades para restauração e conservação da vegetação natural que tenham foco no grau de relevância da polinização para cada localidade. Cidades que estão localizadas na zona de expansão da soja, como Anápolis, em Goiás, e Alta Floresta, no Mato Grosso, e também Ilhéus, na zona cacaueira da Bahia, e Itapeva, na zona produtora de café em Minas Gerais, mereceram recomendação de alta prioridade para restauração de suas áreas de vegetação natural. Apuí, no Amazonas, Xique-xique, na Bahia, e São Félix de Balsas, no Maranhão, foram classificados como municípios para os quais é recomendada prioridade para a conservação de suas áreas de vegetação, o que garante a produção agrícola local.

Artigo: Areas requiring efforts are a complementary opportunity to support the demand for pollination services in Brazil
Autores: Pedro J. Bergamo, Marina Wolowski, Leandro R. Tambosi, Edenise Garcia, Kayna Agostini, Lucas A. Garibaldi, Tiffany M. Knight, Eimear Nic Lughadha, Paulo E. A. M. Oliveira, Marcia C. M. Marques, Pietro K. Maruyama, Márcia M. Maués, Alberto K. Oppata, André R. Rech, Antônio M. Saraiva, Felipe D. S. Silva, Gizele Sousa, Rodrigo Y. Tsukahara, Isabela G. Varassin, Blandina F. Viana, Leandro Freitas
Publicação: Environmental Science & Technology, em 23 de agosto (disponível on-line).

Com assessoria de comunicação do Centro de Síntese em Biodiversidade do CNPq