Ensino

Professores defendem avaliações orientadas por empatia e flexibilidade

Aspectos diversos relativos ao ensino remoto emergencial foram abordados em fórum do Programa Integração Docente

A defesa de processos avaliativos baseados na empatia e no zelo pela qualidade do ensino, no contexto do ensino remoto emergencial adotado pela UFMG para viabilizar o retorno das atividades acadêmicas durante a pandemia de covid-19, marcou o debate de fórum on-line realizado ontem, com transmissão pelo YouTube.

A reitora Sandra Goulart Almeida ressaltou a necessidade de reflexão conjunta sobre novas formas de ensino e aprendizagem, considerando as particularidades do período. “O momento é de valorizar e restaurar vínculos, restaurar o senso de pertencimento na comunidade acadêmica, cultivar a empatia, a solidariedade e a flexibilidade nesses momentos de grandes desafios e dificuldades. Temos que estar sempre atentos à experiência do outro, com responsabilidade. Essa é uma questão central para a UFMG.”

Sandra destacou também a importância do conhecimento colaborativo e do compartilhamento de ideias, por meio de iniciativas como os fóruns organizados pelo Programa Integração Docente. Esse foi o sétimo encontro da série, que foi mediado pela professora Cristina Alvim, coordenadora do Comitê Permanente de Enfrentamento ao Coronavírus da UFMG.

A titular da Diretoria de Inovação e Metodologias de Ensino (GIZ), Maria José Flores, explicou que a Câmara de Graduação, em conjunto com a liderança da Prograd, constituiu dois grupos de trabalho para definir as diretrizes do ensino remoto emergencial na UFMG: um deles é dedicado às diretrizes de ensino e aprendizagem, e o outro, às diretrizes de avaliação.

“A avaliação é um tema extremamente importante em qualquer contexto de ensino, mas, na situação do ensino remoto emergencial, torna-se ainda mais importante, pois nos ajuda a cumprir os princípios que estabelecemos como próprios do ensino de graduação em uma universidade pública, com o respaldo do trabalho de excelência que tem sido feito ao longo da sua história”, afirmou a professora da Faculdade de Educação.

Chico Soares:
Chico Soares: 'mais gente do nosso lado'Raphaella Dias / UFMG

Objetivos claros
O professor emérito da UFMG Francisco Soares, presidente do Inep de 2014 a 2016 e uma das maiores referências em avaliação no país, tratou da importância de as universidades terem projetos de ensino que motivem a comunidade acadêmica a se posicionar em sua defesa. “A universidade pública é sempre um projeto que fica sob ataque, mas, neste momento, correndo riscos ainda maiores. Portanto, precisamos ter muita gente do nosso lado. Os estudantes que estiverem satisfeitos e forem bem atendidos estarão do nosso lado”, disse.

Soares abordou o conceito de “avaliação formativa”, pelo qual as disciplinas elencam seus objetivos de aprendizagem, incluindo o rol de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores ligados àquele conteúdo, e as estratégias para que os estudantes possam desenvolvê-los – em diferentes graus de domínio, chamados de “rubricas” – e evoluir. “A avaliação só é interessante se ajuda o aluno a aprender, e isso se concretiza com as rubricas. Nós não vamos longe se não sabemos quais são os objetivos de aprendizagem, e eu só sei qual é o domínio desses objetivos se eu definir, de forma preferencialmente cooperativa, o que é atingir aquele objetivo num nível adequado.”

Viviane Birchal:
Viviane Birchal: Raphaella Dias / UFMG

As adaptações nas avaliações interna e externa das graduações, no contexto de ensino remoto emergencial, dominaram a exposição da diretora de Avaliação Institucional, Viviane Birchal. Segundo ela, a sistematização pela Comissão Própria de Avaliação (CPA) dos procedimentos para avaliação interna dos cursos envolveu os Núcleos Docentes Estruturantes, os colegiados, a Prograd, a Diretoria de Avaliação Institucional (DAI) e gestores. Os dados coletados têm subsidiado ações como o apoio à inclusão digital, a recomposição do calendário acadêmico e as formações destinadas a docentes, por meio de webinars, oficinas e orientações dadas pela Prograd. Está prevista, ainda, a criação de uma comissão de acompanhamento do ensino remoto emergencial, que vai identificar dificuldades, experiências bem-sucedidas êxito e promover ajustes.

Viviane Birchal informou que os processos de avaliação externa também foram adequados ao novo contexto: a próxima edição do Enade, que seria realizada em novembro, foi adiada para 2021, em data a ser definida. Para a titular da DAI, o período pede um novo olhar sobre a avaliação. “É preciso adotar práticas avaliativas baseadas em reflexão, construção, criatividade, parceria, autoavaliação e autonomia. É preciso respeitar a diversidade, as dificuldades de cada um e executar essa avaliação de forma compartilhada.”

Diretrizes
Andréa Motta, professora do Departamento de Fonoaudiologia e membro da Câmara de Graduação, comentou os principais pontos da Resolução nº 05, emitida pelo órgão no último dia 12. O documento, elaborado com base nas diretrizes para o ensino remoto emergencial propostas pelo grupo de trabalho sobre avaliação e reunidas em guia sobre o tema, regulamenta os processos avaliativos, acompanhamento de aprendizagem dos alunos e aferição de assiduidade.

Algumas das orientações preconizam a necessidade de priorizar a concepção de uma avaliação formativa, a continuidade do ensino-aprendizagem almejado, com foco na evolução do estudante ao longo do semestre, a diversificação das tarefas avaliativas e o prazo mínimo de uma semana de antecedência para sua marcação.

A resolução também prevê que as avaliações ocorram no mesmo período em que são ministradas as aulas da disciplina e que o docente deverá oferecer aos estudantes uma data alternativa, definida de comum acordo, caso eles não possam fazer a prova no dia indicado. As atividades assíncronas serão disponibilizadas por um intervalo e duração definidos pelo professores, e os alunos poderão decidir quando iniciá-las.

“Os docentes talvez precisem pensar em formas de flexibilizar isso – e flexibilização é o lema da Câmara de Graduação –, porque é possível que, dentro do prazo estipulado, haja um problema de conexão que pode ser da própria Universidade, como a indisponibilidade do Moodle. Por isso, essa demanda tão grande de flexibilização, de construção coletiva junto aos estudantes, para buscar alternativas para que esse momento transcorra da forma mais harmônica possível”, resumiu.

Fabiane Ferreira:
Fabiane Ferreira: feedback aos estudantes é fundamental Raphaella Dias / UFMG

O que e como avaliar
A coordenadora do curso de Fisioterapia, Fabiane Ferreira, também expôs reflexões sobre avaliação, especialmente na aprendizagem remota. Para ela, independentemente da forma como as atividades são realizadas – presencial ou remotamente –, é necessário que sejam definidos, previamente, o que e por que avaliar. “Para conduzir uma boa avaliação, é preciso que seja feito um levantamento do que o aluno deve ser capaz, quais são as habilidades que ele precisa desenvolver, como ele vai aprender e como o professor vai avaliar o que ele aprendeu”, explicou.

No ensino remoto emergencial, dois pontos ganham destaque, na opinião da professora: o feedback dado ao estudante, que passa a ser fundamental, e seu protagonismo no processo de ensino-aprendizagem. Com a informação e o conteúdo ao fácil alcance dos alunos, os professores passam a desempenhar o papel de guias, auxiliando a conexão entre os pontos.

“Precisamos nos acostumar a fazer avaliação contínua, dizendo para aquele aluno onde ele está, questionando aonde ele quer ir e pensando sobre como ajudá-lo a caminhar. Devemos também levar em conta o contexto domiciliar: o aluno não está disponível o tempo inteiro, e a gente precisa ter um balanço desse tempo que o estudante vai precisar em casa”, disse Fabiane.

A professora recomendou, ainda, que os cursos tenham docentes como coordenadores de períodos, o que ajudaria a evitar sobrecarga de avaliações e estabelecer relação de confiança entre professores e alunos.

“É preciso aceitar que, durante a avaliação, haverá consulta, em algum grau, e acreditar na honestidade dos alunos. Não devemos partir do princípio de que o aluno está tentando nos enganar. Isso é ruim para quem faz uma avaliação. Nós precisamos usar este momento para falar de valores éticos, de honestidade. Estamos lidando com adultos, e não podemos tirar isso da nossa visão”, concluiu.

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Fórum sobre avaliação no ensino remoto emergencial: processo envolve setores diversos
Raphaella Dias / UFMG

Assessoria de Comunicação do Caed-UFMG