Professores residentes apresentam projetos em seminário do Ieat
Seminário integrou Semana do Conhecimento 2016
Cinco professores residentes do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat) apresentaram seus projetos, na tarde desta sexta-feira, 21, durante o seminário anual do Instituto, na Escola de Belas-Artes.
Saiba sobre os projetos, com base em informações enviadas pelos pesquisadores.
Benjamin e Fleck
Georg Otte, da Faculdade de Letras (Fale), relatou o projeto Cultura e natureza em Walter Benjamin e Ludwik Fleck. Um diálogo entre as ciências humanas e as ciências naturais. O objetivo consiste na pesquisa sobre a “naturalização” de fenômenos sociais ou culturais Benjamin e a “culturalização” das ciências naturais de Ludwik Fleck.
De acordo com Otte, que tem pós-doutorado na Universidade Humboldt, de Berlim, Fleck é mais radical que Benjamin, ao mostrar que mesmo nas ciências naturais, o fato não é algo “natural”, mas influenciado por aspectos culturais. Em estudo sobre o caso do combate à sífilis no início do século 20, ele mostra que mesmo o cientista moderno, de quem se exige ater-se apenas aos fatos, não escapa do peso da tradição e seus saberes preestabelecidos. Benjamin, por sua vez, demonstra “como o olhar do historiador para o passado é marcado pelo discurso predominante no seu presente. Uma vez que não há como simplesmente descartar o próprio presente (tal o postulado positivista), resta considerar o fato histórico como fruto de uma construção”.
Indústria e ciência
O trabalho do professor Renan Springer de Freitas, do Departamento de Filosofia da Fafich, aborda a mudança do quadro de relações entre a atividade industrial e a científica. Ele lembra que, até o início do século 19, a indústria era desvinculada da ciência – mais que isso, “sequer se presumia que entre elas pudesse ou devesse existir algum tipo de vínculo”. Springer procura entender o que mudou em relação à ciência e à indústria para que elas passassem a se ligar de forma tão visceral.
Em contraposição à visão de que a Inglaterra do século 19 foi a “terra da ciência” por excelência, na esteira da física newtoniana, ele defende que essa cultura científica teve papel que, se tanto, ficou restrito aos primórdios da revolução industrial. “A cultura científica que importou para o crescimento industrial foi aquela levada no século 19 por reformadores educacionais escoceses e por empreendedores científicos alemães. Procuro revelar o modo como esses escoceses e alemães criaram o vínculo, até então não existente, entre as atividades científica e industrial”, diz Renan Springer de Freitas, que tem passagens como pesquisador e professor visitante na Universidade de Amsterdã e na Duke University (EUA).
Arte moderna e contemporânea
A residência de Stéphane Huchet, professor da Escola de Arquitetura, concluído em julho deste ano, serviu à investigação da agenda transdisciplinar da arte moderna e contemporânea. De acordo com o pesquisador, a arte, e em particular as artes plásticas, têm vocação para movimentar uma série de interesses envolvendo as ciências humanas, em sua maior extensão.
Ele acrescenta que a antropologia, a sociologia, a história, a filosofia, a crítica podem identificar na arte uma instância suscetível de alimentar seus questionamentos internos. Problematização social do gosto, análise das dinâmicas artísticas no tempo, circulação do valor são algumas das questões que a arte é capaz de suscitar, contribuindo para que se crie um espetro teórico muito denso”, comenta Huchet, que tem pós-doutorado na Université de Haute-Bretagne, na França.
Ambientes de inovação
O objetivo do projeto de residência de Eduardo Campos Valadares, professor do Departamento de Física do ICEx, é fomentar a criação, na UFMG, de ambientes de inovação transdisciplinares. Com base em sua experiência na coordenação de laboratório de inovação no ICEx, ele afirma que os estudantes de diversas áreas devem contar com espaço para troca de informações e solicitação de apoio de especialistas.
Sua pesquisa incluiu visitas aos centros de criatividade das universidades Penn State e do Colorado, ambas nos Estados Unidos. Entre os resultados do trabalho, ele enumera a realização de um workshop que reuniu representantes de ambientes de inovação na Grande Belo Horizonte, a criação da Oficina de Projetos de Empreendedorismo e Inovação (Opei) e a criação de uma disciplina transversal no âmbito da graduação da UFMG. “Precisamos de uma mudança de cultura, que transforme o aluno em protagonista, trabalhando em equipes multi e transdisciplinares”, afirma Valadares, que tem pós-doutorados na USP e na University of Nottingham, do Reino Unido.
Sobre o livro
De acordo com a professora Maria do Carmo Freitas Veneroso, da Escola de Belas-Artes, seu projeto privilegia as relações interartes, tomando como referência principal os diálogos entre palavras e imagens, considerando também atravessamentos transdisciplinares entre as artes e outras disciplinas. “Exploro as aproximações entre livros de artistas contemporâneos e livros considerados raros ou especiais, do século 16 ao século 19”, conta a pesquisadora, que fez pós-doutorado na Indiana University (EUA).
A pesquisa se realiza sobre os eixos temáticos arte e ciência (diálogos), mapas/geografia (o espaço no/do livro), o arquivo artístico/literário (a memória no livro), a letra como imagem, a imagem da letra (as palavras no livro), poética/política (o livro como arma). Maria do Carmo Veneroso estuda o acervo das coleções de Livros de Artista e de Obras Raras e Especiais da Biblioteca Universitária da UFMG. O projeto tem participação dos grupos de pesquisa Caligrafias e Escrituras, Pensamento Impresso e Intermídia – Estudos sobre a Intermidialidade.