Superativação de neurônios sensoriais inibe crescimento de tumores, indica pesquisa da UFMG
Publicado na Acta Neuropahologica Communications, estudo coordenado pelo professor Alexander Birbrair descreve promissora estratégia de combate ao melanoma
O câncer é considerado o principal problema de saúde púbica em todo o mundo, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Na maioria dos países é uma das quatro principais causas de morte entre as pessoas com menos de 70 anos. E entre os vários tipos existentes, o melanoma é considerado o mais agressivo câncer de pele. Grupo de pesquisadores liderado pelo professor Alexander Birbrair, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, publicou artigo nesta semana, na revista Acta Neuropahologica Communications, em que revela a possibilidade de reduzir a progressão do melanoma com a manipulação do sistema nervoso.
Os nervos sensoriais, responsáveis pelas funções involuntárias do corpo, como respiração e batimentos cardíacos, também se infiltram nos tumores cancerígenos, integrando o microambiente tumoral. Essa descoberta recente, também liderada pelo professor Birbrair, gerou outra indagação: a atividade neural pode controlar a progressão do câncer no organismo?
Na busca de respostas, a equipe, formada por pesquisadores do Hospital Sírio-Libanês, da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob), da Universidade Federal de Goiás (UFG) e colaboradores internacionais, utilizou a quimiogenética para estudar a biologia do câncer. A técnica, desenvolvida por neurocientistas, possibilita a modificação temporária da atividade dos neurônios para estudo dos circuitos neurais no cérebro.
“Realizamos transplantes de células de câncer em camundongos transgênicos com nervos sensoriais demarcados com fluorescência vermelha para detectar a presença das fibras do sistema nervoso no microambiente tumoral do melanoma. Em seguida, utilizamos a técnica de quimiogenética para bloquear ou superestimular a atividade dos neurônios sensoriais dentro dos tumores”, explica o professor.
Surpreendentemente, a redução da atividade de neurônios sensoriais provocou o crescimento dos tumores. Em uma ação contrária, ou seja, a superativação dos neurônios sensoriais, o crescimento do tumor acabou inibido.
Segundo Birbrair, a superestimulação desses neurônios também induziu a diminuição de vasos sanguíneos nos tumores, o que ajudou na inibição do seu crescimento. "Além disso, gerou uma melhora da resposta imune antitumoral, elevando o número de linfócitos antitumorais que se infiltram no tumor, ao mesmo tempo que se observou a redução das células imunossupressoras", constata.
Microambiente diversificado
A descoberta chama a atenção para a importância de se conhecer o microambiente tumoral e a necessidade de preservar os nervos sensoriais em pacientes que fazem tratamentos quimioterápicos para combater o câncer.
A massa tumoral é formada por células malignas (que cresceram e se dividiram descontroladamente por causa de transformações sofridas no seu material genético), mas também por outros componentes que, em conjunto, formam o microambiente tumoral. Esse microambiente reúne células do sistema imunológico, como linfócitos, neutrófilos, macrófagos e células dentríticas, outras modalidades de células e nervos sensoriais, que se infiltram no tumor como descoberto nesse estudo da UFMG. Esses componentes, no entanto, não são inertes, afirma Birbrair. Alguns podem estimular o crescimento das células do câncer, enquanto outros, como os nervos sensoriais, podem bloquear seu crescimento.
A expectativa, segundo o professor Alexander Birbrair, é que a descoberta possa ajudar a criar mecanismos mais eficientes e específicos no tratamento do câncer. O grupo agora está explorando a função desses neurônios em outros tipos de câncer, como de mama, próstata e pulmão. "Infelizmente os atuais tratamentos de quimioterapia são muito tóxicos, pois, além das células cancerígenas, matam também as células saudáveis do organismo, especialmente do sangue e da pele. Usar os neurônios como alvo pode representar uma alternativa menos invasiva e tóxica no futuro em combinação com os tratamentos atuais contra o câncer", projeta Birbrair.
O grupo é financiado pelo Instituto Serrapilheira e tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).