Arte e Cultura

UFMG começa a restaurar pinturas ‘secretas’ das paredes do Museu Casa Padre Toledo

As pinturas começaram a ser reveladas nesta semana; visitas técnicas para acompanhar o trabalho de restauração podem ser agendadas até setembro

Lento, pois delicado, trabalho de restauração já começou
Lento, pois delicado, trabalho de restauração já começou Foto: Divulgação

Nesta semana, teve início o delicado processo de restauração de pinturas decorativas escondidas em paredes do casarão que abriga o Museu Casa Padre Toledo, em Tiradentes (MG). Rara referência de ornamentação em edificações civis do período colonial, as pinturas estavam por trás de camadas de tinta posteriores. 

O prédio que sedia o museu remonta à segunda metade do século 18. Ele foi residência do Padre Carlos Correia de Toledo e Melo, um dos grandes nomes da Inconfidência Mineira. Ao todo, há 13 camadas de tinta sobre as pinturas, decerto resultado das diversas intervenções pelas quais o casarão naturalmente passou ao longo dos últimos dois séculos. As pinturas em questão situam-se nas paredes do cômodo do torreão da construção. O casarão é composto pelo cômodo do torreão e 11 outras salas.

Segundo Verona Segantini, diretora do Campus Cultural UFMG em Tiradentes, estudos recentes possibilitaram identificar a composição ornamental original da decoração, que remonta ao período rococó em Minas Gerais, e mensurar a porcentagem de vestígios remanescentes da pintura. “Trata-se de uma imitação de tecido de seda lavrada, influência do rococó francês, representada pela decoração composta por ramos florais assimétricos, matizado suave, intercalados por ramos vegetais em composição em losangos e distribuídos sobre fundo em imitação de damasco”, explica.

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Decoração remonta ao período rococó em Minas Gerais Foto: Acervo MCPT

“A decoração floral da sala do torreão pôde ser identificada pela primeira vez por meio de duas janelas estratigráficas (técnica que consiste na remoção camada a camada de estratos pictóricos para análise) realizadas, possivelmente, durante uma das grandes intervenções de restauro ocorridas em 1942/43, 1962 ou 1981/82”, conta a diretora. Verona, que também é presidente da Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade (FRMFA), coordena o processo de restauração.

Força-tarefa
À frente da parte técnica do trabalho está o restaurador André Luis de Andrade, graduado em Conservação-Restauração de Bens Culturais pela UFMG e mestrando em preservação do patrimônio cultural pelo Centro Lúcio Costa, unidade especial do Iphan (CLC/IPHAN). Onze profissionais estão envolvidos no projeto.

Também foi constituído um grupo técnico para acompanhar a intervenção. Esse grupo é composto por conservadores, restauradores, professores e pesquisadores de diferentes instituições. “Nosso objetivo é que o processo de restauração dos elementos artísticos integrados seja também um catalisador da produção de conhecimento no campo das ciências do patrimônio e áreas correlatas, como história da arte, arquitetura, história, museologia etc.”, afirma André Luis.

Gerido pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), o projeto de restauração foi viabilizado com recursos advindos de emenda parlamentar, e a previsão é que os trabalhos estejam concluídos em setembro deste ano. Até lá, interessados podem acompanhar os processos da restauração em visitas técnicas. (A solicitação e o agendamento de visitas devem ser feitos pelo e-mail educativomctp@gmail.com.)

Restauração precisa atravessar décadas de intervenções até alcançar decoração original
Restauração precisa atravessar décadas de intervenções até alcançar decoração original Foto: André Andrade | UFMG

O Museu
A antiga Casa do Padre Toledo foi transformada, em 1971, em um museu vinculado à Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade (FRMFA). Em razão de sua representatividade arquitetônica, histórica e artística, o casarão já havia sido tombado individualmente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1952. Atualmente, o edifício integra o Campus Cultural UFMG em Tiradentes, que por sua vez é gerido pela Diretoria de Ação Cultural da UFMG.

Hoje o Museu Casa Padre Toledo é um importante espaço de difusão da história de Minas Gerais e da Inconfidência Mineira. Constituído por uma estrutura principal com onze salas e um torreão, ele possui um rico conjunto de forros pintados, seu principal destaque. De fato, sua principal missão é a preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural referenciado em suas próprias singularidades arquitetônicas, geradas por diferentes técnicas construtivas, como pau-a-pique, adobe e moledo, e com elementos artísticos integrados. Em tempos normais, não pandêmicos, o museu costuma receber cerca de 30 mil visitantes por ano.

O Museu Casa Padre Toledo fica na Rua Padre Toledo, 191, em Tiradentes, Minas Gerais. Informações sobre o museu e suas atividades podem ser obtidas pelo telefone (32) 3355 1257, pelo e-mail campustiradentes@dac.ufmg.br, no www.ufmg.br/campustiradentes ou pelas redes sociais do museu e do Campus Cultural UFMG em Tiradentes.

Com Assessoria de Comunicação da Diretoria de Ação Cultural