'Universidades têm obrigação ética de democratizar o conhecimento', diz professora argentina
Em conferência, Carina Cortassa lembrou que 60% da produção científica na América Latina está concentrada em instituições públicas financiadas majoritariamente pelo Estado
“O conhecimento é o principal bem econômico e simbólico das sociedades contemporâneas. Ao mesmo tempo, ele é um dos bens mais desigualmente distribuídos no modelo de neocapitalismo cognitivo dessas sociedades. Democratizá-lo e promover a sua apropriação social são uma dimensão normativa – uma obrigação, uma responsabilidade – transversal a todas as funções das universidades públicas.”
Com esse argumento, a professora Carina Cortassa, da Universidade Nacional de Entre Ríos (Uner), da Argentina, sintetizou, na conferência que fez na tarde desta quinta-feira, 8 de julho, no lançamento da Política de Divulgação Científica da UFMG, o cerne de seu pensamento sobre a divulgação científica no âmbito das universidades públicas. Cortassa explicou por que a premissa dessa “dimensão normativa” da promoção da apropriação social do conhecimento se faz particularmente relevante na América Latina.
“A maior parte da ciência produzida na América Latina é pública: aproximadamente 60% do financiamento de pesquisa e desenvolvimento provém do Estado”, disse. “Na região, as universidades e os centros públicos de investigação concentram a capacidade de criação de conhecimentos, os recursos humanos de cientistas e pesquisadores e a infraestrutura que torna possível a produção de conhecimento”, acrescentou. “Na América Latina, as universidades públicas têm obrigação política e ética com a democratização e a apropriação social do conhecimento científico e técnico”, salientou.
Para Cortassa, que é doutora em Ciência e Cultura pela Universidade Autônoma de Madrid, mestre em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela Universidade de Salamanca e licenciada em Comunicação Social pela própria Uner, o caminho para essa democratização do conhecimento passa por garantir o acesso igualitário à educação, implementar mecanismos participativos de controle social, criar instâncias de implicação e interação não excludentes entre os cidadãos e as comunidades científicas e construir uma genuína esfera pública de discussão sobre ciência e tecnologia na qual todos tenham voz. “Esse processo de democratização do conhecimento está diretamente relacionado à criação de uma esfera pública participativa, aberta e plural de encontros entre a cidadania e a comunidade científica”, insistiu.
A conferência da pesquisadora argentina está disponível no canal da Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC) no YouTube, a partir do minuto 25.