Pesquisa e Inovação

Pesquisadores do ICB descobrem espécie de levedura que cresce em clima tropical

'Paffia brasiliana', resistente a temperaturas superiores a 30ºC, foi isolada em amostras de solo do Santuário do Caraça, em Minas Gerais

Colônias de Phaffia brasiliana, levedura produtora do pigmento astaxantina
Colônias de 'Phaffia brasiliana', levedura produtora do pigmento astaxantina Acervo da pesquisa

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG descreveram uma espécie de levedura do gênero Phaffia, produtora do pigmento carotenoide astaxantina, até então desconhecida pela ciência. Essa é a primeira vez em que se registra uma espécie do gênero em um ambiente de clima tropical – a levedura foi coletada de amostras de solo da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Santuário do Caraça, em Minas Gerais. O trabalho foi publicado no International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, da Sociedade de Microbiologia da Inglaterra.

A doutoranda em Microbiologia do ICB Ana Raquel de Oliveira Santos, uma das autoras do trabalho, explica que todas as outras espécies do gênero Phaffia são encontradas em regiões de clima temperado. “A levedura Phaffia brasiliana que descrevemos é a única capaz de crescer a 30°C; outras espécies de Phaffia não conseguem crescer em temperaturas superiores a 28°C. Trata-se de uma possível adaptação desse microrganismo ao clima de regiões tropicais.”

A espécie descoberta no estudo, que teve início em 2017, encontra-se depositada em estado metabolicamente inativo (congelada a -80°C) na Coleção de Microrganismos e Células da UFMG. Com base nesse acervo, o maior da América Latina, com cerca de 40 mil isolados de leveduras provenientes de ecossistemas tropicais brasileiros, já foram descritas mais de 100 espécies.

Segundo Ana Raquel Santos, que é mestre em Microbiologia, com ênfase em taxonomia e biodiversidade de levedura, a descoberta possibilita o uso industrial da espécie, como produtora de astaxantina. Entre as espécies de levedura, somente as do gênero Phaffia são capazes de produzir esse pigmento, comercialmente explorado por suas propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e antiapoptóticas.

 Alternativa biotecnológica
Ana Raquel explica que a astaxantina também é utilizada como suplemento alimentar para peixes, como o salmão, e crustáceos de aquacultura, para que adquiram coloração rósea, característica desses animais na natureza. A maior parte da astaxantina produzida comercialmente é obtida do cultivo da alga Haematococcus pluvialis. Mas a pesquisadora destaca que há expectativa sobre a produção desse pigmento por leveduras como uma promissora alternativa biotecnológica, com possibilidade de ser testada como probiótico humano, corante alimentar natural, ou mesmo para alimentação de animais de cativeiro.

A pesquisadora afirma que há uma grande biodiversidade microbiológica ainda desconhecida em território brasileiro, que pode gerar riqueza por meio da exploração comercial de microrganismos com potencial para produzir novas enzimas. Os próximos passos, segundo ela, seriam a caracterização da astaxantina produzida pela levedura e testes para a otimização da produção do composto.

Dez pesquisadores participaram do estudo, sob coordenação do professor Carlos Augusto Rosa, do Departamento de Microbiologia do ICB. Entre eles, três são da UFMG, cinco da Universidade Nova de Lisboa (Portugal), um do Instituto de Biodiversidade de Fungos Westerdijk (Holanda) e um da Universidade de Western Ontario (Canadá).

A pesquisa foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e pelo Conselho de Ciências Naturais e Engenharia do Canadá.

Dayse Lacerda | Assessoria de Comunicação do ICB