Pesquisa e Inovação

Nova edição da Revista FuLiA reúne reflexões sobre futebol em Moçambique

Um dos destaques do número é a participação da escritora moçambicana Paulina Chiziane, vencedora do Prêmio Camões de 2021

Rua no subúrbio de Maputo, em Moçambique, homenageia o jogador português Eusébio
Rua no subúrbio de Maputo, em Moçambique, homenageia o jogador português Eusébio Foto: Marílio Wane

Acaba de ser publicada uma nova edição da Fulia, revista científica e artística produzida pelo Núcleo de Estudos sobre Futebol, Linguagem e Artes (Fulia) da Faculdade de Letras da UFMG. Com o tema Futebol em Moçambique: arte e memória, esta edição foi produzida em parceria com a Embaixada do Brasil em Maputo, Moçambique, e do Leitorado Brasileiro da Universidade Eduardo Mondlane, a mais relevante instituição de ensino superior do país africano.

Um dos destaques da edição é o conto Mutola, da escritora moçambicana Paulina Chiziane, vencedora do Prêmio Camões de 2021, o mais importante prêmio da literatura em língua portuguesa. No conto, Paulina Chiziane “tensiona com destreza as relações de gênero no futebol”, como se explica na apresentação do texto, “a partir da história de Maria Lurdes Mutola, medalhista olímpica e mundial dos 800 metros, considerada a maior atleta moçambicana de todos os tempos, que começou sua vida esportiva praticando o futebol”.

O conto de Chiziane fecha a seção Poéticas, a última do volume, que conta também com o texto Pelé, Moçambique e a densidade simbólica dos selos postais, de Diano Albernaz Massarani, doutor em antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). O texto de Massarani faz uma reflexão sobre a filatelia futebolística, tendo como mote um mítico selo comemorativo do milésimo gol do maior craque do futebol mundial. Ao fim do ensaio, são apresentados alguns selos moçambicanos referentes ao universo do futebol.

O futebol em Moçambique
Os artigos desta “edição de debutante” (fundada em 2016, a revista chega à sua 15ª edição com o presente volume) abordam o futebol em Moçambique por diferentes vieses – como no artigo Um regresso à história do futebol na capital de Moçambique durante o período colonial, em que o doutor em antropologia social Nuno Domingos, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, aborda a relação do futebol com a estratificação social, as identidades sociais, a questão da masculinidade no contexto urbano e “as transformações das estruturas de poder africanas”, entre outros subtemas.

Outro exemplo é o artigo Estádio da Machava: 50 anos de uma triangulação entre Moçambique, Brasil e Portugal, do moçambicano Marílio Wane, pesquisador do Instituto de Investigação Sociocultural do Ministério da Cultura de Moçambique. No texto, Marílio aborda a efeméride do cinquentenário da inauguração do principal estádio de Moçambique, ocorrida em 2018, e suas implicações não só para Moçambique, mas também para Portugal e Brasil. Marílio Wane é também o autor da fotografia que ilustra o volume como um todo, que retrata uma rua do bairro da Mafalala, no subúrbio da capital Maputo, que leva o nome e a imagem do jogador português Eusébio.

“Destaca-se, ainda, a tradução para o português de duas canções em línguas bantu, xichangana e xirhonga que tematizam o futebol”, pontua Gustavo Cerqueira Guimarães. As traduções foram feitas pelo doutor em estudos comparados de literaturas de língua portuguesa Elídio Nhamona, da Universidade Eduardo Mondlane. As canções Prefiro ir ao futebol e Matateu, de Alexandre Langa e Gonzana, respectivamente, relatam as destrezas das equipes e dos jogadores de futebol moçambicanos, numa abordagem de fascinação do público pelo jogo e pelos jogadores, criando mitos sobre os poderes sobrenaturais que estes supostamente possuiriam.

Sobre
A FuLiA – Revista sobre Futebol, Linguagem, Artes e outros Esportes – é uma publicação científica e artística de fluxo contínuo, criada para “atender às demandas crescentes de publicações de pesquisas sobre o esporte em diálogo com os estudos culturais e da linguagem, das ciências sociais e humanas, das artes e mídias e do lazer”, como explica o pesquisador Gustavo Cerqueira Guimarães, um dos fundadores e editores da publicação.

A revista foi fundada em 2016 por Gustavo e Elcio Loureiro Cornelsen, professor titular da Faculdade de Letras da UFMG. No site da revista, informa-se que, em sua primeira avaliação pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ela conquistou em 2019 a pré-qualificação A4 (ainda provisória, já que, após o quadriênio 2013-2016, não houve nova avaliação pela Capes), passando de pronto “a figurar como um dos principais periódicos brasileiros que tematizam o esporte, entre as dezenas hoje existentes”, comemora Gustavo.

A revista aceita artigos e ensaios – preferencialmente de doutores – cujo conteúdo discuta questões teóricas e críticas pertinentes aos estudos da linguagem, da arte, da memória e da cultura em interface com o futebol e outros esportes. A publicação é editada pelo Núcleo de Estudos sobre Futebol, Linguagem e Artes (Fulia), fundado em 2010, o primeiro da área de letras dedicado exclusivamente ao futebol no Brasil.

Atualmente, a revista tem chamadas abertas para três dossiês, cujos temas são Esportes e homoerotismo, Futebóis e modernismos: 100 anos da Semana de 22, ambos com submissão até 15 de junho, e Futebóis, carnavalizações, performances: sonorizações da cultura popular, com submissão até 15 de agosto. Todas as informações sobre a publicação, como as normas para submissão, podem ser encontradas no seu site oficial.

Ewerton Martins Ribeiro