Desaparecida há mais de 60 anos, espécie de rã é encontrada por grupo do ICB
Descoberta é a segunda em quatro meses de pesquisa no Parque Nacional de Itatiaia, no Rio de Janeiro
Pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG encontraram, no Parque Nacional de Itatiaia, no Rio de Janeiro, um exemplar da espécie Holoaden luederwaldti, conhecida popularmente como rãzinha-verrugosa-da-serra-de-Luederwaldt. O último registro que se tinha dela data de 1957, na localidade de Brejo da Lapa, no próprio parque.
O registro foi realizado em fevereiro pela equipe de herpetologia (ciência que estuda os anfíbios e os répteis) do Departamento de Zoologia, que integra o projeto Diversidade desaparecida – procura de espécies de anfíbios consideradas desaparecidas no Parque Nacional do Itatiaia, coordenado pelo professor Paulo Christiano de Anchietta Garcia e pela residente de pós-doutorado Bárbara Zaidan.
Segundo a literatura científica, a rã pode medir de três a cinco centímetros de comprimento, e sua reprodução ocorre de outubro a dezembro. Seu nome faz alusão à pele cheia de glândulas. Essa espécie, curiosamente, tem desenvolvimento direto – não passa pelo estágio larval, ou seja, de girino.
Devido à sua raridade e ao baixo número de registros, a rãzinha figura na lista nacional de espécies ameaçadas de extinção, do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio).
A espécie também habita o Parque Estadual de Campos do Jordão, área que, assim como o Parque Nacional de Itatiaia, é caracterizada pelo ecossistema de floresta úmida da Serra da Mantiqueira, com altitudes que variam de 1.500 a 2.100 metros.
Organização do conhecimento
"O achado é o resultado parcial de uma pesquisa mais ampla, que visa descobrir o maior número possível de espécies que sumiram do Parque há mais de 30 anos”, explica o professor Paulo Garcia, que também integra os programas de pós-graduação em Zoologia e em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre.
De acordo com o docente, desde novembro de 2020, já foram realizadas três campanhas em Itatiaia. “É a segunda espécie rara de anfíbio encontrada, em um período relativamente curto”, orgulha-se Garcia.
O projeto tem o objetivo de organizar o conhecimento sobre as espécies do Parque, como forma de orientar os processos de tomada de decisão e as políticas públicas direcionadas ao manejo e à conservação da biodiversidade. “Precisamos de mais informações sobre nossa fauna e flora, para que seja possível manejar os recursos naturais com mais consciência”, diz o pesquisador.
Antes da Holoaden luederwaldti, a rã Hylodes regius, também endêmica e considerada desaparecida há décadas, havia sido encontrada pela equipe, com contribuição de pesquisadores de outras instituições. “Isso mostra o impacto e a importância da preservação da área do Parque de Itatiaia para a conservação da fauna”, observa Bárbara Zaidan.
O projeto é financiado pelo CNPq e pela organização The Mahamed bin Zayed Species Conservation Fund, dos Emirados Árabes.
[Matéria corrigida no dia 3/3/2021, às 10h10: o último registro sobre a rã, no Parque Nacional de Itatiaia, data de 1957 e não dos anos 1970, como constava da versão inicialmente publicada.]