Faculdade de Letras sedia jornada sobre a Guerra Civil Espanhola
Para os organizadores, luta espanhola contra o fascismo pode iluminar discussões sobre o presente, tempo em que 'propostas políticas extremistas abalam os alicerces da democracia'
Em 2019, completam-se 80 anos do fim da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), conflito que lançou o povo espanhol em um regime ditatorial de quase 40 anos, que sujeitou milhares de pessoas a exílio, condenações arbitrárias, julgamentos fraudulentos, desaparecimentos e execuções sumárias.
Para debater o tema, pesquisadores da UFMG, da USP, da Unifesp, da UFRJ e da PUC-Rio vão se reunir na UFMG na próxima segunda, 28, para um dia inteiro de mesas-redondas, palestras e debates. A Jornada Espanha 1939 – o ano que não acabou ocorre das 8h às 19h, no auditório 2001 da Faculdade de Letras (Fale), e é aberta ao público geral.
“Além de promover o debate interinstitucional, o evento nos possibilitará também ‘escovar a história a contrapelo’, expressão sabiamente formulada pelo pensador alemão Walter Benjamin não no sentido de que o passado possa se revelar como, ontologicamente, se sucedeu, mas, sim, no sentido de como ele nos auxilia a pensar o presente como algo que ‘relampeja num momento de perigo’ – como este que se anuncia nos dias atuais, em várias partes do mundo”, afirma o professor Elcio Cornelsen, da Faculdade de Letras, um dos organizadores do evento.
Um dos destaques da programação é a conferência que fará Jaime Ginzburg, professor do Departamento de Literatura Brasileira da USP, sobre o tema Linguagem, medo e poder. Sua fala será das 11h às 12h30 e é promovida pelo Comitê da UFMG em Defesa da Democracia, grupo formado por professores, estudantes e servidores técnico-administrativos com o objetivo de resguardar os direitos democráticos e as garantias constitucionais em todos os âmbitos da Universidade contra ataques às liberdades individuais e a favor dos direitos de manifestação e organização de qualquer membro da comunidade universitária.
Além de Ginzburg, participam do evento Ivan Martin, da Unifesp, Karl Erik Schøllhammer, da PUC-Rio, Sílvia Cárcamo, da UFRJ, e Ana Lúcia Esteves, Elcio Cornelsen, Elisa Amorim e José Otaviano da Mata Machado, da UFMG. Valeria de Marco, também da USP, fará a palestra de encerramento, às 18h30, sobre A criação da censura franquista durante a Guerra Civil. A programação está disponível no site da Faculdade de Letras (Fale).
“Há décadas, pesquisadores de instituições brasileiras têm-se dedicado aos estudos sobre a Guerra Civil Espanhola, principalmente em relação à memória, ao testemunho, à literatura, ao cinema e às artes. Em um mundo em que propostas políticas radicais e extremistas têm abalado os alicerces da democracia moderna, refletir sobre a Guerra Civil Espanhola e as consequências desse conflito fratricida, resultado do colapso do sistema democrático e republicano, provocado pelos radicalismos, nos possibilita, também, reconhecer comportamentos políticos de outrora partilhados por movimentos extremistas na atualidade”, afirma Elcio Cornelsen.
Contra o esquecimento
Segundo a professora Elisa Maria Amorim Vieira, da Fale, que também organiza o evento, a etapa de transição para a democracia, iniciada em 1975 na Espanha com a morte do general Francisco Franco, foi marcada pelo chamado “pacto del olvido”, segundo o qual o processo de redemocratização exigia que fossem proativamente esquecidas as injustiças cometidas durante a guerra civil e o período ditatorial. Contudo, lembra Elisa, apesar dessa tentativa de esquecimento forçado, uma grande parte da sociedade espanhola seguiu discutindo – até os dias atuais – a questão da impunidade de crimes cometidos pelo terrorismo de Estado.
“Tanto a literatura quanto as artes plásticas e o cinema têm tratado, das mais variadas formas, das memórias silenciadas e daquelas que se fizeram ouvir, apesar de todos os riscos e impedimentos. Considerando a relevância dessas produções artísticas, muitas delas produzidas no âmbito do exílio na América Latina, acreditamos ser imprescindível rememorar essas oito décadas de resistência ao autoritarismo e ao esquecimento e, com isso, estimular a reflexão crítica acerca de um tema tão atual”, afirma a professora.