HC reduz índice de superlotação no pronto-socorro
Resultado foi alcançado com metodologia que melhora processos baseado no tempo
Menos pacientes nos corredores. Esse é o cenário observado na unidade de urgência e emergência do Hospital das Clínicas da UFMG /Ebserh, que reduziu em 62% o indicador Nedcos (sigla em inglês para Escala de Superlotação do Departamento Nacional de Emergência), um score que calcula superlotação. O tempo de permanência do paciente internado no pronto-socorro diminuiu em 19%, e a média de permanência dos leitos de retaguarda diminuiu 22,5%. Esses números são resultado da adoção, nos últimos seis meses, da metodologia Lean, que busca reduzir a superlotação nas urgências e emergências de hospitais públicos e filantrópicos.
O HC-UFMG/Ebserh é o 39º hospital brasileiro a empregar o método. Várias ações foram implementadas para otimizar a eficiência dos processos e agilidade dos fluxos. Uma das principais estratégias é o Plano de Capacidade Plena (PCP), que consiste no gerenciamento de atividades com o objetivo de programar e controlar o que foi estabelecido, impedindo que se perca o foco. Segundo a chefe da unidade, Melissa Prado de Brito, o plano é acionado de acordo com os níveis de superlotação do pronto-socorro. “Atendemos, em média, 40 pessoas por dia. Os nossos pacientes são, em sua maioria, crônicos e com quadros complexos, e grande parte demanda internação. Assim como várias instituições no Brasil, a emergência do HC tinha uma taxa de ocupação acima do ideal”, afirmou.
Causas da superlotação
A unidade de urgência e emergência do Hospital possui 66 leitos e 16 pontos de atenção nos corredores. “Já chegamos a ter 60 pacientes nos corredores, número que foi reduzido à metade desde o início do projeto Lean nas emergências”, informa Melissa. Segundo ela, as causas da superlotação nas emergências são múltiplas: pacientes aguardando leitos (boarding), baixo giro de leitos hospitalares, taxas de ocupação acima de 90%, fluxos de pacientes eletivos e de pacientes urgentes sem separação, fluxos pouco operantes, considerando os processos e a integração com a rede, e processos de trabalho mal planejados, com execução de atividades que não agregam valor para o paciente.
Esse cenário causa prejuízos no tratamento e na evolução clínica dos pacientes, podendo contribuir para o aumento da mortalidade em até duas vezes, a partir de 12 horas, aumento do tempo de permanência hospitalar de 4 a 7 dias e de erros médicos. “O HC-UFMG é um hospital universitário muito grande e com vários problemas comuns de um hospital que recebe muitos pacientes com quadros complexos. Não se pode esperar que esses pacientes passem por internações curtas. Foi uma grata surpresa ver, seis meses após a implantação do Lean, que a enfermaria que recebe a maioria dos pacientes do pronto-socorro reduziu de 18 para 12 dias a taxa média de permanência dos pacientes”, destaca Marcello Pedreira, médico consultor do Hospital Sírio Libanês para o projeto Lean nas Emergências.
A ideia, agora, é dar sequência às ações, ajustando o que for necessário em busca de se atingir a meta de 25 pacientes no corredor. Para isso, um grupo executivo composto de gestores e profissionais da assistência do pronto-socorro do HC reúne-se semanalmente para discutir indicadores e processos, que são monitorados diretamente pela equipe do projeto em Brasília. “Todos os indicadores são disponibilizados para uma central de controle do projeto, e qualquer discrepância nos dados será verificada”, afirma o especialista de processos do Hospital Sírio Libanês Daniel Meireles.
O projeto
O Projeto Lean nas Emergências, do Ministério da Saúde, é desenvolvido por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi/SUS) e executado em parceria com o Hospital Sírio-Libanês. O seu objetivo é reduzir a superlotação nas urgências e emergências de hospitais públicos e filantrópicos por meio do uso da metodologia Lean, filosofia de gestão que visa melhorar processos baseada em tempo e valor, desenhada para assegurar fluxos contínuos e eliminar desperdícios e atividades de baixo valor agregado.