Opinião

Manifesto dos ex-reitores da Universidade Federal de Minas Gerais

Dirigentes de seis gestões anteriores conclamam a sociedade a defender Instituição

Bandeiras de Minas Gerais, do Brasil e da UFMG hasteadas diante do prédio da Reitoria
Bandeiras de Minas Gerais, do Brasil e da UFMG hasteadas diante do prédio da Reitoria Foca Lisboa

Os abaixo-assinados, ex-reitores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), vêm a público manifestar sua indignação perante os ataques de diferentes naturezas de que são alvo as universidades públicas federais brasileiras, entre elas a UFMG. 

Membros do governo e várias redes sociais estão, há algum tempo e com crescente intensidade, divulgando imagens e acusações, algumas pontuais e outras genéricas e infundadas, visando macular instituições que constituem um patrimônio do país, construído durante décadas com a contribuição de várias gerações de brasileiros e brasileiras. Somam-se a isso violações constantes do preceito constitucional que garante a autonomia universitária.

As universidades públicas respondem pela quase totalidade da pesquisa brasileira e por mais de 80% dos cursos de mestrado e doutorado do país. Formaram ao longo de sua história muitos dos melhores quadros profissionais do país em todos os campos do conhecimento. Para exemplificar, são ex-alunos da UFMG Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves, Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade. 

O Hospital das Clínicas da UFMG, hospital universitário de ensino, pesquisa e extensão, exclusivo para atendimento pelo SUS, é o único em Minas Gerais que garante, para esse sistema, a oferta de procedimentos de alta complexidade, como transplantes, e mantém um centro de telessaúde, que atende vários municípios mineiros. O Hospital Risoleta Tolentino Neves, desde sua implantação pela UFMG em 2006, também com atendimento exclusivo pelo SUS, tornou-se elemento indispensável à rede do Estado de Minas Gerais e Região Metropolitana.

A extensão universitária saiu de seus limites geográficos e implantou programas de alto impacto social, contribuindo, de forma decisiva, para a solução de graves problemas da sociedade brasileira, especialmente nas regiões mais carentes.

No campo da pesquisa, fundamental para o avanço do conhecimento, a UFMG possui, entre as universidades brasileiras, o maior número de patentes depositadas no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) e no World Intellectual Property (WIPO). A insulina humana recombinante para o combate ao diabetes mellitus e a vacina contra a leishmaniose são apenas dois exemplos de pesquisas desenvolvidas na UFMG que trazem enormes benefícios para a população brasileira. 

A extensão universitária saiu de seus limites geográficos e implantou programas de alto impacto social, contribuindo, de forma decisiva, para a solução de graves problemas da sociedade brasileira, especialmente nas regiões mais carentes. Um exemplo é o programa Participa UFMG, que atua na reconstrução de Mariana e Brumadinho.

Pela avaliação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), vinculado ao MEC, a graduação da UFMG é classificada com a nota máxima (5). Entre seus cursos de pós-graduação, 66% estão avaliados pela Capes em nível de excelência. Nos rankings de universidades, a UFMG também se destaca. Classificou-se, no Ranking de Universidades Folha (RUF), em primeiro lugar, na dimensão ensino, e em terceiro lugar no âmbito geral no Brasil. Pelo Times Higher Education (THE), a UFMG está classificada entre as 10 melhores instituições de ensino superior da América Latina e entre as 300 melhores do mundo.

Esse é o patrimônio que vem sendo desrespeitado e maculado, seja pela má-fé daqueles que desejam destruir as universidades públicas, seja pelo desconhecimento dos que acreditam facilmente em qualquer informação divulgada sem nenhuma comprovação. Esse tipo de notícia certamente visa criar condições para o desmonte do parque universitário público, que tanto vem contribuindo para o desenvolvimento do país.

Reconhecemos a grave situação econômica em que se encontra o país. Mas é sabido que, em épocas de crise, é necessário garantir que sejam preservados os investimentos portadores de futuro, que promovem o desenvolvimento da nação.

Aos ataques contra dirigentes e membros da comunidade universitária somam-se os sucessivos cortes orçamentários, que assumiram recentemente uma proporção tal que inviabilizará o funcionamento das universidades, comprometendo a formação de recursos humanos e interrompendo de forma irreparável projetos de pesquisa em andamento, vitais para o futuro da economia e da sociedade brasileiras.

Como se não bastasse esse desmonte, as agressões contra as universidades e seus membros ultrapassaram todos os limites da civilidade e da convivência democrática e respeitosa. Palavras ofensivas e atitudes inaceitáveis são usadas contra dirigentes, professores, servidores e estudantes. Áreas importantes como as humanidades, relevantes e imprescindíveis para a formação crítica e cidadã, são desvalorizadas em falas dos principais dirigentes do país.

Reconhecemos a grave situação econômica em que se encontra o país, mas, em épocas de crise, é necessário garantir que sejam preservados ao menos os investimentos portadores de futuro, que promovem o desenvolvimento da nação.

Como ex-reitores, sabemos que, por mais competente e eficiente que seja a gestão da UFMG, não há como assimilar os cortes orçamentários atuais sem gravíssimos prejuízos ao ensino, à pesquisa e à extensão. As consequências serão imensas para o futuro de Minas Gerais e do Brasil.

Por isso, conclamamos a sociedade de Minas Gerais e do país, assim como nossos parlamentares, a se juntarem a nós e à comunidade da UFMG em defesa desta Instituição que nos foi legada pelos que nos antecederam e que devemos preservar para as próximas gerações.

Tomaz Aroldo da Mota Santos (gestão 1994-1998)
Francisco César Sá Barreto (gestão 1998-2002)
Ana Lúcia Almeida Gazzola (gestão 2002-2006)
Ronaldo Tadêu Pena (gestão 2006-2010)
Clélio Campolina Diniz (gestão 2010-2014)
Jaime Arturo Ramírez (gestão 2014-2018)