Pesquisa e Inovação

Pesquisadores da UFMG integram câmara nacional que monitora avanço da 'monkeypox'

Endêmico na África, vírus que causa doença de mesmo nome nunca foi registrado no Brasil

Em vermelho, no mapa, países onde a infecção já foi confirmada em 2022
Em vermelho, no mapa, países onde a infecção já foi confirmada em 2022 ArcMachaon | CC BY-SA 4.0

Comissão instituída pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), por meio da Rede Vírus, monitora, desde a semana passada, a evolução dos casos da monkeypox e o avanço da doença, especialmente em países da Europa. Instituída na quarta-feira, 18 de maio, a Câmara Técnica Temporária Pox-MCTI reúne sete especialistas em diferentes áreas, entre eles cinco professores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG — quatro do Departamento de Microbiologia (Erna Geessien Kroon, Flávio Guimarães da Fonseca, Giliane de Souza Trindade e Jônatas Santos Abrahão) e um do Departamento de Bioquímica e Imunologia (Mauro Martins Teixeira) — e a professora Ana Paula Fernandes, do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Farmácia. O grupo é completado por Fernando Rosado Spilki, da Universidade Feevale.

A professora Giliane Trindade, uma das especialistas nos vírus pox, explica que a função da câmara temporária é estar alerta para o avanço do monkeypox — agente causador da doença —, acompanhar a evolução dos casos registrados em todo o mundo e oferecer suporte científico para políticas públicas emergenciais. “Nossa tarefa é oferecer vigilância científica. Estamos atentos à evolução rápida do vírus pela Europa e monitorando sua possível entrada no Brasil para pensar estratégias”, diz. 

Segundo a pesquisadora, a atual disseminação do vírus é atípica no que diz respeito à forma e à velocidade, o que torna ainda mais necessários a vigilância e o acompanhamento dos casos. Em relação ao preparo do país para lidar com a entrada do monkeypox, Giliane Trindade elenca alguns pontos de atenção dos pesquisadores da Câmara Pox-MCTI, como diagnóstico, possíveis tratamentos e vacinas. “Já existem imunizantes para prevenção da doença, mas nenhum deles está disponível no país. Por ora, temos que orientar os gestores sobre a necessidade da vacina e até mesmo estimular a pesquisa entre os laboratórios nacionais, para que possam se organizar para a produção desses imunizantes”, enfatiza. 

O vírus causador da monkeypox é endêmico na África e nunca foi diagnosticado no Brasil. Por outro lado, a disseminação observada em países da Europa nas últimas semanas também é inédita, segundo Giliane Trindade, e indica a iminência de sua chegada ao país. Para a especialista, não há como prever com exatidão quando o vírus chegará, mas, tendo em vista o crescimento do número de casos e o ineditismo do atual espalhamento, “esse momento [de chegada do vírus ao Brasil] está para acontecer”.

“O número de casos confirmados aumenta a cada dia, assim como o de localidades geográficas com ocorrências relatadas. O vírus começou a se disseminar no Reino Unido. Em seguida, foi identificado em Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha e Áustria. Já há casos informados nos Estados Unidos, no Canadá, na Austrália, e a Argentina também reportou um caso suspeito”, relata a pesquisadora.  

A doença

'Monkeypox' vírus se assemelha ao agente causador da varíola humana
A monkeypox é uma doença silvestre, cuja prevenção pode ser feita evitando o contato com animais e higienizando frequente as mãosFoto: ONU

Causada pelo vírus monkeypox, que se assemelha ao agente causador da varíola humana, a infecção se caracteriza por sintomas como febre, dor de cabeça, dor no corpo, fadiga, lesões na pele e inflamação de linfonodos. Pode ser transmitida pelo contato direto com secreções respiratórias, lesões na pele, fluidos corporais e objetos contaminados. Ainda não há tratamento específico, e a recomendação é o isolamento de pessoas infectadas, para evitar a transmissão. As medidas preventivas incluem evitar o contato com animais infectados e fazer a higiene frequente das mãos. 

A doença não oferece maiores riscos, e o tratamento para os casos não complicados consiste no cuidado geral e paliativo das lesões. Giliane Trindade afirma, no entanto, que essa infecção também pode se desenvolver de forma grave, com letalidade que varia de 1% a 10%, dependendo de características do paciente e da amostra do vírus. “Há espécies do vírus mais e menos virulentas. Felizmente, até o momento, o que se tem observado nesses casos é uma amostra menos virulenta”, pontua a professora.

Hugo Rafael | Com informações da Rede Vírus do MCTI