Evento discute efeitos do fogo sobre a vida do cerrado
Especialistas de diferentes grupos de estudo da fauna e da flora vão se encontrar, nos dias 22 e 23 de agosto de 2019,no 1º Workshop Ignite: subsídios para o manejo de fogo no Cerrado. Aberto a todos os interessados a inscrição gratuita pode ser feita preenchendo formulário eletrônico. Estudantes de ensino médio, além de pesquisadores e estudantes universitários podem participar, assim como todos os interessados no assunto.
O objetivo do encontro é discutir formas científicas de identificar espécies vulneráveis que posteriormente serão utilizadas como indicadoras para a definição de limiares de regime de fogo apropriados para a conservação da biodiversidade.
Estão previstas sete palestras sobre a ecologia e manejo do fogo no Cerrado, além de mesas redondas para discussão e esclarecimento de dúvidas. Segundo Eugênia Batista, uma das organizadoras do encontro, ele integra o processo de desenvolvimento de um software gratuito (Ignite - Fire for People and Ecosystems), o qual é voltado para orientar o processo de planejamento, execução e monitoramento do manejo de fogo no bioma de solo predominantemente seco e arenoso.
O projeto é coordenado Geraldo Wilson Fernandes, professor no programa de pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre e coordenador do Laboratório de Ecologia Evolutiva e Biodiversidade do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
As atividades acontecem na Escola de Engenharia da UFMG, a partir das 8h30, na quinta e, na sexta-feira, na sala 1012. Haverá emissão de certificado.
Progrmação
Na quinta-feira, 22 de agosto, às 9h, logo na abertura do Workshop, Eugênia Batista, pesquisadora da UFMG e especialista em ecologia e manejo do fogo, apresenta o ‘Projeto Ignite’, que tem como objetivo o desenvolvimento de um software gratuito de gestão do fogo no Cerrado. Segundo a pesquisadora, a ferramenta deverá ajudar na tomada de decisões de manejo, assim como apoiará os gestores públicos no processo de planejamento, execução e monitoramento das ações.
Na sequência, o professor Fernando Silveira, pesquisador do ICB, discutirá os efeitos do fogo sobre a germinação de sementes. O professor José Eugênio Côrtes Figueira, também pesquisador do ICB, abordará conceitos e estudos sobre a ecologia do fogo. Após as três palestras, haverá um espaço para perguntas e discussão com os apresentadores.
À tarde, Milton Barbosa, especialista em redes de interações ecológicas, discutirá sobre a importância de se considerar as relações estabelecidas entre as espécies no planejamento e monitoramento das ações de manejo. Em seguida será a vez de Ubirajara Oliveira, pesquisador do Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG, apresentar o modelo de espalhamento do fogo no Cerrado, o qual vem sendo desenvolvido pela equipe do professor Britaldo Soares no Instituto de Geociências da UFMG (IGC). Finalmente, Christian Berlinck, coordenador de prevenção e combate a incêndios do ICMBio, apresentará as metodologias e resultados parciais do manejo integrado do fogo em Unidades de Conservação federais.
Na sexta-feira, 23, o evento acontece apenas na parte da manhã. Às 8h30, Heloisa Miranda, professora e pesquisadora da Universidade de Brasília, apresenta resultados de pesquisa de longa duração que estudou o comportamento do fogo e seus efeitos sobre a flora do Cerrado.
Fogo no cerrado
O fogo tem moldado a evolução das plantas e ciclos biogeoquímicos globais por milhões de anos. No entanto, o uso do fogo em atividades humanas tem alterado os padrões naturais de regimes de fogo no Cerrado e submetido a fauna e a flora a frequências e intensidades de fogo inéditas. Ao perder o controle do fogo ele pode atingir grandes áreas e se tornar extremamente difícil de ser combatido. Apesar dos gastos econômicos e do risco à vida, após a queima a vegetação reinicia o processo de regeneração natural, cujo ritmo varia entre as diferentes fisionomias do Cerrado.
Segundo Eugênia Batista, se a ignição acontece no final da estação seca, entre agosto e outubro, quando a temperatura é elevada e a umidade mais baixa, o fogo tende a ser mais intenso e severo, causando grandes prejuízos à biodiversidade. “Esse tipo de ocorrência provoca a morte de animais, seja diretamente pelas chamas ou indiretamente pela intoxicação por fumaça, indisponibilidade de recursos e predação aumentada”, afirma.
Por outro lado, a pesquisadora lembra ainda que o fogo tem sido usado como ferramenta para controlar o acúmulo de biomassa. “Isso é possível porque quando o fogo atinge uma área que foi manejada anteriormente, não encontra material disponível para queima e acaba se dissipando espontaneamente”, explica a pesquisadora.
“Esse método é conhecido como “queima prescrita” e faz parte de um conjunto maior de ações que compõem o manejo integrado do fogo. Ao contrário do “fogo ruim”, as queimas prescritas são benéficas porque possuem pequenas extensões, baixa intensidade e severidade. Isso permite a rápida regeneração da vegetação, retorno da fauna e recuperação das funções e processos ecossistêmicos”, distingue.
Ainda na visão de Eugênia Batista, os próximos passos do grupo de pesquisa que ela integra no ICB envolvem a inclusão de uma abordagem mais adaptativa e ecológica no manejo do fogo. “Isso requer uma participação ativa da universidade no fornecimento de subsídios científicos para os gestores nos processos de tomada de decisão”, afirma. “Esta etapa inclui a identificação das espécies potencialmente mais vulneráveis ao fogo para que seus limites de tolerância e demandas biológicas sejam devidamente considerados no planejamento de ações e monitoramento dos resultados”, esclarece a pós-doutoranda.
(Fonte: Assessoria de Comunicação Social e Divulgação Científica do ICB)