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300 anos de Minas: resquícios de uma política conservadora

Série especial da Rádio UFMG Educativa investiga origens da baixa representatividade das minorias no Estado

O Parlamento mineiro deixou Ouro Preto em 12 de dezembro de 1897 e um dos endereços que o Senado ocupou na nova Capital foi na Avenida João Pinheiro, onde hoje funciona o Museu Mineiro.
O Parlamento mineiro deixou Ouro Preto em 12 de dezembro de 1897 e um dos endereços que o Senado ocupou na nova Capital foi na Avenida João Pinheiro, onde hoje funciona o Museu Mineiro. Acervo ALMG

A primeira reportagem sobre os 300 anos da política em Minas Gerais abordou os primeiros anos da capitania, passando pelo Ciclo do Ouro, pela Inconfidência Mineira e sua influência na Independência do Brasil. Mostrou, também, como o conservadorismo foi introduzido no Estado.  

Na segunda reportagem, a proposta é entender melhor os motivos da pouca presença de mulheres, negros, LGBTs e outros grupos minoritários em cargos de poder, ainda hoje. 

Com o fim da escravidão, em 1888, os homens negros conquistaram, formalmente, o direito ao voto no Brasil. Mas, na prática, a mudança não se efetivou já que, desde 1881, o voto não era concedido a pessoas não alfabetizadas, condição da grande maioria dos negros egressos do cativeiro. Os analfabetos só ganharam o poder de voto em 1985, com uma emenda à Constituição de 1967. 

As mulheres conquistaram esse direito décadas antes, em 1932, exercido pela primeira vez nas eleições de 1935. No entanto, em função da ditadura do governo Getúlio Vargas, entre 1937 e 1945, elas só voltaram a votar em 1946. 

As minorias permanecem sub-representadas na política em Minas Gerais. Em nenhum momento da história, houve uma pessoa negra ou uma mulher como chefe do Executivo estadual, tampouco na prefeitura da capital, Belo Horizonte. Dos 77 deputados na Assembleia Legislativa de Minas, apenas 10 são mulheres, na atual legislatura. 

Na reportagem, a coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da UFMG e professora do Departamento de Ciência Política, Marlise Matos, explica que os valores predominantes na política mineira dificultam a chegada das minorias aos postos decisórios.

Professora Marlise Matos (Nepem/UFMG)
Professora Marlise Matos (Nepem/UFMG) Karine Barreto | CMBH

Segundo o Tribunal Regional Eleitoral, as mulheres representam 52% do eleitorado mineiro, o equivalente a mais de 8 milhões de eleitoras. Porém, elas são minoria nas candidaturas. Nos pleitos municipais de 2020, do montante de 80.108 concorrentes aos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador em Minas, elas totalizaram 26.301 candidatas. Somente 286 mulheres concorreram às prefeituras neste ano, contra 2.475 candidatos homens. 

Na avaliação da professora Heloísa Starling, do Departamento de História da UFMG, para reverter as ações reacionárias e conservadoras que impedem a maior presença das minorias em cargos de poder na política é necessário entender, de forma mais ampla, a formação da nossa democracia. “Eu acho que nós precisamos fazer é entender a formação da democracia como modo de vida. Nós perdemos essa oportunidade.....de discutir com a sociedade mineira o que é praticar democracia no cotidiano. Não adianta pensar só na eleição, eu tenho que pensar nos valores da democracia uma prática cotidiana e talvez o nosso grande erro diante de uma cultura política que tem uma matriz conservadora, diante da emergência de forças muitas reacionárias tenha sido esse, não discutir com a sociedade a democracia.” 

Ouça a segunda reportagem sobre a política em Minas

Este programa foi produzido por Arthur Bugre e apresentado por Breno Benevides, com edição de Alicianne Gonçalves e Tiago de Holanda