Notícias Externas

A morte de Marília Mendonça e o fenômeno do luto coletivo

Em entrevista ao programa Conexões, professor da UFMG Cláudio Paixão refletiu sobre como a partida de uma celebridade como a cantora afeta um grande número de pessoas

‘Rainha da sofrência’ morreu aos 26 anos e no auge da carreira
‘Rainha da sofrência’ morreu aos 26 anos e no auge da carreira Humor Multishow

O Brasil enfrenta um momento de luto coletivo desde a perda da cantora e compositora Marília Mendonça, no dia 5 de novembro, após a queda da aeronave que levava a artista e parte de sua equipe para um show no interior de Minas Gerais. Só no velório dela e de seu tio, no dia seguinte, mais de 100 mil pessoas compareceram para se despedir. A morte precoce da goiana trouxe uma dor difícil de se assimilar para os brasileiros e muitos não conseguem entender a origem do próprio pesar por alguém que nem mesmo conheciam. 

Marília tinha 26 anos e estava no auge da carreira. Conhecida carinhosamente como a ‘rainha da sofrência’, suas letras cantavam o mundo a partir da perspectiva das mulheres e foram responsáveis por inserir e destacar de vez a figura feminina no meio do sertanejo, consagrando o chamado 'feminejo'. Ela deixa um filho de dois anos. Uma perda como essa também gera questionamentos que fazem repensar a vida e reflexões sobre como lidar com a partida repentina de uma pessoa querida.

Para falar sobre o luto coletivo e ajudar a entender melhor essa dor que tomou conta de todo o Brasil, o programa Conexões dessa sexta,12, teve a participação do professor da Escola de Ciência da Informação da UFMG, doutor em psicologia social e psicólogo clínico, Cláudio Paixão. Ele abordou questões relativas ao luto individual e, principalmente, ao luto coletivo, inclusive traçando paralelos entre a comoção pela morte de Marília Mendonça e o luto relativo às mais de 600 mil mortes causadas pela covid-19 desde o início da pandemia.

Segundo Paixão, a reação de grande dos parte dos brasileiros à morte trágica da cantora tem relação com um fenômeno de massa. Nesse cenário, “é como se uma pessoa que está triste, fosse potencializando a outra pessoa. E essas duas criam um ciclo, as pessoas só falam disso, vão vivendo isso e cria-se uma desconexão, digamos, do que seria um pensamento mais claro, mais lúcido, levando a um movimento coletivo. Esse grupo começa a se envolver de uma forma tal que esse sofrimento é aumentado e as pessoas começam a vibrar nessa tristeza. E é um processo importante porque o luto traz uma confrontação da gente com a nossa própria finitude. Eu penso que eu também vou morrer. Penso no que eu fiz da minha vida. A partir da morte da Marília e da permanência do filho dela, as pessoas pensam ‘E se fosse eu?’, ‘E se fosse meu ex-companheiro cuidando de uma criança?’, ‘E se fosse minha mãe?’. As pessoas se amparam, pois se tornam irmanadas em Marília, em Freddie Mercury, ou em qualquer um desses grandes artistas que morreram”, refletiu.

Ouça a entrevista completa no SoundCloud.

Produção: Enaile Almeida, sob orientação de Hugo Rafael e Luiza Glória
Publicação: Alessandra Dantas