Institucional

Acadêmicos e parlamentares defendem ação conjunta para proteger a ciência brasileira

Governo federal deve ser pressionado a rever os cortes no FDCT, avaliaram debatedores de evento organizado pela SBPC

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Acadêmicos repercutiram a postura do Ministério da Economia e conclamaram a comunidade científica a lutar contra os cortesRaphaela Dias | UFMG

Na mesa virtual com o tema Cortes no orçamento do MCTI: qual a solução?, realizada na tarde desta sexta-feira (15), especialistas em educação que representam diferentes setores e instâncias do país repercutiram os impactos do corte de R$ 600 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNCT), determinado pelo Ministério da Economia.

O evento, que compôs a programação da mobilização em defesa da ciência, foi organizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e transmitido em seu canal no YouTube.

O deputado federal Alessandro Molon (PSB/RJ) afirmou que o governo federal, desde o início de seu mandato, manteve “postura refratária às universidades”. “Ex-ministros se referiram às universidades públicas como ‘locais de balbúrdia’, o que é uma injustiça absoluta e representa desconhecimento do que a universidade brasileira vem produzindo”, lembrou. O deputado também lamentou o fato de muitos cientistas brasileiros estarem deixando o país por causa das más condições de pesquisa. “Estamos exportando cérebros”, resumiu.

Rasteira
A deputada federal Joice Hasselmann (PSL/SP) acredita que o próprio Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) é refém do Ministério da Economia nesse episódio. “Temos que cobrar diretamente da fonte”, defendeu. A opinião é compartilhada pelo senador Izalci Lucas (PSDB/DF). “O ministro Paulo Guedes desconhece a ciência, a inovação e a tecnologia que é produzida no Brasil”, criticou.

A vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Nader, relatou algumas impressões que teve ao longo de reuniões com os integrantes do Ministério da Economia  e destacou que "o orçamento para os institutos de ciência está à míngua”.  

O presidente do CNPq, Evaldo Vilela, afirmou que é urgente “uma ação conjunta e forte para proteger a ciência brasileira”. “De repente, levamos uma rasteira, e as adversidades são muito grandes”, comentou. No entendimento do presidente da ABC, Luiz Davidovich, o Brasil retrocede enquanto outros países crescem com investimentos expressivos em ciência. “O governo tem gastado com coisas que não geram retorno, ou seja, faz um grande esforço para frear o desenvolvimento do país”, ironizou.

Mobilização
Na abertura do evento, os especialistas alertaram para a necessidade de mobilização de todas as instâncias da educação brasileira, visando pressionar o governo federal a reverter os cortes.

O representante da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, defendeu a “construção de um projeto que resista a esse quadro de desmonte e indique rumos para um país diferente”. Esse movimento favorece a defesa de “algo muito evidente”, pois é “crucial para a sociedade e para o desenvolvimento econômico do país e sua evolução”, sustentou o presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa  (Confap), Odir Dellagostin.

A presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Bruna Brelaz, lembrou que a atual geração de universitários “viu serem atacadas e desmontadas todas as perspectivas da universidade”. “Cabe aos estudantes e aos setores científicos mobilizar, denunciar e pressionar”, conclamou.

Também para o representante da Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP), Celso Pansera, os movimentos de professores devem se organizar para a reivindicação de anulação dos cortes. “Os recursos da ciência brasileira estão presos nos cofres do governo. Não estão indo para onde deveriam ir”, afirmou.

O compromisso dos educadores de hoje é com as gerações futuras, avaliou o presidente do Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica (Confies), Fernando Peregrino: “Todos devemos nos mover para o bom combate, para o bem, para que no futuro as pessoas não se envergonhem de nós”, projetou.

O debate foi mediado pelo ex-ministro da Educação e atual presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro.

Nas redes
A sexta-feira foi de intensa mobilização da comunidade científica brasileira, com vários eventos articulados pela SBPC e regionais – como o organizado pela SBPC Minas – e entidades acadêmicas de todo o país. Na parte da manhã, um tuítaço com as hashtags #SOSCiência e #LiberaFNCT movimentou as redes sociais.

Matheus Espíndola