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Antes e depois do combate a epidemias: movimentos antivax e carência de colaboração planetária

Nos 105 anos da morte de Oswaldo Cruz, semelhanças e diferenças entre a vacinação antivariólica e a vacinação contra a covid-19 são revistas

Professora e historiadora Myriam Bahia defende a necessidade de se pensar numa colaboração planetária para vencer a corrida contra vírus da covid-19 e suas mutações
Professora e historiadora Myriam Bahia defende a necessidade de se pensar numa colaboração planetária para vencer a corrida contra vírus da covid-19 e suas mutações Divulgação


Há décadas, o Brasil já tem uma ótima adesão às campanhas de vacinação em geral, tanto entre crianças quanto entre adultos, o que nos permitiu atingir uma ampla cobertura vacinal contra a covid-19 nos últimos meses. Ao voltar o olhar para o passado e resgatar a história da vacinação no país, é impossível não falar do médico e epidemiologista Oswaldo Cruz, pioneiro no estudo da medicina experimental no Brasil e responsável pela erradicação de doenças como a febre amarela, a peste bubônica e a varíola. 

Oswaldo Cruz também foi pioneiro na criação de protocolos sanitários e na reestruturação dos órgãos de saúde e higiene em nosso país. Nesta sexta-feira, dia 11, completam-se 105 anos desde a sua morte, mas seu legado de combate às epidemias continua vivo e serve de referência para a nossa luta contemporânea contra a covid-19. Por isso, o programa Conexões marcou a data com um bate-papo com a historiadora, professora da Escola de Arquitetura da UFMG e coordenadora do Laboratório do Núcleo de História da Ciência e da Técnica, Myriam Bahia. 

No último ano, a professora lançou o livro Corpos inscritos: vacina e biopoder, que analisa a história da vacinação contra a varíola no contexto do Rio de Janeiro e de Londres entre os anos de 1840 e 1904. A obrigatoriedade da vacina antivariólica foi instituída por Oswaldo Cruz, que na época estava no comando da Diretoria-Geral de Saúde Pública, e levou à famosa Revolta da Vacina de 1904, organizada pela população do Rio de Janeiro em protesto às medidas de vacinação em massa. Outra publicação da professora é o livro O Rio em Movimento: quadros médicos em história.

A conversa com a docente permitiu uma melhor compreensão do contexto dessa Revolta, dos paralelos entre a vacinação antivariólica e a vacinação contra a covid-19 e do trabalho de Oswaldo Cruz. Bahia diferenciou um momento histórico do outro, recapitulando a trajetória de consolidação da vacinação como uma nova forma de conhecimento. Além disso, falou sobre o surgimento de epidemias e explicou que, hoje, o desenvolvimento de estudos e o aprimoramento de técnicas em torno das vacinas proporcionaram grandes avanços e criaram algo inédito: uma comunidade científica planetária de pesquisa, como foi o caso da atual pandemia. No entanto, como destacou a professora, esse avanço tecnológico vem com novos riscos.

“Nós temos um número de vacinas que poderiam estar efetivamente vacinando o planeta inteiro e isso não é executado por questões de interesses de laboratórios, a associados a interesses de governantes. A vacina foi um produto de uma criação do planeta e ela teria que ser aplicada para todos”, defendeu a historiadora. Os temas estudados na pesquisa da convidada, a diferença entre os movimentos antivacina contemporâneos e os do passado, a fragilidade de seus defensores e as perspectivas desses discursos dentro do contexto democrático também foram pontos abordados pela professora Myriam Bahia.

Ouça a entrevista completa no Soundcloud.

Produção: Carlos Ortega, sob orientação de Luiza Glória
Publicação: Enaile Almeida, sob orientação de Hugo Rafael