Pesquisa e Inovação

Arte contraerótica: mulheres usam a própria corporeidade para denunciar violências

Pesquisa realizada na Escola Belas Artes é tema do segundo episódio da nova temporada do ‘Aqui tem ciência’, da Rádio UFMG Educativa

Eat Me - A Gula ou a Luxúria? Versão I, 1976, de Lygia Pape, uma das obras analisadas na pesquisa
'Eat me – A gula ou a luxúria? Versão I' (1976), de Lygia Pape, uma das obras analisadas na pesquisa Reprodução fotográfica de autoria desconhecida | Enciclopédia ItaúCultural

Com o maior acesso das mulheres às universidades e ao mercado da arte, nas décadas de 1960 e 1970, denúncias relacionadas à violência de gênero passaram a figurar nas produções artísticas femininas estadunidenses e europeias. No entanto, a produção feminina brasileira com essa temática ainda era escassa, segundo a pesquisadora Bárbara Ahouagi, doutora em Artes pela UFMG. Ela explica que, além da recusa a uma arte mais politizada no país, as produções, naquela época, estavam a cargo de uma elite cultural que não priorizava tal discussão. O interesse em saber como e quais artistas brasileiras se manifestaram sobre o tema levou a pesquisadora a aprofundar a investigação durante o seu doutorado.

A tese, defendida em dezembro de 2021 na UFMG e orientada pela professora Maria Angélica Melendi, aborda a manifestação, no Brasil, do que a autora define como arte contraerótica. Essa categoria de arte feminista pretendia reformular discursos antes vinculados apenas a uma produção e a um imaginário erótico configurados por artistas homens, que representavam o conceito sobretudo com base na nudez feminina, em favor de uma produção erótica feita por mulheres. 

Bárbara Ahouagi: arte contraerótica representa o erótico a partir do olhar feminino
Bárbara Ahouagi propõe o conceito de arte contraerótica Foto: acervo pessoal

A autora explica que as artistas cujas obras se enquadram nessa classificação não necessariamente contestavam o erotismo, mas representam uma vanguarda que trabalhava o erótico a partir da ótica feminina, por meio da corporeidade das próprias mulheres. As produções têm o caráter de denúncia e crítica à objetificação do corpo feminino, aos padrões de beleza e às mais diversas formas de violência contra a mulher ‒ física, psicológica, emocional e simbólica.

As produções foram analisadas a partir da cronologia da história brasileira, desde a colonização até a proclamação da República e nos períodos da ditadura e da transição democrática. Foram selecionadas oito artistas brasileiras, especialmente aquelas com produções até 2010 e que trabalharam temas como a pedofilia, a representação da mulher na mídia, a sexualização do feminino e o estupro. 

Silenciamento
Segundo Bárbara, há uma tendência de silenciamento dessas artistas, que se manifesta, por exemplo, na falta de preservação e na dificuldade de acesso aos arquivos, um dos desafios enfrentados no processo de desenvolvimento da pesquisa. A busca e o resgate da trajetória histórica da arte feminista brasileira foram um dos principais resultados do estudo, que possibilitou a descoberta de técnicas e de artistas em espaços que vão além das galerias. 

Saiba mais sobre a pesquisa no novo episódio do Aqui tem ciência:


Raio-x da pesquisa

Título: O contraerótico: violência contra a mulher na arte brasileira

O que é: Tese de doutorado que investiga a arte de mulheres que abordam a violência de gênero, especialmente nos campos da performance, fotoperformance e das artes do corpo, e suas relações com as estruturas que operam o erotismo e o poder, o desejo e a violência através da história política do Brasil.

Autora: Bárbara de Oliveira Ahouagi

Programa de Pós-graduação: Artes

Orientadora: Maria Angélica Melendi de Biasizzo

O episódio 157 do Aqui tem ciência tem produção e apresentação de Bella Corrêa, edição de Alessandra Ribeiro e trabalhos técnicos de Cláudio Zazá. O programa é uma pílula radiofônica sobre estudos realizados na UFMG e abrange todas as áreas do conhecimento. A cada semana, a equipe da Rádio UFMG Educativa apresenta os resultados de um trabalho de pesquisa desenvolvido na Universidade. 

O Aqui tem ciência pode ser ouvido em aplicativos de podcast, como o Spotify, e vai ao ar na frequência 104,5 FM, às segundas, às 11h, com reprises às sextas, às 20h.