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Brasil: Fome atinge 33 milhões e quase 60% da população têm algum nível de insegurança alimentar

Pesquisadora da Rede PENSSAN e da UFRJ destaca que o país não chegou ao quadro atual só pela pandemia, mas pelas ações do governo federal em relação ao tema

Em comparação ao levantamento relativo a 2021, outros 14 milhões de brasileiros entraram em situação de fome
Em comparação ao levantamento relativo a 2021, outros 14 milhões de brasileiros entraram em situação de fome Agência Brasil

A fome é o grau mais alto da insegurança alimentar, situação em que não há alimentos nem para adultos nem para crianças em uma casa. O Brasil regrediu cerca de três décadas nesse quesito. Neste 2022, ela atinge mais de 33 milhões de brasileiros. O número vem do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) e executado pelo Instituto Vox Populi. As informações coletadas entre novembro de 2021 e abril de 2022 destacam que 14 milhões de pessoas entraram em situação de fome em relação aos dados de 2021. Se comparado ao ano de 2020, a parcela da população com fome mais que dobrou. Na outra ponta, apenas 40% das famílias têm acesso pleno à alimentação.

Segundo os responsáveis pelo estudo, uma quantidade tão grande de brasileiros sem comida no prato não era vista desde os anos 1990. A insegurança alimentar é classificada como leve, moderada e grave. Seis em cada dez pessoas, o que equivale a mais de 152 milhões de brasileiros, enfrentam essa situação em algum nível. A entidade também destacou que as medidas do governo federal de combate à fome são isoladas e insuficientes, em um contexto de alta da inflação, principalmente da comida, do desemprego e da queda de renda da população. Mesmo com a produção agrícola batendo recordes, as áreas rurais apresentam maior insegurança alimentar em relação às urbanas em todos os níveis: ela esteve presente em mais de 60% dos domicílios do campo.

A pesquisa mostra ainda, o sentimento de vergonha e tristeza de mais de 8% dos entrevistados por terem que usar meios  degradantes para conseguir colocar comida na mesa. Para debater sobre o agravamento da insegurança alimentar e da fome no Brasil, sobre a importância desses dados e como foi feito o relatório, o programa Conexões dessa sexta, 17, convidou a nutricionista, pesquisadora da rede PENSSAN e professora do Instituto de Nutrição Josué de Castro da UFRJ, Rosana Salles da Costa. A docente destacou que não se pode associar os números alarmantes somente à pandemia da covid-19.

“Isso tem a ver com as opções de governo de, infelizmente, suspender o Consea, logo no primeiro dia do mandato. O Conselho Nacional Segurança Alimentar e Nutricional teria sido fundamental no ano passado, quando colocamos o primeiro dado sobre a fome, porque ele estaria articulando no nível federal como também nas instâncias estaduais e municipais e isso não aconteceu. Fora isso, não houve, já no ano passado, nenhuma das políticas sociais, o governo não se manifestou. Pelo contrário, ele negou o tempo todo que a fome estava presente na população, como vemos todo um silenciamento agora também diante desse dado bastante triste que encontramos. Então, temos a segurança de dizer que não foi a questão da pandemia, mas, sim, a falta do olhar das políticas sociais de combate à fome para nossa população”, argumentou.

Ouça a conversa com a jornalista Alessandra Dantas

O 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil está disponível no site da Rede PENSSAN

Produção: Alícia Coura e Arthur Resende, sob orientação de Alessandra Dantas e Luiza Glória
Publicação: Alessandra Dantas