Arte e Cultura

Com curadoria de Rodrigo Vivas, da EBA, exposição reúne seleção inédita de 50 obras de colecionadores

'Visível sensível: do colecionismo ao museu' será aberta nesta terça, na Casa Fiat de Cultura

Percurso narrativo contempla várias linguagens e abrange os caminhos seguidos pela arte brasileira
Percurso narrativo contempla várias linguagens e abrange os caminhos seguidos pela arte brasileira Foto: divulgação | Farnese de Andrade

Esculturas, pinturas, desenhos e gravuras dos séculos 20 e 21, colecionadas ao longo de quase seis décadas, serão expostas de maneira inédita a partir desta terça-feira, 23 de abril, às 19h30, na Casa Fiat de Cultura. No lançamento de Visível sensível: do colecionismo ao museu Casa Fiat de Cultura, será realizado bate-papo com o curador e professor da Escola de Belas Artes Rodrigo Vivas. As inscrições devem ser feitas pela plataforma Sympla. A programação é gratuita e aberta ao público.

Para além dos museus, as coleções de obras de arte contribuíram para a preservação e a conservação de peças de diferentes linguagens ao longo da história. Diferentemente do que ocorreu em vários países, especialmente na Europa – onde as coleções eram doadas para instituições públicas –, no Brasil, muitos acervos foram mantidos de forma privada. Visível sensível: do colecionismo ao museu tem a proposta de revelar e tornar pública essa parte da história da arte no país. 

A iniciativa apresenta um recorte de 50 obras que pertencem ao Centro de Memória Usiminas, localizado em Ipatinga (MG). A mostra, realizada pela Casa Fiat de Cultura em parceria com o Instituto Usiminas, explora a relevância de coleções que fortalecem a presença de Minas Gerais no mapa das artes brasileiras e preenchem lacunas da história.

Constelação
A seleção se destaca pela diversidade do acervo, que apresenta obras de diferentes épocas e origens diversas dos artistas. Nomes como Amilcar de Castro, Lorenzato, Yara Tupynambá, Amélia Toledo, Bruno Giorgi, Jorge dos Anjos, Franz Weissmann, Manfredo Souzanetto, Marcos Coelho Benjamim, Tomie Ohtake, Nello Nuno, Chanina e Siron Franco ilustram um percurso que leva o público a referências relevantes da arte produzida no país. Formada por seis núcleos, a exposição não tenta ser uma linha do tempo, mas uma espécie de constelação, em que obras de diferentes períodos se cruzam e podem ser percebidas a partir de visões e forças distintas.

Entre os temas propostos por Visível sensível, estão o conceito de colecionismo, os diálogos que as obras criam com o espectador, as narrativas simbólicas dos trabalhos apresentados, os caminhos da representação e a tradução dos interesses individuais para conexões coletivas. O percurso narrativo contempla várias linguagens e abrange os caminhos seguidos pela arte brasileira, bem como os diálogos que podem ser desenvolvidos entre essas obras e a cena contemporânea.

O curador Rodrigo Vivas destaca que a mostra desperta o interesse sobre o colecionismo, além de permitir ao público apreciar obras que fazem parte de uma coleção particular. “Essa iniciativa revê a trajetória da arte em Minas Gerais e no Brasil, ao mesmo tempo em que discute a formação de coleções e a difusão dessas obras de forma ampla”, diz o professor. Segundo ele, os itens selecionados são objeto de memória e de novas experiências. “O visitante terá a possibilidade de conhecer obras fundamentais da arte brasileira que ainda não foram vistas e de fazer um percurso que aproxima formas de vivenciar a arte”, explica Vivas.

O que move um colecionador
Os colecionadores de arte podem ser movidos por diferentes razões: o apelo estético das obras, questões sociais e políticas ou a simples e pura paixão. Independentemente das razões, o colecionismo é encontrado em várias sociedades.

Quando reúnem obras de arte, as coleções ganham outra dimensão simbólica, em uma rede complexa, que promove discussões sobre os desejos dos colecionadores e as conexões que podem ser criadas com base nos itens colecionados. “O caminho pensado pela curadoria foi o da valorização de formas de vivenciar a arte e a possibilidade de pôr em diálogo obras de arte que, por muito tempo, pertenciam à experiência individual”, destaca Rodrigo Vivas.

Para fomentar essas reflexões, a exposição recebe o visitante com um gabinete de curiosidades, que exibirá imagens e textos que discutem o desenvolvimento das coleções e a importância do colecionismo para a história da arte. Nesta primeira sala, será mostrado, por meio da expografia, como as pequenas coleções privadas foram precursoras da constituição dos museus, da organização das exposições e ajudaram a formar os acervos públicos em todo o mundo.

Núcleos
Na galeria principal, seis núcleos são expostos. Em Diálogos íntimos com o espectador: dinâmicas do movimento, são apresentados um conjunto de esculturas que ganha sentido a partir da experiência do visitante com as obras. O talento de nomes como Bruno Giorgi, Marcos Coelho Benjamin e Franz Weissmann poderá ser apreciado por meio de obras que traduzem gestos e a construção das formas no espaço tridimensional.

Desejo narrativo: narrativas simbólicas, étnicas e religiosas reúne obras com narrativas religiosas, alegóricas ou míticas, para além de aspectos formais. Artistas como Jorge dos Anjos, Maurino Araújo e Lêda Gontijo criam trabalhos em madeira e constroem diferentes sentidos com as obras. No núcleo Representações do visível: figurações, artistas usam da figuração para representar seres e objetos, construindo espaços lúdicos e universos que podem ser reconhecidos por quem aprecia. Esse módulo apresenta artistas como Chanina, Nello Nuno e Yara Tupynambá.

Uma rede complexa de desenvolvimento da arte moderna constitui as bases da arte não figurativa em Entre a razão e a imaginação: arte não figurativa. Os artistas abandonam a figuração e, aos poucos, condicionamentos históricos, religiosos ou mitológicos. Nesse processo, muitas obras se aproximam da música instrumental e da ciência, construindo diálogos sensíveis e permitindo inúmeras associações. O módulo é composto por obras de Amilcar de Castro, Tomie Ohtake e Farnese de Andrade, dentre outros.

Desvelamentos e incorporação: pintura matérica usa diferentes materiais para trabalhar a superfície de telas e criar pinturas com texturas. O suporte antes percebido como elemento neutro assume valores que impactam a composição e a estrutura da obra. Esse módulo discute a relação entre suporte, representação e protagonismo da matéria e contempla artistas como Mário Azevedo, Manoel Serpa e Amélia Toledo.

"Quais são as fronteiras entre as modalidades artísticas? É possível rotular uma obra de arte?" são as perguntas que orientam o módulo Assimilações e hibridismos. Por meio da noção de campo expandido, a curadoria propõe reflexões sobre a definição das expressões artísticas e o processo de hibridização das obras. Serão apresentados artistas que exploram o atravessamento de linguagens e técnicas, como Marco Túlio Resende, Roberto Vieira e Marcos Coelho Benjamin.

O curador
Professor de graduação e pós-graduação na Escola de Belas Artes da UFMG, Rodrigo Vivas tem doutorado em História da Arte e pós-doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Na UFMG, ele coordena o grupo de pesquisa Memória das Artes Visuais de Belo Horizonte. Ele foi diretor do Centro Cultural UFMG, de Ação Cultural da UFMG, que deu origem à Pró-reitoria de Cultura (Procult), e coordenador dos festivais de Inverno e Verão. Atualmente, Vivas é membro do Conselho Diretor da Associação Brasileira dos Críticos de Arte (ABCA) e curador do Centro de Memória Usiminas.

A exposição Visível sensível: do colecionismo ao museu fica aberta à visitação até 30 de junho. O horário de funcionamento da Casa Fiat de Cultura, localizada na Praça da Liberdade, 10, é de terça a sexta-feira, das 10h às 21h, e aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h.

Visível sensível: do colecionismo ao museu

Com Assessoria de Imprensa da Casa Fiat de Cultura