Pesquisa e Inovação

Conhecimento científico e ação política são parte da solução para os problemas no Cerrado, diz professor da UFMG

Paisagem de Cerrado: recomposição de ecossistemas tem benefícios múltiplos
Paisagem de Cerrado: recomposição de ecossistemas tem benefícios múltiplos Geraldo Wilson Fernandes

Segundo maior bioma do Brasil, abrigo de quase metade das aves conhecidas no país e mais de dois terços dos mamíferos, o Cerrado já perdeu, com o desmatamento, mais de um milhão de quilômetros quadrados da sua área original, o que corresponde a mais de 50% da vegetação nativa. “O Cerrado precisa ser efetivamente integrado à política internacional sobre a biodiversidade”, enfatiza o professor Geraldo Wilson Fernandes, do Departamento de Biologia Geral do Instituto de Ciências Biológicas (ICB).

Na mesa-redonda Cerrado além da ciência: planejamento estratégico e ações políticas para salvar o cerrado, nesta segunda-feira, 4, às 15h30, Fernandes discutirá a caracterização do bioma e de sua biodiversidade, além de apresentar análise histórica do avanço de atividades econômicas para o interior do Brasil e a consequente destruição do bioma. Também participarão da mesa os pesquisadores Jorge Costa (Universidade Federal do Sul da Bahia), Mercedes da Cunha Bustamante (UnB) e Paulo de Marco Jr. (UFG).

Ao apontar aspectos das ameaças e soluções, Geraldo Wilson observa que, além da criação e do fortalecimento de unidades de conservação, é preciso investir na restauração ecológica. “Recompor os ecossistemas nativos é uma estratégia para diminuir os chamados passivos ambientais, obrigações que empreendimentos que causam impacto ambiental devem cumprir para compensar os danos”, explica. Segundo o pesquisador, a recomposição também melhora a qualidade da água, reduz emissões de gases de efeito-estufa e "põe o ambiente no seu rumo natural e em sintonia com o ecossistema intacto adjacente”.

“Pesquisas e conhecimento científico são parte da solução para os problemas no Cerrado”, afirma o professor da UFMG, que há anos realiza estudos relacionados a estratégias para conservação, restauração e uso sustentável da vegetação de cerrado de Minas Gerais – em especial campos rupestres da Serra do Cipó, ao sul da cadeia do Espinhaço.

Ele também sugere que sejam “fortemente estimulados” processos inovadores e atividades comerciais voltadas para produtos nativos, como a exploração de princípios fármacos, polpas e ecoturismo. “A restauração ambiental e o aumento da eficiência no uso de áreas já ocupadas devem ser igualmente implementados. É possível ainda que instrumentos econômicos sejam mais eficientes na regulação da ocupação do Cerrado do que todo o conjunto de ações de fiscalização e imposição dos mecanismos legais”, pondera.

Em sua opinião, o avanço no conhecimento e a formação de pessoal especializado são fundamentais para o estabelecimento de atividades de conservação e uso sustentável do Cerrado. “São necessárias informações precisas, que devem ser continuadamente buscadas em campo, monitoradas e usadas para a definição de alternativas de uso do bioma para o bem da sociedade brasileira”. Ainda segundo Fernandes, o conhecimento científico sobre o Cerrado “pode fornecer essas informações e as bases para repensar e reformular o processo de ocupação e as estratégias para a conservação do bioma”.