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Em entrevista, programa Conexões aborda ambiguidade nas canções de ninar e a construção do sono

‘A Erótica do sono’, livro de ensaios do psicanalista e professor da Unicamp Mario Eduardo, trabalha as relações dos indivíduos com o sono

Especialista reflete sobre o mundo que se abre com o dormir e as condições que podem prejudicar essa experiência
Especialista reflete sobre o mundo que se abre com o dormir e as condições que podem prejudicar essa experiência Reprodução: Lunetas


Quem nunca foi embalado ou já embalou uma criança ao som de “Dorme neném, que a Cuca vem pegar…”, ou “Boi da cara preta, pega essa menina que tem medo de careta”? Cantigas como essa trazem a dúvida: a intenção é acalmar e apaziguar a criança ou assustá-la? No livro A erótica do sono – Ensaios psicanalíticos sobre a insônia e o gozo de dormir, o psicanalista e professor da Unicamp Mario Eduardo Costa Pereira analisa essas e outras ambiguidades presentes no ato de dormir. Publicado pela Aller Editora, o livro é composto de ensaios psicanalíticos sob diferentes perspectivas, que abordam a relação dos sujeitos com o sono e o mundo desconhecido que se abre com o dormir. 

No programa Conexões desta quinta-feira, 6, o psiquiatra, psicanalista e professor, autor de A Erótica do sono’, Mario Eduardo, discutiu essa ambiguidade existente nas canções de acalanto e outros assuntos sobre o universo do sono e a experiência de dormir. De acordo com o professor, o aspecto tranquilizador está muito relacionado à previsibilidade da melodia, que traz essa ideia de que as coisas vão seguir o ritmo previsto e que a criança pode se entregar ao prazer do sono. “Mas provavelmente esse caráter aterrador tem muito a ver de um diálogo da mãe com ela própria, de estar nessa posição que é um desafio duplo: ela agora é a fiadora, ela garante para a criança que está tudo bem, embora ela mesma saiba que não está tudo completamente bem. Os perigos e a incerteza da vida, da existência, continuam ali. Mas ela faz esse filtro”, completou o psicanalista.

O entrevistado afirmou que, apesar de o sono ser uma necessidade fisiológica, um bebê precisa ser tranquilizado para que se permita desfrutar do sono e destacou que essa experiência é também cultural, pois passa por uma espécie de apreensão do mundo, do outro e da tradição. Além disso, o sono é uma experiência construída, que se relaciona com a questão da confiança, considerando que é um momento em que há o desligamento da vigilância e do controle. 

O psiquiatra relatou que muitas pessoas não têm encontrado as condições necessárias para realizar essa desconexão e ser capaz de desfrutar do sono. “A gente vive numa cultura em que o papel social é muito importante, a performance profissional. Estar conectado o tempo todo é algo muito decisivo, fundamental. Como a gente faz então esse tipo de atividade psíquica, mental, emocional, que é se desconectar disso tudo? Como é que ao mesmo tempo eu respondo à exigência de se estar conectado o tempo todo e me desconecto disso tudo para entrar num outro tipo de registro, uma outra modalidade de existir?”, refletiu o professor Mario Eduardo.

Ouça a entrevista completa no Soundcloud.

A erótica do sono – Ensaios psicanalíticos sobre a insônia e o gozo de dormir, publicado pela Aller Editora, está disponível para compra em formato físico ou digital.

Publicação: Enaile Almeida, sob orientação de Luiza Glória