Arte e Cultura

Em livro, filósofos da UFMG discutem 'os fins da arte'

Obra que será lançada neste sábado faz um apanhado das reflexões realizadas durante o último Congresso Internacional de Estética

Neste sábado, 14, às 11h, a Editora Relicário lança Os fins da arte – volume 1, livro organizado por Giorgia Cecchinato, professora do Departamento de Filosofia da UFMG, em parceria com outras duas filósofas da arte, Debora Pazetto e Rachel Costa. O volume traz um apanhado das reflexões realizadas durante o 13º Congresso Internacional de Estética, sediado pela UFMG em outubro de 2017, sob a coordenação do Programa de Pós-graduação em Filosofia da Fafich. O lançamento será na Livraria Quixote, que fica na Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi, em Belo Horizonte.

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Reprodução

No evento, o professor Rodrigo Duarte, do Departamento de Filosofia da UFMG – que assina um dos textos do volume –,  fará uma breve comunicação sobre o percurso histórico do Congresso Internacional de Estética, referência em discussões na área no Brasil. O encontro é realizado na Universidade a cada dois anos, desde 1993. Na edição do ano passado, o mote foi justamente a frase que, agora, dá nome ao livro publicado pela editora Relicário – uma referência às Lições sobre a estética, de Friedrich Hegel (1770-1831), “nas quais ele afirma o caráter pretérito da arte”, como lembra o texto de orelha do volume.

Sobre isso, escrevem as organizadoras na introdução do livro: “A afirmação do ‘fim da arte’ tem como referência mais imediata a ‘suposta’ tese hegeliana, que diz ser a arte algo do passado, pois esta já não seria mais capaz de responder às necessidades espirituais da época moderna". Contudo, ao retomar esse pressuposto, as próprias organizadoras já ponderam que a tese, apesar de sedutora, “está mais próxima de um ‘boato’ que não corresponde, no seu sentido imediato e literal, à concepção da arte de Hegel”. Nesse ponto, são categóricas: “O filósofo alemão não teria intenção nenhuma de prever qualquer forma de conclusão ou dissolução da arte em favor de outras formas de produção cultural, como a religião e a filosofia”.

Fim de término, fim de finalidade
No título do livro, o termo “fim” põe em cena uma polissemia parcialmente contraditória: por um lado, sugere a ideia de término, de encerramento, ou seja, de algo que está para deixar – ou mesmo já deixou – de existir; por outro, alude às ideias de propósito, objetivo, motivação, finalidade, que mais fazem sentido quando consideradas em relação a algo que efetivamente existe. A complexidade desencadeada por essa polissemia, que advém do próprio congresso a que o livro remete, adianta a abrangência de sentidos contemplada pelos textos do volume.

“O uso plural desse termo amplifica as possibilidades de interpretação. Os textos [...] mostram de modo evidente o quanto a questão do ‘fim’ contribui de maneira heurística para pensar a arte durante o último século e o início deste”, escrevem as organizadoras, fazendo lembrar todo o “processo de ressignificação que a arte vive a partir do final do século XIX.”

Nove artigos estão reunidos no obra. Em seu texto, Márcia Cristina Ferreira Gonçalves mapeia o processo que, desde Hegel, culmina na ideia atual de “crise da arte”. O alemão Gunter Gebauer, por sua vez, parte da mesma premissa para sugerir, diametralmente, uma série de potencialidades para a arte nos tempos recentes. Em seu artigo, o entendimento que desponta é o de que a arte moderna, “longe de encontrar um fim ou término, experimenta, no final do século XIX e no século XX, uma inédita vitalidade”, escrevem as organizadoras.

Rosa Gabriella de Castro Gonçalves detém-se na filosofia kantiana para tratar da riqueza de perspectivas abertas pela temática do fim da arte. Já no texto de Giorgia Cecchinato, o problema central são as ligações entre juízo de gosto e moralidade, ainda partindo do postulado de Immanuel Kant (1724- 1804). Por sua vez, o capítulo assinado por Alessandro Bertinetto, ecoando Friedrich Nietzsche (1844-1900), “oferece nova perspectiva sobre a possibilidade de pensar a tensão entre práticas consolidadas, hábitos e improvisação no ato concreto de produção da arte”, segundo as organizadoras. Já o texto de Cliff Hill Kormann, escrevem elas, assemelha-se a “uma aplicação dos princípios do improviso descritos por Bertinetto à música, em particular à música brasileira”.

Em seu artigo, o professor do Departamento de Filosofia da UFMG Rodrigo Duarte parte do texto Duas hipóteses sobre a morte da arte, de Umberto Eco, para mostrar como Theodor W. Adorno (1903-1969) e Vilém Flusser (1920-1991) lidaram com o tema do fim da arte. No texto, Duarte ainda “conversa” com Friedrich Hegel (1770-1831), Karl Marx (1818-1883), György Lukács (1885-1971) e Walter Benjamin (1892-1940). Rita Velloso, professora da Escola de Arquitetura da UFMG, também retoma Benjamin para investigar a sua teoria da arte, em sua perspectiva de que as “imagens permitiam desmascarar — isto é, penetrar dialeticamente — os mecanismos do mundo lá fora, aquém e além da obra”.

Escrevem as organizadoras sobre o tratamento que Rita dá a essa “ótica dialética” de Benjamin: “se o desmascaramento [da realidade, por meio das imagens] há muito já não é suficiente, a imagem sobrevive como fragmento de ruptura que é exigência da revolução”. “Assim”, completam, “o des-ver é usado pela autora para pensar uma experiência estética e política da história, cujo fundamento está na capacidade de aprofundar a experiência do presente.”

Segundo Debora Pazetto, Giorgia Cecchinato e Rachel Costa, “a pergunta sobre o fim da arte costuma direcionar-se para o momento da história da arte em que as obras figuram como um limite último intransponível”. Fechando o volume, o francês David Lapoujade, um dos principais nomes da filosofia na atualidade, parte dessa perspectiva para elaborar “uma reflexão sobre o fim da arte essencialmente como jogo com os limites e seus ultrapassamentos”. Tematizam suas reflexões obras como 4’33” [no vídeo acima], do músico estadunidense John Cage, e Quadrado branco sobre fundo branco, de Kazimir Malevich, e é delas que Lapoujade parte para pensar que é justamente quando a arte confronta os seus supostos limites que, nas palavras das organizadoras, “novas possibilidades — extraordinárias, inéditas, ainda que inicialmente microfísicas ou diferenciais — aparecem”.

Livro: Os fins da arte – volume 1
Organizadoras: Debora Pazetto, Giorgia Cecchinato e Rachel Costa
Editora Relicário
196 páginas / R$ 39,90

Ewerton Martins Ribeiro