Institucional

Ensino de engenharia em transformação: Programa ENG200 comemora dez anos

Implementada no centenário da Escola de Engenharia, iniciativa conjuga inovações curriculares, protagonismo estudantil, aproximação com o mercado e empreendedorismo

Estudantes do curso de Engenharia de Automação em aula prática:
Estudantes do curso de Engenharia de Automação em aula prática: ações alinhadas às várias culturas consolidadas na Escola de Engenharia Foto: Lucas Braga | UFMG

Como fazer do estudante de nível superior um protagonista da sua formação, em vez de mera instância passiva de um processo predeterminado de transmissão de conhecimento? Como promover aproximação real com o mercado de trabalho? E como fomentar, ao mesmo tempo, o empreendedorismo de mercado e a investigação científica, de forma a abrir a esse estudante possibilidades plurais e não predeterminadas para a carreira? 

Esses são alguns dos desafios históricos da educação superior no Brasil. E foi em razão deles – e de tantos outros que se apresentam no avançar deste século – que a Escola de Engenharia da UFMG criou, há dez anos, o Programa de Inovação para Educação em Engenharia (ENG200), cuja meta é prover um ambiente de ensino de engenharia que seja ao mesmo tempo de excelência e condizente com os desafios do século 21.

Benjamin
Benjamin de Menezes: ambiente favorávelFoto: Foca Lisboa | UFMG

Implementado em 2012, o programa foi lançado no ano anterior, quando a Escola de Engenharia comemorava o seu centenário, e o ensino de engenharia clamava por avanços curriculares, estruturais e sociais: o que se queria, conta Benjamin Rodrigues de Menezes, professor emérito do Departamento de Engenharia Eletrônica, era estabelecer o ponto de partida para o conjunto de transformações que esse ensino deveria experimentar não só naquela década que se iniciava, mas nos cem anos seguintes. 

“No nosso mandato, o nosso principal desafio era promover um ambiente favorável às transformações no ensino de graduação dos cursos de engenharia”, rememora o professor, que foi diretor da Escola de Engenharia na gestão 2010-2014, tendo como seu vice-diretor o professor Alessandro Fernandes Moreira, atual vice-reitor da UFMG. “Criamos o ENG200 como uma marca na qual poderíamos concentrar a promoção das transformações do ensino pelos próximos 100 anos”, conta Benjamin.

O professor Cícero Murta Diniz Starling, atual diretor da Escola de Engenharia (gestão 2022-2026), complementa dizendo que a meta do programa era inserir a Escola “na vanguarda da educação em engenharia”. “O Programa ENG200 visa a melhorias que propiciem desenvolvimento profissional e pessoal ainda maior dos alunos que passam pela Escola, resguardando, ao mesmo tempo, todas as iniciativas inovadoras de cada um de seus cursos”, explica. “Uma das bases do Programa é a atenção dada à identificação e à interpretação das culturas e realidades já existentes na Escola de Engenharia, o que possibilita a realização de ações alinhadas às necessidades e aos desejos da comunidade acadêmica. Nesse sentido, com a inspiração do Programa, a Escola vem se tornando um espaço de saber cada vez mais inclusivo e solidário, com foco em preparar as pessoas para desempenhar um papel de transformação da nossa sociedade”, demarca.

'A escola que desejo ter'
“O ENG200 visava e visa, até hoje, modernizar e agregar inovações aos currículos de engenharia, em nossa busca por mais e melhores engenheiros”, complementa o vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira, que dirigiu a Escola de Engenharia de 2014 a 2018, tendo como vice-diretor o professor Cícero Starling. “Outras metas são diminuir a evasão escolar e tornar o estudo em engenharia cada vez mais prazeroso e alinhado com as demandas do cotidiano", diz Alessandro, acrescentando que o Programa tem como ideia central o tema Eu construo a escola de engenharia que desejo ter. “Essa é a essência do Programa: abrir espaço para o protagonismo estudantil. Todos os projetos são gerenciados pelos próprios estudantes, com acompanhamento dos professores", enfatiza.

Cícero Starling
Cícero Starling: inovações em sintonia com as diretrizes curricularesFoca Lisboa | UFMG

A estrutura do Programa ENG200 tem duas frentes. Na primeira, denominada Formação, situam-se as ações e os projetos alinhados com as atividades complementares de graduação, as ações de ensino e a matriz curricular. Na segunda, denominada Estruturação, estão reunidas as ações de projetos focados nos campos da comunicação, da realização de eventos, das ações de infraestrutura e da atuação de órgãos e instituições. Nesse contexto, explica Cícero Starling, o ENG200 pretende “criar mecanismos de apoio e acompanhamento para a realização e a implementação de novas atualizações e reformas curriculares dos cursos de graduação decorrentes das exigências das atuais Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), visando a inovações pedagógicas que possam garantir aos egressos uma formação em sintonia com as necessidades da sociedade".

Com efeito, explica Alessandro, a visão do Programa ENG200 para os próximos anos é firmar-se como espaço para abrigar ações que promovam essa atualização demandada aos currículos de engenharias, em razão da homologação, em 2019, das novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs). Segundo ele, essas diretrizes trazem avanços para os projetos pedagógicos, com uma visão de currículos mais focados no desenvolvimento de competências do que simplesmente em conteúdo, além de fomentar a criação de formações complementares nos cursos de graduação e de sistemas de acompanhamento dos egressos. “O Programa ENG200 é o espaço por vocação para fomentar esse trabalho de adaptação dos cursos a essas novas diretrizes”, defende.

Incubadora de inovações

O professor emérito Benjamin Rodrigues de Menezes conta quais foram, em sua opinião, as principais contribuições do Programa para que a “cultura de transformação” se instalasse na Escola de Engenharia. “A verdade é que o ENG200 criou um ‘ambiente de transformação’. Ele foi fundamental para que os colegiados de graduação comprassem a ideia”, rememora o ex-diretor da Escola, hoje diretor executivo da Fundação Christiano Ottoni (FCO), cuja missão é apoiar a UFMG – em particular, a Escola de Engenharia – no desenvolvimento de suas atividades de ensino, pesquisa e extensão, tendo como foco o interesse público. Segundo Benjamin, o que o ENG200 possibilitou foi, ao cabo, o estabelecimento “de um programa de conscientização para o corpo discente da unidade, divulgando as principais inovações do ensino de engenharia pelo mundo”.

Alessandro Moreira:
Alessandro Moreira: busca por 'mais e melhores engenheiros'Foto: Foca Lisboa | UFMG

O professor Cícero Starling – que, além de diretor da Escola de Engenharia na gestão 2022-2026, também foi o diretor na gestão 2018-2022 – avança na listagem das contribuições oferecidas pelo programa ao longo da última década. “Ele se configura como incubadora de ações e projetos pedagógicos que visam à inovação e ao empreendedorismo na educação em engenharia, tanto na graduação quanto na pós-graduação. Entre os projetos realizados nessa perspectiva, poderia citar o mapeamento, a criação e a institucionalização de portfólio de atividades complementares, que inclui a participação dos alunos em projetos de iniciação científica, de ensino e de extensão, em eventos acadêmicos, em monitorias, em equipes de competições estudantis, em empresas juniores e em ações de voluntariado." Paralelamente, conta Starling, foi aprovada resolução na Congregação da Escola de Engenharia que dispõe sobre o aproveitamento dessas atividades acadêmicas curriculares complementares como créditos válidos nos cursos de graduação.

Outra contribuição, acrescenta o diretor, foi a “criação de diretrizes de estágio, obrigatório ou não, para os cursos de graduação, o que também resultou em aprovação de resolução da Congregação que dispõe sobre os critérios para a realização do Estágio Curricular, sendo parte integrante do Projeto Pedagógico de cada curso”. O diretor menciona ainda o Engenharia recebe, evento que amplia a recepção de calouros em um evento maior, focado em integrar e orientar os alunos recém-chegados de modo que possam aproveitar as inúmeras oportunidades acadêmicas oferecidas pela Escola, e a criação da disciplina comum de Introdução à engenharia, em que se apresenta aos alunos de graduação uma “visão mais ampla dos conceitos de engenharia e das interfaces entre os cursos oferecidos pela Escola".

Duas outras iniciativas dão boa noção da pluralidade de abordagens do Programa. Uma é o TCC Lab, que fomenta a estruturação de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) em uma perspectiva de atendimento às demandas de empresas e indústrias reunidas em um banco de dados. “As empresas parceiras trazem seus problemas, e os alunos propõem soluções em seus TCCs", explica Alessandro. A outra é o Ruptura, evento que provoca reflexão sobre a jornada acadêmica dos alunos, além de propiciar contato com novas ideias e pessoas, para que os participantes possam inovar em suas próprias escolhas dentro da Universidade e na sociedade. “É um evento de inovação e empreendedorismo, realizado a cada ano com um tema diferente”, destaca o vice-reitor. A lista de ações e projetos do ENG200 pode ser consultada no site do Programa.

Cícero Starling destaca, ainda, a concepção e aprovação do Centro de Referência em Inovação para Educação em Engenharia (Criee) como órgão complementar da Escola de Engenharia. “O Criee promove o desenvolvimento contínuo de atividades que contribuam para a formação de discentes da Escola de Engenharia por meio da pesquisa e do desenvolvimento de práticas e metodologias de ensino, de forma transdisciplinar, além de fomentar na comunidade o desenvolvimento de habilidades relacionadas ao empreendedorismo, à inovação tecnológica e à resolução de problemas". 

Uma última vertente dessa longa lista é a realização de eventos de formação e sensibilização de alunos e demais membros da comunidade da Escola, tais como a ExpoEngenharia, o Mercado em Conexão e o Engenheiro do Futuro — evento que terá nova edição nesta quarta-feira, 7, no auditório principal da Escola de Engenharia, parte das celebrações do aniversário de dez anos do ENG200.

Articular educação e mercado
O professor Benjamin Rodrigues de Menezes avança no detalhamento do que o ENG200 busca trazer de inovação, propriamente, no que diz respeito à articulação entre os campos da educação e do trabalho. “Os cursos de engenharias devem ser identificados com as tecnologias inovadoras, mas também devem ter clareza de seus impactos na sociedade e na natureza. Portanto, a formação do aluno precisava ser desenvolvida no campo teórico, na Universidade, e, paralelamente, na prática, passo a passo com a área de atuação. Foi nesse sentido que nasceu a iniciativa de uma parceria com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg)”, exemplifica. O ENG200 mantém parceria também com empresas sediadas no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC).

“O ENG200 auxilia na criação de (e no apoio a) programas e ações que conscientizem sobre uma visão empreendedora na graduação e na pós-graduação, seja na preparação para o desenvolvimento de novos negócios, seja no fomento à proatividade no exercício das funções profissionais, com o fortalecimento do ambiente de inovação na Escola”, explica Cícero Starling. Ele exemplifica essa atuação do ENG200: “Por meio da interação com o Centro de Referência em Inovação para Educação em Engenharia (Criee), o ENG200 incentiva o protagonismo dos alunos e dos docentes, procurando agregar continuamente aos cursos de graduação atividades acadêmicas que potencializem competências, como a interdisciplinaridade, a inovação tecnológica, o empreendedorismo e a responsabilidade social e ambiental".

Prédio da Escola de Engenharia, no campus Pampulha, que vem vivenciando uma série de transformações em seu ensino
Prédio da Escola de Engenharia, no campus Pampulha, que vem vivenciando uma série de transformações em seu ensino na última décadaFoto: Foca Lisboa | UFMG

Ewerton Martins Ribeiro