Escola de Engenharia comemora centenário de sua primeira turma de graduados
Ocorrida há exatos cem anos, a colação de grau da primeira turma da Escola de Engenharia foi lembrada na manhã desta quarta-feira, 29, em solenidade no campus Pampulha. Diplomas foram entregues a familiares dos nove engenheiros graduados em 29 de março de 1917 e dos 29 docentes que atuaram de 1911 a 1916. A homenagem póstuma também alcançou os primeiros funcionários da Escola.
O reitor Jaime Ramírez fez referência ao compromisso da Escola de Engenharia, na sua origem, com a formação de engenheiros que viriam a impulsionar a nova capital mineira. Também destacou a relevância do trabalho realizado ao longo dos anos, em cursos de graduação e de pós-graduação, e ressaltou a dimensão e o envolvimento social das ações da extensão da Escola, “articuladas com o ensino e com a pesquisa da mais alta qualidade”.
Na opinião de Ramírez, que é vinculado ao Departamento de Engenharia Elétrica, essa inserção habilita a unidade a desenhar um futuro em que a renovação possa se tornar a mola-mestra na continuidade desse trabalho, “afinal, novos meios, novas contribuições, certamente novos atores é o que no futuro se desenha, mantendo-se a continuidade da tradição solidária, do compromisso com o conhecimento e especialmente o diálogo permanente com a inovação”.
História e futuro
Coordenador da comissão organizadora do evento, o vice-diretor da Escola de Engenharia, Cícero Murta Diniz Starling, resgatou documentos e memórias que contam os primeiros anos da Instituição.
Na solenidade, leu trechos de discurso que um dos nove engenheiros civis graduados em 1917, Jayme Salse Junior, fez em 1934, contando detalhes da rotina acadêmica e apontando traços da personalidade dos colegas que com ele integravam a primeira turma – Achilles Lobo, Aristóteles Juvenal de Faria Alvim, Arlindo da Silveira Filho, Attilio Carneiro Guimarães, Benedicto Quintino dos Santos, Benjamim Quadros, José Cortes Sigaud e José Custódio de Carvalho Drumond.
Cícero Starling falou da “experiência única” de localizar e estudar os documentos e do sentimento de pertencimento a essa história, que “liga o passado ao presente”. Para o vice-diretor, a Escola de Engenharia de hoje guarda “plena comunhão com os sonhos e nobres ideais” dos pioneiros, tendo formado ao longo dos anos mais de 24 mil engenheiros, mais de quatro mil mestres e doutores, cerca de quatro mil especialistas e seis mil trabalhadores da construção civil nos cursos de mão de obra industrial.
Segundo Starling, a Escola hoje abriga 11 cursos de graduação, 13 departamentos, mais de 300 docentes, cerca de uma centena de grupos de pesquisa e laboratórios, quase 150 funcionários, mais de 5,5 mil alunos de graduação, 11 programas de pós-graduação, com 1.250 alunos de mestrado e doutorado e cerca de 600 alunos de cursos de especialização.
O diretor da Escola, Alessandro Fernandes Moreira, enfatizou a importância das relações institucionais, especialmente para o futuro que hoje se constrói na Escola de Engenharia, solidamente baseado em parcerias que fortalecem iniciativas de inovação, empreendedorismo e o perfil solidário dos engenheiros.
Alessandro Moreira citou parcerias com instituições como a Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), com a Fapemig, com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MG), com a Sociedade Mineira de Engenheiros, a Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da UFMG e outras entidades públicas e privadas, órgãos de fomento e fundações de apoio. Também fez referência às inovações curriculares em curso, elaboradas com participação de uma incubadora de projetos pedagógicos, e ao Escritório Elo, que funciona como canal para pesquisas e demandas geradas pelo setor produtivo.
Em alusão às iniciativas citadas pelo diretor, hoje em funcionamento ou em implantação na Escola, o reitor Jaime Ramírez afirmou que “todas essas ações de grande impacto representam o alargamento do alcance do fazer acadêmico e a renovação da relevância desse trabalho, pela interação contínua com a sociedade e o compromisso com a difusão e o encontro dos saberes”.
Ao falar do futuro da Escola, o reitor afirmou ser imprescindível resgatar o inequívoco compromisso com o caráter público da UFMG, “o sentido público como aquilo que diz respeito a uma coletividade mas também à responsabilidade com a coisa pública, que é o dever não apenas de nós, gestores, mas de toda a nossa comunidade”.
Diplomas
Filhos, netos e bisnetos dos pioneiros da Escola localizados pela comissão organizadora do evento receberam diplomas que ressaltam as “relevantes atuações profissionais e expressivas contribuições para a Escola de Engenharia como a conhecemos hoje, um dos maiores complexos de ensino, pesquisa e extensão da América Latina”.
Eunice Augusta Neves, de 77 anos, foi homenageada em nome de todos os servidores técnico-administrativos que integraram o quadro de funcionários da Escola. Aposentada nos anos 1990, ela trabalhou por mais de três décadas no antigo prédio da Escola, localizado no centro da cidade, mas até hoje visita velhos conhecidos e os novos professores e funcionários, no campus Pampulha. “Parei de trabalhar mas venho aqui toda semana”, conta, com alegria.
Octagenário, o professor aposentado Rui Togeiro de Figueiredo compareceu à solenidade para homenagear a amiga. “Ele foi o responsável pela minha contratação na Escola de Engenharia. Depois, surgiu um concurso e passei. Aqui só tive felicidade, aqui criei minha família”, conta Eunice.
Origem
A Escola Livre de Engenharia de Belo Horizonte, precursora da Escola de Engenharia da UFMG, foi fundada em 1911 por seu primeiro diretor, o secretário de Agricultura do Estado, José Gonçalves de Souza. A sede da Escola ficava no edifício Alcindo da Silva Vieira, hoje ocupado pelo Centro Cultural UFMG. Dezesseis anos depois, as faculdades de Direito, Medicina, Odontologia, Farmácia e Engenharia se reuniram para criar a Universidade de Minas Gerais (UMG), hoje UFMG.
A colação de grau da primeira turma de engenheiros ocorreu na recém-constituída Faculdade de Engenharia de Belo Horizonte, fundada em 1911, precedendo a própria Universidade de Minas Gerais (UMG), que só veio a ser fundada em 1927. As aulas do curso de Engenharia Civil tiveram início em 8 de abril de 1912.
Músicas
Além de cantar o Hino Nacional brasileiro acompanhado pelo pianista Thiago André Ferreira, o Coral da Engenharia, regido por Gabriel Gama, interpretou Tico-tico no fubá, música de 1917, e, com a solista Ana Lu, o samba Pelo telefone, lançado no carnaval do mesmo ano. Os solistas Keila Lin e Raphael Teixeira [em foto abaixo], acompanhados pelo violonista Caio Correa, interpretaram as composições Lua branca, de 1912, e Rosa, de 1917.
Mesa
Compuseram a mesa na solenidade a servidora Rejani Aparecida Silva; Benjamim Rodrigues de Menezes, diretor da Escola de Engenharia de 2010 a 2014, representando todos os diretores da Escola; Márcio Rosa Portes, sub-secretário de Ensino Superior da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia e Ensino Superior, que representou o governador Fernando Pimentel; Alessandro Fernandes Moreira, diretor da Escola de Engenharia [no púlpito, à direita]; Jaime Ramírez, reitor da UFMG; Sandra Goulart Almeida, vice-reitora da UFMG; Cícero Murta Diniz Starling, vice-diretor da Escola de Engenharia; Murilo Valadares, secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino; Pedro Vianna Pessoa de Mendonça, decano da Congregação da Escola de Engenharia; Alexandre Lopes Cunha, presidente do Diretório Acadêmico da Escola de Engenharia.
A TV UFMG produziu vídeo com depoimentos de familiares sobre alguns dos engenheiros que colaram grau no dia 29 de março de 1917. Assista: