Formas de Ingresso

Ingresso via cotas tem nota de corte muito próxima à da ampla concorrência

Estatísticas produzidas pela Prograd revelam também percentuais de entrada pela segunda opção e de estudantes residentes em Minas Gerais

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Medidas baseadas em cotas tiveram forte impacto no perfil socioeconômico dos graduandosFoca Lisboa / UFMG

Candidatos que ingressaram na UFMG nas modalidades de cotas tiveram praticamente as mesmas notas daqueles que entraram pelas vagas da ampla concorrência. É o que mostra a análise dos processos seletivos Sisu e Vestibular de Habilidades 2019 feita pelo Setor de Estatística da Pró-reitoria de Graduação (Prograd). Segundo o relatório, a nota de corte nas modalidades de cotas de escola pública, cor/raça e/ou renda foi em média igual a 94,8 por cento da nota da ampla concorrência.

O pró-reitor adjunto de Graduação, Bruno Teixeira, lembra que, quando se fala em cotas, é comum que se questione se a pontuação necessária para o ingresso na universidade por essa modalidade é muito diferente da nota obtida pelos demais candidatos. Para ele, os estudos feitos pela Prograd esclarecem essa dúvida: “ano após ano, o que verificamos é uma diferença muito pequena. Em alguns cursos, algumas modalidades de cotas têm nota de corte maior do que a da ampla concorrência”.

O relatório esclarece que a diferença percentual entre as notas não pode ser convertida em número de questões acertadas no Enem já que a pontuação das provas objetivas do Enem (Linguagens, Ciências Humanas, Ciências da Natureza e Matemática) é calculada pela Teoria de Reposta ao Item (TRI). Trata-se de um modelo matemático que leva em conta o grau de dificuldade das questões e a habilidade dos candidatos, mais do que o total de acertos. É um método que minimiza a chance de acertos por chute.

O professor Marcos Santos, do Departamento de Estatística da UFMG, explica como funciona a TRI:


“Embora a diferença da nota de corte seja pequena, o impacto que a política de cotas teve no perfil socioeconômico do estudante de graduação é muito grande. Agora estudante de escola pública pode optar por concorrer apenas com estudante de escola pública”, avalia o pró-reitor adjunto de Graduação. Antes da lei de cotas, todos os candidatos competiam entre si, ainda que as condições socioeconômicas e de oportunidades fossem desiguais.

Dados divulgados no ano passado, referentes ao período de 2008 a 2018, comprovam a transformação da UFMG. Como resultado de políticas de ações afirmativas, como o bônus e as cotas, o percentual de estudantes que se autodeclararam pretos ou pardos praticamente dobrou em mais de uma década, passando de 26,75%, em 2008, para 49,3%, em 2018. Também nesse período, o número de ingressantes com renda familiar total de até cinco salários mínimos subiu de 30% para 57%.

O episódio 12 do programa Outra estação também mostrou a nova cara da UFMG: 


É importante destacar que, para concorrer a uma vaga na modalidade de cotas, o aluno precisa necessariamente ter cursado o ensino médio integralmente em escola pública. Pela lei de cotas, metade do total das vagas da instituição deve ser destinada a esse público. Desses 50%, metade é reservada para aqueles que têm renda familiar per capita igual ou inferior a um salário mínimo e meio, e a outra metade, para os que têm renda acima desse valor. Nos dois casos, as cotas levam em conta ainda o percentual mínimo de pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência no estado onde a instituição de ensino está sediada.

Cai ingresso por segunda opção
A análise feita pela Prograd mostra também uma redução relevante na porcentagem de estudantes que ingressam na UFMG via segunda opção no Sisu. Em 2018, 46,05% dos candidatos aprovados na primeira lista de chamada escolheram o curso como segunda opção. No ano de 2019, esse índice caiu para 25,87%. Essa diminuição foi provocada por uma mudança na regra de chamada do Sisu.

Até o ano passado, o candidato poderia ingressar no curso de segunda opção na primeira chamada e permanecer na lista de espera do curso indicado como primeira escolha. Ou seja, dependendo da pontuação, esse mesmo estudante poderia ser selecionado posteriormente para a graduação da primeira opção e desistir do curso de segunda opção, ainda que já estivesse matriculado. Isso levava muitos candidatos a ingressar na universidade via segunda opção de curso e, eventualmente, desistir formalmente desse curso. Mas, neste ano, o concorrente que ingressou em uma das opções escolhidas não pôde participar da lista de espera.

“Em alguns cursos, como Odontologia, essa mudança foi ainda mais acentuada. Em 2018, quase 70% dos candidatos ingressaram nessa graduação via segunda opção. Já em 2019 foram menos de 29%”, destaca Bruno Teixeira. Ele afirma ainda que esses dados são relevantes na medida em que dão retorno à sociedade sobre os impactos das mudanças feitas no Edital do Sisu a partir da primeira edição de 2019, já que elas acabam afetando a forma como o candidato se inscreve para o Sisu.

Em 2019, a UFMG ofertou 6.339 vagas no Sisu e registrou 102.158 candidatos inscritos ou 137.806 inscrições, considerando que cada candidato pode fazer até duas inscrições no Sisu. No Vestibular de Habilidades foram ofertadas 331 vagas e registradas 925 inscrições. A média nos dois processos seletivos foi de 20,87 candidatos por vaga. Os cursos mais concorridos foram Biomedicina (61,48), Fisioterapia (56,44), Administração noturno, no campus Pampulha (53,68), Educação Física Bacharelado noturno (53,23) e Psicologia (51,42).

Efeito Sisu
Dos candidatos aprovados na primeira chamada do SiSU ou no Vestibular de Habilidades no ano de 2019, 79% são residentes em Minas Gerais. Em 2013, antes da adoção do Sisu pela UFMG, 93% dos candidatos residiam no estado. O estado que teve o maior número de aprovados no Sisu 2019 foi São Paulo, com 12,28% dos aprovados. Uma curiosidade: o curso com o maior percentual de aprovados residentes em outros estados foi Engenharia de Alimentos: 58,97%.

A análise feita pela Prograd mostra ainda que a mobilidade dos estudantes é maior ou menor conforme a modalidade de ingresso dos estudantes. Entre aqueles que ingressaram por modalidades de cotas que abrangem critérios raciais, isto é, candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas, o percentual de residentes em Minas Gerais é maior: cerca de 90%. A modalidade que contempla candidatos que, independentemente da renda, tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas e a modalidade de ampla concorrência têm o menor percentual: cerca de 70%.

“Observamos que é mais fácil um candidato de ampla concorrência vir de outros estados do que um candidato de uma modalidade de cotas. Para esses candidatos, classificados na modalidade da condição de renda, a mobilidade é mais difícil. É por isso que a assistência estudantil ofertada pela UFMG desempenha um papel muito importante na permanência desses candidatos. Atualmente, cerca de um terço dos estudantes da Universidade se beneficia de alguma política da Fump”, avalia Bruno Teixeira. Um exemplo é o programa de Moradia Estudantil, que provê habitação para alunos não residentes em Belo Horizonte e Montes Claros.

Alessandra Ribeiro e Paula Alkmim