Coberturas especiais

Estudo indica que exposição a outros coronavírus pode tornar organismo mais vulnerável ao novo

Pesquisador da USP Daniel Damineli, um dos autores do estudo, falou sobre os resultados, em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa.

Micrografia eletrônica de varredura colorida de uma célula apoptótica (em vermelho) fortemente infectada com partículas do vírus SARS-COV-2 (em amarelo), isoladas de uma amostra de paciente
Micrografia eletrônica de varredura colorida de uma célula apoptótica (em vermelho) fortemente infectada com partículas do vírus SARS-COV-2 (em amarelo), isoladas de uma amostra de paciente NIAID Integrated Research Facility (IRF) / Fotos Públicas / CC BY-NC 2.0

Já se sabe que a doença causada pelo novo coronavírus pode se manifestar com maior ou menor gravidade. Há desde casos com sintomas mais leves, como tosse seca e dor de cabeça, até quadros graves, que podem causar a morte do paciente. Um estudo realizado por pesquisadores de instituições brasileiras e estrangeiras apresenta uma possível explicação para o fato de os idosos serem mais vulneráveis à covid-19 do que a população mais jovem. 

A pesquisa analisou de que modo o grau de severidade da doença pode ser influenciado pelo fato de o paciente já ter sido infectado por outras espécies de coronavírus. Segundo esse estudo, a exposição prévia a outros coronavírus, se tiver ocorrido em grande quantidade, torna o organismo mais frágil diante da espécie causadora da covid-19. No caso das pessoas mais velhas, é provável que essa exposição anterior tenha ocorrido mais vezes do que no caso das mais jovens. 

O estudo foi realizado por pesquisadores da USP, da Fundação Oswaldo Cruz e das universidades de Oxford, no Reino Unido, e de Tel Aviv, em Israel. O artigo ainda deverá ser revisado por outros cientistas. A pesquisa analisou de que modo o grau de gravidade da covid-19 pode ser influenciado pelo histórico de infecções por espécies de coronavírus endêmicas, que, na maioria dos casos, provocam apenas resfriados. 

“Essas outras espécies de coronavírus já circulam há algum tempo por aí, e não se fala muito delas porque normalmente causam apenas um resfriado comum. São linhagens que, em todo inverno, têm um pico de infecção”, explicou o biólogo computacional Daniel Damineli, pesquisador da Faculdade de Medicina USP e um dos autores do estudo, em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta sexta-feira, 14.

Os dados que alimentaram a pesquisa são de países da União Europeia e do Reino Unido. O estudo observou que a exposição prévia aos outros coronavírus pode fortalecer o organismo contra o coronavírus causador da covid-19, mas também pode fragilizar o organismo se essa exposição tiver ocorrido em grande quantidade. Daniel Damineli afirmou que isso poderia ocorrer porque uma primeira exposição a um coronavírus endêmico geraria uma resposta imune que não é ultraespecífica. 

“Você foi exposto pela primeira vez a um coronavírus circulante e essa resposta imune também reconhece um pouco do Sars-CoV-2. Essa primeira resposta pode ser protetora. Com o passar do tempo, com o aumento do número de exposições ao coronavírus endêmico, a resposta vai ficando mais específica às linhagens endêmicas e menos eficiente contra o Sars-CoV-2, o que poderia gerar uma resposta imune não só pouco eficiente ao novo coronavírus mas também doenças por causa de uma má regulação do sistema imune em resposta ao Sars-CoV-2”, explicou.

Ouça a conversa com Luíza Glória

Produção de Tiago de Holanda