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Exposição sobre Nise da Silveira, psiquiatra que revolucionou sua área, chega a BH

‘A revolução pelo afeto’ fica em cartaz até março e exibe obras de ‘clientes’ do Museu de Imagens do Inconsciente ao lado de trabalhos de artistas renomados

Reprodução do ateliê criado por Silveira é o espaço da mostra que melhor representa a homenageada, de acordo com os curadores
Reprodução do ateliê criado por Silveira é o espaço da mostra que melhor representa a homenageada, de acordo com os curadores Rogério Von Krüger/Divulgação

A exposição Nise da Silveira - A revolução pelo afeto é inaugurada nesta quarta-feira, 8, em Belo Horizonte, no Centro Cultural Banco do Brasil. A mostra presta homenagem à psiquiatra brasileira Nise da Silveira, que introduziu novos métodos para a terapia de pessoas com sofrimentos psíquicos. Ela se opôs aos tratamentos agressivos de sua época, como o eletrochoque e a lobotomia, e investiu no afeto e na arte para dialogar com pacientes e alcançar resultados. Seu trabalho mudou o entendimento de loucura entre a comunidade médica e levou à criação do Museu de Imagens do Inconsciente, em 1952.

Sediado no Rio de Janeiro, o local abriga 350 mil obras criadas por pessoas com transtornos mentais através da arte-terapia – os chamados “clientes” do Museu por Silveira –, como Carlos Pertuis, Adelina Gomes, Emygdio de Barros e Fernando Diniz. A exposição do CCBB exibe esses trabalhos ao lado de peças criadas por Lygia Clark, Zé Carlos Garcia, Alice Brill, o psiquiatra Carl Jung, entre muitos outros nomes. 

A mostra foi tema de entrevista no programa Conexões desta terça, 7, com um de seus curadores, Diogo Rezende. O convidado abordou a trajetória de Nise da Silveira e sua luta contra os tratamentos desumanos no âmbito dos manicômios. Ele explicou como foi feita a escolha das cerca de 90 obras dentre o vasto acervo do Museu das Imagens do Inconsciente, que foi feita principalmente por meio de publicações da psiquiatra, sobretudo o livro Imagens do Inconsciente, no qual a autora apresenta os acervos em uma narrativa que explica o seu método.

Conforme detalhou o entrevistado, o coletivo curador acredita que a ambiência é fundamental para transmitir as mensagens. Nesse sentido, a narrativa da exposição é dividida em momentos diferentes, começando em um ambiente mais frio e denso, que remete aos tratamentos obscuros dos manicômios e finalizando no ateliê de pintura, espaço descrito como o que melhor representa Nise da Silveira, mulher marcada pelo afeto, carinho e humanidade, segundo definiu Rezende. Ele detalhou como a psiquiatra começou a mudar a maneira de analisar as obras dos "clientes" nos anos 1940.

“A arte-terapia já existia, mas o problema é que as análises eram feitas sob métodos muito racionais e não utilizando teoria da comunicação e história da arte. Por exemplo, os renomados psiquiatras da época liam um trabalho de abstração como um embotamento afetivo ou incapacidade daquela ou daquele paciente, cliente, de manifestar afeto. E a Nise começou a perceber que isso era uma leitura completamente rasa de uma expressão que, no entendimento dela, era uma forma de comunicação não verbal. Então, ela começa a estudar historia da arte profundamente, a teoria de Jung, mitologia, cultura e dali ela vai puxando e costura lindamente, nos livros dela, com vários artistas e estudiosos de seu tempo e pessoas do teatro formas de analisar essas imagens e percebe que elas são documentos”, resumiu Rezende.

Ouça a entrevista completa pelo Soundcloud.

Nise da Silveira - A revolução pelo afeto fica em cartaz até o dia 28 de março de 2022 no Centro Cultural Banco do Brasil, que fica na Praça da Liberdade, 450, Funcionários. Mais informações no site do CCBB. A recomendação dos cuidados de prevenção contra a covid-19 deve ser seguida: usar sempre a máscara da maneira correta, evitar aglomerações e manter a higienização das mãos. A mostra também pode ser visitada de maneira virtual.

Produção: Carlos Ortega, sob orientação de Luiza Glória e Alessandra Dantas
Publicação: Alessandra Dantas