Pesquisa e Inovação

Ecossistemas surgiram de microalgas terrestres, sustenta pesquisa do ICB

Teoria será detalhada nesta quinta, em conferência do professor Luiz Eduardo Del Bem

Alga da família 'Klebsormidiophyceae', estudada pelo grupo do professor Del Bem
'Klebsormidium nitens', espécie de alga carófita utilizada no estudoTatiana Mikhailyuk / Wikimedia Commons

As primeiras formas de vida que se adaptaram ao solo do planeta Terra não eram organismos complexos, mas algas unicelulares. Em diversos momentos, populações de algas simples migraram da água para a terra, onde posteriormente evoluíram para organismos complexos, multicelulares. As plantas terrestres provavelmente são descendentes dessas populações de microalgas terrestres.

Essa análise, feita pelo professor Luiz Eduardo Del Bem, do Departamento de Botânica do ICB, é a base da “teoria da microfloresta”, que busca explicar como os ecossistemas terrestres surgiram. Descrita no artigo Xyloglucan evolution and the terrestrialization of green plants, publicado na revista New Phytologist, a tese será tema de apresentação do próprio professor nesta quinta-feira, 12, a partir das 14h, no âmbito da programação do 11º Workshop do Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal da UFMG. O evento está sendo realizado no auditório 3, do ICB.

Del Bem sustenta que as primeiras plantas terrestres eram derivadas de algas terrestres simples. “Uma alga complexa e altamente especializada em viver dentro da água teria muitas dificuldades para sobreviver fora dela”, argumenta o cientista.

Rochas moídas
Essas comunidades de algas foram os primeiros produtores primários –  que fazem fotossíntese –  em terra firme. “Esse tipo de microecossistema pode ter produzido os primeiros solos do planeta, definidos como rochas moídas misturadas a componentes biológicos que produzem agregação dessas partículas”, explica o professor, citando como exemplo o xiloglucano, um polissacarídeo usado por plantas para modular a agregação do solo em torno das raízes.

Esse processo teria sido essencial nos primórdios da colonização terrestre, pois preparou o planeta para receber novas plantas e formas de vida. “Demonstro a existência de um complexo mecanismo genético na maioria dos grupos de algas carófitas e o contexto da evolução do xilogucano à luz da conquista do meio terrestre por algas que dariam origem às embriófitas (plantas terrestres) e seu possível papel na formação precoce do solo”, afirma o professor.

Segundo Del Bem, seu trabalho integra linha de pesquisa iniciada na Universidade Federal da Bahia, por meio da qual busca-se compreender a origem das plantas terrestres (Embryophyta), que são todas as plantas conhecidas – desde os menores musgos até as maiores árvores. “Essas comunidades de microrganismos podem nos ensinar muito sobre como eram os primeiros ecossistemas terrestres", avalia o professor. O projeto propõe sequenciar o DNA total de comunidades de microalgas terrestres com o objetivo de identificar quais organismos estão lá e o que são capazes de fazer em termos funcionais.

Os estudos do laboratório do professor Luiz Eduardo Del Bem são financiados pelo Instituto Serrapilheira, agência privada de fomento à pesquisa, e conta também com apoio da Capes.

Com Assessoria de Comunicação Social e Divulgação Científica do ICB