Pessoas com sofrimento mental devem ser protagonistas de seu tratamento, defende psiquiatra
Em 'live' nesta segunda-feira, professor Renato Diniz Silveira, da PUC-MG, falou sobre o sentido da luta antimanicomial
A inflexibilidade e a falta de liberdade prejudicam o tratamento de pessoas com sofrimento mental nas clínicas e hospitais psiquiátricos. Essa foi uma das afirmações feitas por Renato Diniz Silveira, médico psiquiatra e professor da PUC Minas, em live realizada ontem, 18, Dia Nacional da Luta Antimanicomial, no âmbito da Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG. O debate, transmitido no Instagram do Diretório Acadêmico Alfredo Balena (DAAB) da Faculdade de Medicina, foi mediado por Cleo Coelho, residente de psiquiatria no Hospital das Clínicas da USP.
Para o professor, os pacientes devem ter mais participação no próprio tratamento. “Não devemos violentar a vontade das pessoas e deixá-las de lado, sem protagonismo. Muitos pacientes querem ter um pouco mais de entretenimento e não podemos privá-los disso. Contenção não pode ser confundida com punição.”
Comunicação e emoção
A formação de profissionais passa por diversas experiências teóricas e práticas ao longo do curso, e na medicina não é diferente. Segundo Renato Silveira, os residentes precisam lidar com a morte, loucura, sexualidade e a diversidade de seus pacientes, assuntos que muitas vezes não são abordados em sala de aula. “Esses estudantes precisam se formar em saúde mental, o que é diferente de psiquiatria. Saúde mental tem a ver com comunicação e emoção humana. Os cursos estão longe da realidade do Brasil, e acaba havendo um 'gap' entre o que estamos pensando na ponta e o que estamos ensinando”, afirma.
No contexto da terapia ocupacional como parte da assistência substitutiva, Renato Silveira destacou a importância de suas funções, mas fez algumas ressalvas. “Ela melhora o fluxo do pensamento, diminui as alucinações. É muito importante não só pelo aspecto da humanização, mas também para tirar o poder da mão de quem sempre discutiu esse tema e convidar todos a pensar.”
De acordo com o professor da PUC Minas, a palavra humanização vai além disso e não pode ser totalmente romantizada. "Temos que levar em consideração a reabilitação psicossocial e deixar as pessoas se expressarem culturalmente.” Apesar disso, o médico mencionou alguns dos perigos desse tipo de assistência, como a atuação do governo, a visão unilateral e influências de pessoas que não detêm conhecimento na área.
Luta por direitos
O Movimento da Luta Antimanicomial, que se caracteriza pela busca dos direitos das pessoas com sofrimento mental, surgiu após o Movimento da Reforma Psiquiátrica, na década de 1970. Na época, instituições acadêmicas, representações políticas e outros segmentos da sociedade questionavam o modelo clássico de assistência centrado em internações em hospitais psiquiátricos.
“O movimento não é um partido, uma instituição, ele é universal. Usamos o termo 'luta' porque em alguns momentos não há consenso, existem alguns conflitos financeiros, de poder e discordâncias entre os membros de uma equipe. E chamamos de 'antimanicomial' porque pensamos além da hospitalização, em algum serviço substitutivo”, explicou Silveira.
Trabalho diário
Renato é doutor em Educação com ênfase em ensino médico e mestre em Psicologia Social – ambas as formações pela UFMG – e coordenador da pós-graduação em Saúde Mental na PUC. Atua principalmente nas seguintes áreas: psiquiatria, dependência química, psicopatologia, educação médica, saúde mental, oficinas terapêuticas, cidadania do doente mental, políticas públicas e reforma psiquiátrica.
A live teve duração de uma hora e ficará disponível no Instagram (@daab.ufmg) até as 16h desta terça, 19. Ainda foram debatidos o atendimento da saúde mental no contexto do coronavírus, as pessoas em situação de rua, a relação com o direito e os impactos das decisões do governo atual na luta.
Veja a programação da Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG. Saiba mais sobre a Luta Antimanicomial.