Nos últimos anos, o mercado de quadrinhos e ilustrações tem observado um grande crescimento no Brasil. Com a ajuda da internet, de financiamentos coletivos e incentivos governamentais, a produção de quadrinhos no Brasil nunca esteve tão forte. Entretanto, esse aumento não significou uma mudança no mercado editorial, que continua dominado por homens, em sua maioria brancos e do sudeste brasileiro. É nesse contexto que nasce o livro Ponto de Fuga: mulheres ilustradoras e quadrinistas do Norte brasileiro, da jornalista e editora Rafaella Rodinistzky. 

A publicação busca analisar o rico universo das produções artísticas criadas pelas mulheres do Norte brasileiro que ainda têm seu trabalho desvalorizado e invisibilizado pelo mercado editorial. Assim, Rafaella Rodinistzky busca ampliar os horizontes da produção de quadrinhos no Brasil, reconhecendo e valorizando o trabalho desenvolvido por mulheres quadrinistas e ilustradoras que atuam fora do eixo Rio-São Paulo. O livro é resultado do Trabalho de Conclusão do Curso de Letras, com habilitação em Edição, realizado na UFMG. Em entrevista ao  programa Universo Literário desta segunda-feira, 20, a jornalista e editora deu mais detalhes sobre Ponto de Fuga: mulheres ilustradoras e quadrinistas do Norte brasileiro. 

A criação do projeto é uma história de longa data, mas que se deu principalmente devido ao contato da convidada com mulheres quadrinistas de outras regiões, durante suas experiências profissionais. A jornalista sentiu falta de um recorte que priorizasse cidades fora do sudeste brasileiro e por isso decidiu seguir esse caminho no seu Trabalho de Conclusão de Curso. Segundo Rodinistzky, é preciso jogar luz a essa produção não só pela falta de visibilidade que essas artistas enfrentam, mas também pela dificuldade de que essas obras cheguem no mercado do sudeste. 

É daí que parte a relação entre o título do livro e sua proposta. “Eu vejo muito essas mulheres como esses pontos de fuga, sabe? Cada uma ali com a sua arte, seu modo, direcionam novas perspectivas. É uma mudança de olhar. Então que a gente trace novos pontos de fuga a partir do nome delas. É uma de cada estado, mas onde tem uma delas, tem outras, tem coletivos de mulheres”, explicou a editora. Ela também falou sobre o machismo presente no meio dos quadrinhos, tanto na produção quanto no consumo, que contribui para a invisibilização de quadrinistas mulheres, especialmente nortistas e não brancas. 

Para a jornalista, é necessário ampliar as discussões sobre essa participação feminina no mercado e pensar não só como produtoras mas também como leitoras, destacando a importância de permitir relações de identificação nas mulheres que consomem essa arte, de reproduzir outras formas de falar e de pensar para que mais pessoas se vejam representadas. Rodinistzky também indicou uma série de artistas e iniciativas para conhecer o trabalho de mulheres quadrinistas do norte brasileiro.

Ouça a entrevista completa no Soundcloud.

Ponto de Fuga: mulheres ilustradoras e quadrinistas do Norte brasileiro, de Rafaella Rodinistzky, é uma publicação do Laboratório de Edição da Faculdade de Letras da UFMG e está disponível para download gratuitamente, em formato de pdf, no site.
Produção: Nicolle Teixeira, sob orientação de Alessandra Dantas e Luíza Glória
Publicação: Enaile Almeida, sob orientação de Luiza Glória