Arte e Cultura

'Olhar o passado para construir um futuro de resistência' é desafio para a cultura da UFMG

Abertura da 17ª edição do Festival de Verão, que resgata a memória das ações culturais da Universidade, reuniu gestores e expoentes históricos dessa trajetória

Evandro Cunha, Fernando Mencarelli, Alessandro Moreira, Mônica Ribeiro e Lúcia Pimentel na mesa de abertura do Festival de Verão, no Conservatório UFMG
Evandro Cunha, Fernando Mencarelli, Alessandro Moreira, Mônica Ribeiro e Lúcia Pimentel na mesa de abertura do Festival de Verão, no Conservatório UFMG Foto: Foca Lisboa | UFMG

A retomada da versão presencial do Festival de Verão é uma oportunidade propícia para, novamente, promover o encontro e a proximidade entre as pessoas e, assim, tornar possível a prática de uma política cultural na UFMG. A afirmação, da pró-reitora adjunta de Cultura, Mônica Medeiros Ribeiro, também soou como convite para que as comunidades universitária e externa participem da programação do evento, que inclui atividades para resgatar a memória afetiva e histórica das ações culturais da Universidade.   

Durante a abertura da 17ª edição do evento, realizada na noite de terça-feira, dia 28, no Conservatório UFMG, o pró-reitor de Cultura, Fernando Mencarelli, acrescentou que “reconhecer a trajetória cultural da UFMG, especialmente da década de 1960 até a recente implantação da Pró-reitoria de Cultura, em junho de 2022, reflete a convicção da Universidade sobre a importância da cultura para suas ações”.

Mencarelli lembrou que a UFMG é a quarta instituição de ensino superior pública a adotar uma estrutura de pró-reitoria para a cultura. Segundo ele, esse avanço também significa “resistência ao fluxo contrário, de retrocessos e desmontes da cultura nacional”. E acrescentou: “não podemos nos iludir, pois o momento abriu apenas um respiro para que a gente possa se reorganizar para avançar. Sobrevivemos até aqui, porque tínhamos lastro, visão e estrutura favorável. Por isso, é importante olharmos para o passado para construir o futuro a partir do hoje”.

Jornadas Culturais
Para uma das curadoras da 17ª edição do Festival de Verão, a professora Lúcia Pimentel, da Escola de Belas Artes, a UFMG tem, sim, muitas memórias e histórias, algumas muito emblemáticas. Ela destacou as Jornadas Culturais, que, na sua avaliação, “foram o grande programa de cultura da Universidade, quando o Festival de Inverno era o evento mais importante”. As jornadas reuniam atividades com temas sugeridos pelas próprias comunidades da Região Metropolitana da capital. “A cultura tem o poder de fazer pensar, alegrar, fortalecer as pessoas. Naquela época [anos 60 e 70], embora não tivéssemos uma política cultural posta, tínhamos toda uma postura política”, recordou.

Os professores Evandro Lemos, também da EBA, e Geraldo Guedes, aposentado da Faculdade de Medicina, que também participaram da primeira roda de conversa sobre Memória e Cultura, contaram que, antes mesmo de a UFMG ter um regimento próprio, com uma estrutura de pró-reitorias, os gestores já se preocupavam com a temática.

Evandro Lemos participa, desde 1976, dos festivais de inverno, como professor das oficinas, e desde 1980, como docente do quadro. Ele comentou que a UFMG, naquela época, adotava uma forma colegiada de administração. “Os conselhos indicavam representantes da área, numa lista tríplice, para que o reitor escolhesse o seu coordenador, que tinha dois anos de mandato. Em 1980, fui escolhido pelo então reitor Celso Vasconcelos Pinheiro para coordenar a área de Extensão. Ali comecei a luta por recursos, em um tempo em que não existiam as leis de incentivo à cultura”, recordou.

Luta e engajamento
Evandro  contou que foram “muitas lutas”, inclusive para restaurar o prédio que foi transformado no Centro Cultural UFMG. No entanto, por falta de recursos, sua inauguração só ocorreu mais tarde, em abril de 1989, viabilizada por doações de parceiros que tinham relação afetiva com a UFMG. “O tempo na Universidade tem uma dimensão mais longa, especialmente na área cultural, mas com uma história singular: aqui, as ações culturais contam com forte engajamento das unidades acadêmicas”, destacou.

Evandro Cunha e Geraldo Guedes relembraram suas trajetórias nas ações culturais da UFMG, desde os anos 1970
Evandro Cunha e Geraldo Guedes relembraram suas trajetórias nas ações culturais da UFMG, desde os anos 1970 Foto: Foca Lisboa | UFMG

O professor aposentado da Faculdade de Medicina Geraldo Guedes, primeiro pró-reitor de Extensão da UFMG, na gestão do reitor Cid Veloso (um dos reitores brasileiros escolhidos por eleição direta da comunidade acadêmica após a democratização do país), relatou várias histórias e memórias afetivas dessa trajetória. Para ele, que anteriormente coordenava o Internato Rural da Faculdade de Medicina, a experiência com a cultura “teve que ser apreendida dos livros e das vivências, junto às comunidades onde as atividades eram realizadas”.

“Eu tinha 32 anos na época, pleno do ideário estudantil de uma universidade transformadora. A Pró-reitoria de Extensão, no novo formato da estrutura executiva, com quatro anos para a gestão, era tudo que eu almejava, para promover diferentes atividades fora das salas de aula, inclusive ações culturais. Foram muitas lutas por recursos, pela manutenção de programas e ações, pois a cultura tem que fazer mais. A cultura é emancipadora, revolucionária, transforma a sociedade”, afirmou.

O vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira definiu como "reenergizante" o momento vivido pela UFMG , com a retomada das atividades totalmente presenciais.

 Confira a programação do Festival de Verão UFMG.

Teresa Sanches