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Em meio ao risco de novo apagão, ‘Outra estação’ aborda fontes alternativas de energia

Programa da Rádio UFMG Educativa ouviu especialistas e consumidores sobre a possível crise de abastecimento em razão da falta de água nos reservatórios das hidrelétricas

Imagem aérea da Hidrelétrica de Itaipu, no Paraná
Hidrelétrica de Itaipu, no Paraná Jonas de Carvalho I Flickr I CC BY-SA 2.0

Sessenta e cinco por cento da energia elétrica gerada no Brasil provêm das usinas hidrelétricas, movidas pela energia hidráulica, ou seja, pela força das águas. Esse percentual já foi bem maior: em 2001, período em que houve racionamento no país, as hidrelétricas respondiam por 85% da matriz elétrica brasileira. 

Com abundância de água, faz sentido aproveitar esse tipo de energia, que é renovável e tem menor impacto ambiental do que outras fontes, a exemplo das usinas termelétricas acionadas por combustíveis fósseis poluentes, como carvão e óleo diesel. O problema é a dependência centralizada em uma fonte. 

Em maio de 2021, o Sistema Nacional de Meteorologia emitiu, pela primeira vez, alerta de emergência hídrica de junho a setembro, em razão da falta de chuvas na Bacia do Rio Paraná, que abrange os estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. A vazão de água que chega aos reservatórios é a menor desde 1930, o que põe em risco o fornecimento de energia nos próximos meses.

“Estamos particularmente preocupados por causa do Rio Paraná, onde está a hidrelétrica de Itaipu, gigantesca, com pouca água. Mas a geração hidráulica não é uma alternativa que precisamos eliminar da nossa matriz energética. Ela combina muito bem com a geração solar e eólica e nos ajuda a aproveitar esse potencial. Obviamente, precisamos ter alternativas que não dependam exclusivamente do regime de chuvas, do nível de radiação solar ou do regime dos ventos”, analisa o professor Braz Cardoso, do Departamento de Engenharia Elétrica da UFMG. Ele preside a Comissão Permanente de Gestão Energética, Hídrica e Ambiental da Universidade.

Novas fontes de energia elétrica: saídas para evitar o apagão no Brasil é o tema do novo episódio do programa Outra estação, da Rádio UFMG Educativa.


Alternativas

O professor Braz Cardoso lembra que mudanças na matriz energética levam tempo 
Braz Cardoso lembra que mudanças na matriz energética levam tempo Gabriela Cardoso

Nos últimos anos, a participação da energia eólica, gerada pela força dos ventos, aumentou na matriz brasileira e hoje corresponde a quase 11% da geração de energia, de acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico. A expectativa é que o percentual chegue a 13,6% ao final de 2025.

Segundo relatório conjunto da Empresa de Pesquisa Energética e do Ministério de Minas e Energia, outra fonte com contribuição expressiva (9%) é a biomassa, advinda de materiais orgânicos, a exemplo do bagaço da cana de açúcar ‒ o excedente da produção do etanol pode ser queimado para gerar gases aproveitados como combustíveis nas termelétricas. 

A eletricidade gerada com o uso de gás natural, por sua vez, já corresponde a mais de 8% do montante consumido, mesmo percentual do carvão e seus derivados. Energia nuclear, derivados de petróleo e energia solar contribuem, cada um, com  2% para a geração de eletricidade no país.

De acordo com o mais recente Balanço Energético Nacional publicado pelo Ministério de Minas e Energia, com base no ano de 2020, 85% da matriz elétrica brasileira é composta de fontes renováveis. Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica mostram que, desde 2011, foram contratados 30 gigawatts de capacidade instalada de fontes renováveis, que representam cerca de R$ 120 bilhões em investimentos. 

Uma das alternativas promissoras de geração de energia elétrica limpa para o futuro é o hidrogênio verde, que poderá ser usado, por exemplo, para garantir o abastecimento de carros elétricos. 

“O resultado da combinação de todas essas energias renováveis virá em médio e longo prazo. Em 10 a 20 anos é que veremos essa alternativa sendo implementada e utilizada para dar retorno às gerações futuras”, afirma a professora Caroline Rodrigues Vaz, do Departamento de Engenharia Têxtil da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com sede em Blumenau, entrevistada no programa.

Também foram ouvidos o professor do Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas da UFSC Mauricio Uriona Maldonado, o pesquisador Alberto Sáenz-Isla, doutor em Ecologia pela UFMG, e dois consumidores que buscam alternativas para contornar os gastos com a conta de luz: o empreendedor Adilson Viveiros, dono de um restaurante, e o médico Vitor Hugo Lisboa Lopes Rodrigues, que instalou uma usina fotovoltaica em casa.

O médico Victor Hugo Lisboa Lopes Rodrigues instalou painéis solares em casa
Victor Hugo Rodrigues instalou painéis solares em casa Arquivo pessoal

Para saber mais
Transição energética pós-covid-19: o global, o nacional e o subnacional, artigo publicado no Jornal da Unicamp

Estudo feito com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico sobre o crescimento da matriz de energia limpa no Brasil, especialmente das fontes eólica e solar

Grupo de Pesquisa Sinergia (Group on Sustainability and Innovation in Renewable Energies), da Universidade Federal de Santa Catarina

Produção
O episódio 76 do programa Outra estação é apresentado por Alessandra Ribeiro e Arthur Bugre. A produção é de Alessandra Ribeiro, Arthur Bugre e Beatriz Kalil. Os trabalhos técnicos são de Breno Rodrigues. A coordenação de jornalismo da Rádio UFMG Educativa é de Paula Alkmim. Em cada episódio, o programa aborda um tema de interesse social. Todos os episódios estão disponíveis nos aplicativos de podcast, como o Spotify.