Ensino

Pesquisadores do ICB, ICEx e Fafich conquistam Grande Prêmio de Teses

Trabalhos são das áreas de microbiologia, matemática e antropologia

.
Lucas Reis, da Matemática, Luana Martins, da Antropologia, e o professor Jônatas Abrahão, que representou o seu orientando, Rodrigo Rodrigues, da Microbiologia
Foca Lisboa / UFMG

Os doutores Rodrigo Araújo Lima Rodrigues (Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências da Saúde), Lucas da Silva Reis (Ciências Exatas e da Terra e Engenharias) e Luana Carla Martins Akinruli (Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes) foram agraciados com o Grande Prêmio de Teses UFMG 2019. O anúncio foi feito na noite desta segunda-feira, dia 14, em cerimônia realizada no auditório da Reitoria. A premiação integra a programação da 28ª Semana do Conhecimento.

Os autores dos melhores trabalhos defendidos em 2018 foram escolhidos por comissão ad hoc instituída pela Câmara de Pós-graduação entre as 55 teses indicadas por seus respectivos programas, agrupadas em três grandes áreas do conhecimento.

Eloquência dos números
O pró-reitor de Pós-graduação, Fábio Alves, lembrou que o ano de 2019 foi de dificuldades para a UFMG em razão do impacto de ações externas que comprometeram o financiamento da área e criaram obstáculos para a produção do conhecimento. No entanto, ele expôs um panorama que comprova a vitalidade da pós-graduação da Universidade, que tem, por exemplo, 65,5% dos seus programas com notas 5, 6 e 7 na avaliação da Capes.

Fábio Alves:
Fábio Alves: excelência distribuídaFoca Lisboa / UFMG

“Temos números eloquentes, magnificados por uma excelência distribuída em todas as áreas do conhecimento”, disse o pró-reitor, acrescentando que, em quase sete décadas de história, a UFMG gerou quase 32 mil dissertações e 11,7 mil teses de doutorado. “Esse magnífico resultado não é apenas quantitativo. Revela-se, sobretudo, pela excelência dessa produção acadêmica, pelo seu impacto científico e pela relevância social”, observou o professor.

A despeito das dificuldades, Fábio Alves destacou que, neste ano, tiveram início as atividades do programa institucional de internacionalização da pós-graduação, o Capes-PrInt, que, segundo ele, reafirma o compromisso da UFMG em “desenvolver ações transversais e transdisciplinares". De acordo com o pró-reitor, a UFMG aprovou o envio de 75 doutorandos para estágio-sanduíche no exterior e 45 docentes para temporadas como professores visitantes em instituições exteriores. Em contrapartida, 25 jovens doutores com experiência no exterior chegaram à UFMG para atuar durante 12 meses, e 36 professores visitantes estrangeiros cumprirão estadas de até 15 dias.

O presidente da Fapemig, Evaldo Vilela, elogiou a pós-graduação da UFMG – “consolidada e de qualidade” – e lamentou que todo o sistema de geração do conhecimento do país, incluindo as universidades e as agências de fomento, como a que preside, seja pouco valorizado pela sociedade brasileira. “Desenvolvemos pesquisas de abrangência global, contamos com pesquisadores de classe mundial, e a UFMG, por exemplo, é recordista em patentes. Mas por que recebemos esse tratamento?”, refletiu ele, referindo-se aos recorrentes cortes orçamentários que têm ameaçado a sobrevivência de instituições como Capes, CNPq e a própria Fapemig.

Representante de área na Capes, a professora Adelina Martha dos Reis, do ICB, fez uma análise da evolução da pós-graduação no Brasil, que tem formado, por ano, cerca de 60 mil mestres e 22 mil doutores. “Só nos últimos 15 anos, a expansão foi de 200%”, calculou. Esse desempenho, no entanto, ainda está aquém das necessidades do país. “Há quem diga que formamos doutores em excesso, mas isso não é verdade. Nossos índices são de 7 a 8 doutores por 100 mil habitantes; nos países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico], essa taxa varia de 20 a 30 doutores por 100 mil.”

Sandra Goulart:
Sandra Goulart: demonstração de força e esperançaFoca Lisboa / UFMG

Déjà-vu e resistência
No pronunciamento que encerrou a cerimônia, a reitora Sandra Regina Goulart Almeida destacou o empenho dos agraciados da atual edição (13ª) e o dos das anteriores. “Vocês constituem um exemplo de dedicação, tenacidade e superação. Sabemos que não foi pouco o que vocês tiveram que abrir mão para chegar até aqui. A Instituição e o país lhes agradecem”, disse ela.

Sandra Goulart voltou a lamentar as dificuldades vividas nos dias atuais, que, em sua visão, dão certa sensação de déjà-vu, principalmente no âmbito das universidades públicas. “A nossa jovem universidade já viu, e viu de novo, depois mais uma vez, e agora mais uma, a ascensão do autoritarismo, a perseguição do livre pensamento, a ameaça ao funcionamento das instituições, a tentativa de seu estrangulamento financeiro, o desrespeito à autonomia, o culto à ignorância, ao obscurantismo e ao anti-intelecualismo”, criticou.

Ao fim do seu discurso, a reitora, que foi bastante aplaudida pelo público que lotou o auditório da Reitoria, disse que a cerimônia representava mais do que uma homenagem aos autores das melhores teses de 2018. “Ela sinaliza uma demonstração de força, esperança e coesão, um ato de resistência, a luta por um sonho para todos nós que fazemos parte desta comunidade que tanto amamos. Não podemos retroceder, não podemos esmorecer”, conclamou Sandra Goulart Almeida.

O mundo dos vírus

Na grande área Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e da Saúde, o vencedor foi o pesquisador Rodrigo Araújo Lima Rodrigues, com a tese Análise extensiva da virosfera e seus hospedeiros: avançando na sistemática, genômica e transcriptônica de vírus gigante, sob a orientação do professor Jônatas Santos Abrahão, do Programa de Pós-graduação em Microbiologia, do ICB. A tese concorreu com outros 24 trabalhos. 

No resumo da pesquisa, Rodrigo Rodrigues explica que os vírus são as entidades biológicas mais abundantes e diversas encontradas no planeta e formam uma virosfera. Eles estão associados a organismos de todos os domínios da vida, mas ainda não está claro como essa rede de interação mantém-se conectada. O pesquisador, por meio de meta-análises extensivas, obteve uma visão ampla dessa rede e da distribuição de diferentes grupos virais pelo planeta.

Suas conclusões revelam uma virosfera antropocêntrica, na qual a maioria dos vírus conhecidos está associada ao ser humano e a espécies de interesse médico, econômico ou biotecnológico. Além disso, Rodrigues identificou ao menos 320 espécies virais com representantes que infectam o ser humano. Entre os agentes não associados a infecções conhecidas no ser humano, os vírus gigantes se destacam pela sua complexidade genômica e estrutural. O trabalho de Rodrigo Rodrigues propõe avanços em diferentes vertentes no estudo desses vírus gigantes, especialmente na sistemática, genômica e transcriptômica de grupos virais.

Corpos finitos

Lucas da Silva Reis, autor da pesquisa Contemporary Topics in Finite Fields: Existence, characterization, construction and enumeration problems, foi o vencedor no grupo das Ciências Exatas e da Terra e Engenharias. Ele foi orientado pelo professor Fabio Enrique Brochero Martinez e coorientado por Daniel Panário, do Programa de Pós-graduação em Matemática, do ICEx. O trabalho concorreu com outras 10 teses.

No trabalho, distribuído em oito capítulos, Reis discorreu sobre vários problemas teóricos e práticos da Teoria de Corpos Finitos. No segundo capítulo, o pesquisador apresenta definições, notações e resultados básicos dessa teoria e áreas afins, como Álgebra e Teoria dos Números.

Os principais objetos de estudo incluem polinômios, funções polinomiais e elementos em corpos finitos. O autor discutiu problemas relacionados a existência, construção, caracterização e enumeração. Embora a abordagem seja fundamentalmente teórica, muitos dos problemas surgiram de questões práticas, compiladas de contribuições originais de artigos e pesquisas.

Esquecimento e conflito ambiental

Intitulada A desconstrução do esquecimento em contexto de conflito ambiental: arqueologia e etnografia da comunidade de Miguel Burnier, Ouro Preto, Minas Gerais, a tese de Luana Carla Martins Akinruli conquistou o Grande Prêmio na área de Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes. Orientada pelo professor Carlos Magno Guimarães, do Programa de Pós-graduação em Antropologia da Fafich, ela concorreu com 21 trabalhos.   

A pesquisadora desenvolveu um estudo de caso na comunidade de Miguel Burnier, no Quadrilátero Ferrífero-aquífero, no contexto do conflito ambiental provocado pelo início das operações de mineração da Gerdau, em 2003. Segundo a autora, as atividades da empresa resultaram em “uma afluência de arruinamentos sucessivos e repentinos”. A comunidade, de acordo com o resumo da tese, “amparou-se em diversas formas de resistência que incluem não somente as ferramentas legais, mas também armas simbólicas que são associadas à preservação de sua história e seus reflexos materiais, como os bens patrimoniais”.

Além de pesquisa histórico-documental e prospecções arqueológicas, Luana Martins realizou geoprocessamento e estudo etnográfico para construção de uma narrativa desenvolvida junto, com e para a comunidade.

Menções honrosas

Duas teses receberam menção honrosa: Corpos em baile – giros da literatura, giro do afeto nas Gerais, de Gabriel Túlio de Oliveira, sob orientação do professor Bernardo Machado Gontijo, do Programa de Pós-graduação em Geografia, que compõe o grupo das Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes, e Overcoming quinone deactivation: rhodium catalysed C-H activation as new gateway for pontent trypanocidal prototypes, de Guilherme Augusto de Melo Jardim, orientado pelo professor  Eufrânio Nunes da Silva Junior, do Programa de Pós-graduação em Química, do Instituto de Ciências Exatas (ICEx).

Formado em sua maioria por doutores, orientadores e coordenadores de programas, público lotou o auditório da Reitoria
Formado em sua maioria por doutores, orientadores e coordenadores de programas, público lotou o auditório da Reitoria durante a cerimônia Foca Lisboa / UFMG