UFMG mira geração própria de energia e economia de 50% na conta de luz
Projeto ‘Oasis’, de eficiência energética, prevê instalação de usinas fotovoltaicas e microturbinas a gás; investimento de R$ 21 milhões deverá ser recuperado até 2025
Para fazer frente ao aumento significativo das tarifas de energia elétrica e à necessidade de buscar fontes de geração limpas e sustentáveis, a UFMG dará início em janeiro à execução de um novo modelo de gestão energética. A instalação de sua própria minirrede de energias alternativas vai gerar aproximadamente 15% da potência necessária para abastecer o campus Pampulha e, associada à migração para o mercado livre de energia, deverá reduzir em até 50% os gastos com a conta de luz.
O projeto de pesquisa e desenvolvimento institucional Minirrede de energia Oásis/UFMG será viabilizado com investimentos de R$ 21 milhões, que incluem aportes de recursos da Secretaria de Educação Superior (Sesu) do Ministério da Educação. Esses investimentos deverão ser recuperados até 2025, em horizonte de três anos após o fim da implantação do projeto. Concebida desde 2016, a iniciativa foi ampliada para atender aos objetivos da Comissão Permanente de Gestão Energética, Hídrica e Ambiental, instituída em 2018, que ganhou caráter permanente no ano passado.
O projeto contempla três linhas de ação: gestão de contratos, geração própria de recursos energéticos e gestão de consumo. A meta é a implementação de novas tecnologias conjugadas com a produção científica, redução de custos e sustentabilidade energética.
A revisão de contratos de fornecimento com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) está sendo realizada por grupo de pesquisadores do Departamento de Engenharia Elétrica da Escola de Engenharia e pelo corpo técnico do Departamento de Gestão Ambiental da Pró-reitoria de Administração (PRA), com intuito de fazer a UFMG migrar para o mercado livre de energia, reduzindo em até 30% o preço da tarifa de eletricidade.
Segundo o coordenador do projeto e presidente da comissão, professor Braz de Jesus Cardoso Filho, essa é uma tendência internacional que, associada à própria minirrede de energia, composta de usinas fotovoltaicas e microturbinas a gás para geração de energia térmica e elétrica, vai possibilitar economia de até 50% no custeio da conta de energia, que corresponde a cerca de R$ 10 milhões por ano – a estimativa é de antes da suspensão das atividades acadêmicas presenciais.
Ciclo combinado
Em janeiro, começarão as obras de instalação das usinas fotovoltaicas nos Centros de Atividades Didáticas de Ciências Biológicas e Ciências Exatas (CAD 1 e CAD 3). O edital para licitação da usina do CAD 2 será lançado no mesmo mês. Os painéis fotovoltaicos vão gerar 500 kWp de potência, tornando os três prédios autossustentáveis.
As sete microturbinas, que serão movidas pelo calor da queima de gás natural fornecido pela Gasmig (a contratação está em andamento), vão gerar energia térmica para fazer funcionar o chiller (resfriador) do sistema de ar-condicionado central de vários edifícios, como o da Escola de Engenharia, o do Instituto de Ciências Exatas (ICEx), o do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e o da Reitoria. “O chiller de ar-condicionado é o compartimento que fica do lado de fora dos edifícios e exerce a função de resfriar o ar e jogá-lo para o interior dos prédios. Em vez de energia elétrica, a energia térmica gerada pelo calor é que tornará possível o resfriamento do ar”, explica o professor Braz.
Outra vantagem das microturbinas diz respeito ao aproveitamento do calor da queima do gás natural para gerar energia elétrica, que, por sua vez, será armazenada em baterias (recarregáveis, mais duráveis e não poluentes) para ser redistribuída para abastecimento do campus Pampulha. “É o chamado ciclo combinado, que tem as vantagens adicionais de funcionar 24 horas por dia, sete dias por semana e ainda possibilitar a redução do preço da tarifa do gás natural fornecido”, observa Braz.
O mesmo sistema será instalado no Centro de Treinamento Esportivo (CTE) para aquecer a piscina olímpica. O aquecimento da piscina já se dá por meio da queima de gás natural, só que pelo sistema de caldeira, sem geração da eletricidade. A geração própria de energias alternativas deve proporcionar economia de 20% na conta de luz da UFMG.
“Mais que um ganho econômico, já que recursos de custeio podem ser direcionados para outras áreas da Universidade, esse projeto traz retorno também para a inovação no ensino e na pesquisa. Tudo que está sendo proposto é embasado por estudos e certamente vai gerar mais pesquisas”, afirma o pró-reitor de Planejamento, Maurício Freire. Na sua avaliação, a diversificação da matriz de geração energética na perspectiva do ciclo combinado é o grande diferencial do projeto Oasis, que eleva a UFMG ao patamar internacional de gestão energética.
“Esse modelo pode servir de referência para outras instituições brasileiras. Baseado na inovação e na sustentabilidade, ele pode até mesmo viabilizar a expansão da Universidade”, acrescenta o vice-reitor, Alessandro Fernandes Moreira, que supervisiona as ações da Comissão Permanente de Eficiência Energética.
Outro efeito positivo do projeto, na avaliação do pró-reitor de Administração, Ricardo Hallal Fakury, está associado ao aprimoramento das regulamentações nos campos da geração distribuída e das minirredes de energia no âmbito da Cemig e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Consumo consciente
Para uma instituição do porte da UFMG, cujo consumo de energia elétrica equivale ao de 15 mil residências, a migração do ambiente de contratação regulada para o de contratação livre de energia e a implementação da minirrede de geração própria são ações que proporcionarão resultados imediatos e de longo prazo, avalia Ricado Fakury.
“Mas tudo isso deverá ser consolidado simultaneamente com o consumo responsável, terceira linha de ação do projeto”, destaca Fakury. Ele informa que será deflagrada uma campanha de conscientização da comunidade universitária relacionada à separação das cargas críticas – que supre equipamentos que precisam funcionar ininterruptamente e desativa os que podem ser desligados, especialmente das 17h às 20h, quando a tarifa de energia é quase cinco vezes superior à padrão. Também será dada continuidade à troca das lâmpadas fluorescentes por lâmpadas led, mais econômicas.
Recursos hídricos
Em relação aos recursos hídricos, a Comissão Permanente de Gestão Energética, Hídrica e Ambiental da UFMG está desenvolvendo projeto de Pesquisa e Desenvolvimento Institucional (PDI) para o campus Pampulha, responsável por 80% do consumo de água da UFMG.
“O objetivo também é agregar otimização de recursos e produção científica, com levantamento inicial do potencial hídrico do aquífero para o fornecimento de água subterrânea e do consumo fracionado das unidades do campus Pampulha. Na sequência, poços artesianos já existentes e cadastrados serão regularizados e equipados, e paralelamente as edificações serão preparadas para aproveitamento otimizado da água, incluindo a pluvial”, relata Fakury.
As atividades deverão obedecer a uma ordem segundo a qual unidades com maior consumo de água serão contempladas primeiramente. A elaboração do PDI de gestão hídrica é coordenada pelos professores Marcelo Libânio, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Escola de Engenharia, e Leila Nunes Menegasse Velásquez, do Departamento de Geologia do Instituto de Geociências.