Institucional

Semana de Saúde Mental propõe 'mutirão pela vida'

Evento que começa na próxima segunda e coincide com o período de recepção de calouros reafirma caráter inclusivo da UFMG

Identidade visual do evento
Identidade visual do evento, que reflete o esforço em pensar o indivíduo numa perspectiva interseccionalDouglas Salustiano | Cedecom | UFMG

Com o tema Vida: mutirão de todes, a UFMG promove, de 17 até 21 de maio, a 9ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social. A programação, que inclui palestras, debates, oficinas, rodas de conversas, vivências e atividades culturais, será totalmente virtual para atender às condições de distanciamento social impostas pela pandemia da covid-19. A transmissão será feita pelo canal da Pró-reitoria de Extensão no Youtube e pelas plataformas dos parceiros da Rede de Saúde Mental da UFMG.

A programação da Semana coincide com o início do primeiro período letivo (17 de maio) e com o Dia Internacional de Luta Antimanicomial (18 de maio). Segundo a diretora da Universidade dos Direitos Humanos, responsável pelo evento, professora Maria Aparecida Moura, “essa feliz coincidência” dará a oportunidade aos calouros de "conhecer um pouco mais desta instituição cada vez mais inclusiva e que respeita o direito à diversidade e às diferenças".

“Entrar na universidade pública é uma conquista que, sem dúvida, gera felicidade. Mas deve gerar também um comportamento comprometido e de observância crítica em defesa de direitos ameaçados neste contexto pandêmico", diz a professora.

Com a temática Vida, mutirão de todes, a UFMG, na avaliação da pró-reitora de Extensão, Claudia Mayorga, expressa a compreensão de que o sofrimento mental, especialmente dos grupos mais vulneráveis como a população trans, ajuda a refletir sobre a necessidade de pensar o sujeito em perspectiva interseccional e não apenas como indivíduo único e universal. Ela acrescenta que "a participação dos calouros na Semana será uma oportunidade de criar pontes e de deixar explícito que seguimos construindo uma universidade para todos, todas e todes”.

Letramento
A diretora da Universidade dos Direitos Humanos, instância recém-criada na UFMG para abrigar todas as atividades relacionadas à temática, observa que o isolamento social deixa as pessoas mais suscetíveis à ansiedade e ao sofrimento mental. “Por isso, mais que nunca, os marcadores éticos da luta antimanicomial, que teve início na década de 1970, como o cuidado e o respeito aos direitos dos cidadãos em sofrimento mental e a ruptura com a desumanização e as internações compulsórias em hospitais psiquiátricos, ganham urgência tanto nos espaços formais quanto nos informais”, observa Cida Moura.

Na avaliação da professora, a proposta da Semana de Saúde Mental e Inclusão Social “praticamente promove um letramento sobre a temática”, o que significa dar a conhecer as fontes de informações, a estrutura de acolhimento aos usuários e familiares e os limites da atenção oferecida pelo sistema de saúde no país. Para ela, o tema, que ainda é tabu na sociedade, precisa ser debatido fora da esfera médica e compreendido na órbita da responsabilidade social.

Cida Moura:
Cida Moura: 'diversidade constitui nossa comunidade'Foca Lisboa | UFMG

A Semana de Saúde Mental é um dos desdobramentos do trabalho de nove anos da Rede de Saúde Mental da UFMG, que congrega usuários dos serviços públicos de saúde mental e seus familiares, movimentos sociais, instituições públicas, profissionais de diferentes áreas e formuladores de políticas. "A UFMG chegou à maturidade de propor a Semana de Saúde Mental e Inclusão Social com a compreensão de que a diversidade que constitui a nossa comunidade, marcada  especificamente pelas relações interseccionais, requer um olhar atento para o modo como as categorias raça, classe, gênero, orientação sexual, nacionalidade, capacidade, etnia, faixa etária, entre outras, integram as variáveis que podem levar ao sofrimento mental", analisa.

Apesar do Brasil
A abertura da Semana de Saúde Mental e Inclusão Social será nesta segunda-feira, 17 de maio, a partir das 17h, com transmissão pelo canal da Pró-reitoria de Extensão no Youtube. A  artista indisciplinar e pesquisadora Jota Mombaça vai ministrar a conferência Apesar do Brasil, na qual fará, segundo ela própria, "uma leitura não individualizante do trauma da brasilidade, propondo-se a romper a atomização das análises do sujeito patologizado". A discussão será centrada na ideia de trauma, levando em consideração o intercruzamento de sistemas de opressão, possibilidades de resistência e contradições constitutivas na formação dos processos de vida e criação experimentados por pessoas racializadas, dissidentes sexuais e desobedientes de gênero.

Na terça-feira, 18, às 10h, o Programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa (104.5 FM), dará voz aos usuários dos serviços de saúde mental e familiares, protagonistas da luta antimanicomial. A jornalista Luíza Glória conduzirá o programa, com entrevista ao vivo com representante do movimento e depoimentos, falas livres, arte e cultura. Essa atividade é fruto de parceria com usuários do Centro de Convivência São Paulo e com o projeto de extensão Rádio e saúde mental em sintonia com a cidade, vinculado ao curso de Terapia Ocupacional da UFMG e coordenado pela professora Regina Céli Fonseca Ribeiro.

Também na terça-feira, às 14h, Luís Carlos de Mello, diretor do Museu Imagens do Inconsciente, Cristina Cilli, conservadora do Museu de Antropologia Criminal, e Cesare Lombroso, da Universidade de Turim, participarão da mesa Museus, saúde mental e controvérsias científicas. As mediadoras serão as professoras Maria Stella Goulart Brandão, do Departamento de Psicologia da Fafich, e Verona Segantini, do Departamento de Artes Plásticas da Escola de Belas Artes.

Mais tarde, às 17h, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) promoverá a roda de conversa Vivências dos estudantes no modo de ensino remoto emergencial, em que a comunidade discente terá oportunidade de trocar vivências e fazer avaliação coletiva da saúde mental dos estudantes.

Desafios para o século 21
Para quarta-feira, 19, às 16h, está programada uma roda de conversa acerca de questões da 5ª Conferência Nacional de Saúde Mental (que ocorrerá de 17 a 20 de maio de 2022), incluindo resgate histórico das conquistas da Reforma Psiquiátrica no contexto do SUS. Representantes do Núcleo de Apoio Psicopedagógico de Estudantes da Faculdade de Medicina (Napem/UFMG), da Liga Acadêmica de Saúde Coletiva (Liasc) e da Liga Acadêmica de Humanidades Médicas (LAHUM) vão apresentar os dados epidemiológicos disponíveis e descrever os fundamentos teóricos vinculados aos desafios da saúde mental no século 21.

No dia 20, às 10h, o Serviço de Atenção ao Estudante de Letras (Sael), com apoio da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) promoverá roda de conversa sobre Medo, perdas e luto

No encerramento da Semana, no dia 21, será lançado vídeo do Núcleo de Acolhimento e Diálogo da Apubh, que trata da precarização do trabalho docente, com possíveis consequências à saúde em sua dimensão biopsicossocial no contexto pandêmico. O evento reunirá os professores Solange Godoy, Stella Goulart, Marcos Bortolus, Ricardo Souza, Maria Rosaria Barbato, Marcos Werneck, Francisco Lima e Julie Silva.

Diversas atividades demandam inscrição prévia. Veja a programação no site do evento.

Teresa Sanches