Especialistas debatem manejo adequado do fogo em áreas de Cerrado
Grupo do ICB estuda espécies da fauna e flora mais vulneráveis aos efeitos das queimadas
O desenvolvimento de métodos para identificar espécies da fauna e da flora mais vulneráveis ao fogo será discutido nesta quinta-feira, 22, e sexta, 23, na primeira edição do workshop Ignite: subsídios para o manejo de fogo no Cerrado, promovido pelo Laboratório de Ecologia Evolutiva e Biodiversidade (LEEB), do ICB. Essas espécies serão utilizadas como indicadores para a definição de limiares de regime de fogo apropriados para a conservação da biodiversidade.
Na abertura do evento, na quinta-feira, às 8h30, será apresentado o software Ignite – fire for people and ecosystems, ainda em fase inicial de elaboração. “Esse software será destinado ao uso de agências nacionais vinculadas à preservação do meio ambiente. A ferramenta auxiliará a tomada de decisões de manejo e apoiará os gestores públicos no processo de planejamento, execução e monitoramento das ações", explica a pesquisadora Eugênia Batista.
Na sequência, o professor Fernando Silveira, pesquisador do ICB, discutirá os efeitos do fogo sobre a germinação de sementes. O professor José Eugênio Côrtes Figueira, também do ICB, abordará conceitos e estudos sobre a ecologia do fogo.
À tarde, Milton Barbosa, especialista em redes de interações ecológicas, discutirá a importância de considerar as relações estabelecidas entre as espécies no planejamento e monitoramento das ações de manejo. Em seguida, Ubirajara Oliveira, pesquisador do Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG, vai apresentar o modelo de espalhamento do fogo no Cerrado, que vem sendo desenvolvido pela equipe do professor Britaldo Soares, do IGC. Finalmente, Christian Berlinck, coordenador de prevenção e combate a incêndios do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), vai expor as metodologias e resultados parciais do manejo integrado do fogo em unidades de conservação federais.
Na sexta-feira, 23, o evento ocorre apenas na parte da manhã. Às 8h30, Heloisa Miranda, professora e pesquisadora da Universidade de Brasília, abordará os resultados de pesquisa de longa duração sobre o comportamento do fogo e seus efeitos sobre a flora do Cerrado.
As duas faces do fogo
O fogo tem moldado a evolução das plantas e ciclos biogeoquímicos globais por milhões de anos. No entanto, seu uso em atividades humanas tem alterado os padrões naturais de regimes de fogo no Cerrado e submetido a fauna e a flora a frequências e intensidades inéditas. Sem controle, o fogo pode atingir grandes áreas e se tornar extremamente difícil de ser combatido. Apesar dos gastos econômicos e do risco à vida, a queima da vegetação provoca o reinício do processo de regeneração natural, cujo ritmo varia entre as diferentes fisionomias do Cerrado.
Segundo Eugênia Batista, residente de pós-doutorado do Programa de Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Vida Selvagem do ICB, se a ignição ocorre no fim da estação seca, entre agosto e outubro, quando a temperatura é elevada e a umidade mais baixa, o fogo tende a ser mais intenso e severo, causando grandes prejuízos à biodiversidade. “Esse tipo de ocorrência provoca a morte de animais, seja diretamente, pelas chamas, ou indiretamente, pela intoxicação por fumaça, indisponibilidade de recursos e predação aumentada”, afirma ela.
Por outro lado, o fogo tem sido usado como ferramenta para controlar o acúmulo de biomassa. “Isso é possível porque, quando atinge uma área que foi manejada anteriormente, o fogo não encontra material disponível para queima e acaba se dissipando espontaneamente”, esclarece a pesquisadora. “Esse método é conhecido como queima prescrita e integra conjunto maior de ações que compõem o manejo integrado do fogo. Ao contrário do 'fogo ruim', as queimas prescritas são benéficas porque alcançam pequenas extensões e são de baixa intensidade e severidade. Isso possibilita a rápida regeneração da vegetação, retorno da fauna e recuperação das funções e processos ecossistêmicos”, distingue a pesquisadora.
De acordo com Eugênia Batista, o grupo do qual participa no ICB pretende agora desenvolver uma abordagem mais adaptativa e ecológica no manejo do fogo, "etapa que inclui a identificação das espécies potencialmente mais vulneráveis ao fogo para que seus limites de tolerância e demandas biológicas sejam devidamente considerados no planejamento de ações e monitoramento".
O LEEB é coordenado pelo professor Geraldo Wilson Fernandes, do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do ICB. O workshop é aberto ao público interessado, e as inscrições podem ser feitas por meio deste link. Os participantes receberão certificado. As atividades serão realizadas na sala 1012 da Escola de Engenharia da UFMG, a partir das 8h30.